Saturday, April 28, 2007

Já sou uma pessoa crescida!


Eu gosto particularmente de crescer.
No meu percurso pessoal, crescer, é muito simplesmente contrariar aquilo que anteriormente tomava como certo.
O que não deixa de ser interessante!
E provavelmente irónico.
Culpa das hormonas ou da previsível força da gravidade não fui homem para botar muito corpo, coisa que seria extremamente limitadora caso eu tivesse nascido nos tempos dos meus bisavós e passasse os meus dias na sempre saudável lida do campo, mas que nos dias que correm não me causa muito transtorno. Quer-se dizer, e agora vou cometer uma inconfidência, certo dia uma amiga minha no dia de ratear a beleza dos nossos colegas de curso presenteou-me com um honroso lugar no top 5, mas não sem antes acrescentar que se tivesse mais 10 cm em cima de mim passaria sem grande dificuldade para o segundo posto.
Adiante, admitindo a minha parca estrutura, em vez de crescer para cima ou para os lados interessou-me crescer cá dentro, nesse sempre moroso e interessante processo de desenvolvimento/descobrimento pessoal.
E se há verdade neste processo é que foi feito em grande parte de contradições.
Deixar na minha mudança de pele, uma grande parte das minhas convicções moralistas, por uma mais interessante capa de anarquismo de esquerda. Como ter cá dentro um Paulo Portas que se transforma em Miguel Portas, passe o exagero.
E se há coisa que aprendi, é que não aprendi coisa nenhuma, o certo é que me esqueci de grande parte das coisas que sabia para encarnar numa pessoa mais vazia de ideias, mas mais flexível na hora de agir e pensar.
Surpreende-me por isso as pessoas com escrúpulos. Daquele tipo de pessoas que opinam terrivelmente sobre as acções dos outros, classificando-as de acordo com a sua escala de valores, de modo a produzir uma hierarquia de conhecimentos e amigos.
Outro género de pessoas que me surpreende, são aquelas que por muito que lhes digam o contrário permanecem na sua linha de acção ignorando as consequências. Há que lhes dar valor por isso, permanecem geralmente na nossa ideia colectiva como seres orgulhosos e destemidos, destinados a grandes feitos. A mim provoca-me curiosidade a sua personalidade atípica e a total ausência de dúvida, acreditam piamente nas suas acções, tão piamente que não questionam, e muito menos duvidam que aquela era o melhor modo de agir. Nessas pessoas o caminho (o The Way) apenas se faz numa direcção, sempre em frente, inquestionável.
Outros vivem na dualidade entre personalidades opostas e contraditórias que subsistem lado a lado numa esquizofrenia de acção e personalidade. São os mais interessantes de todos, porque a sua liberdade reside nessa completa ou aparente ausência de lógica condutora, e sua flexibilidade é assombrosa, conseguem perfeitamente manipular uma escala de valores ou princípios de forma a enquadrar a sua acção. Geralmente terminam sendo também exemplares do que aqui foi escrito no parágrafo anterior, ou se forem muito esquizofrénicos, tendem a ser exemplares do primeiro tipo.
Eu já vi pessoas muito boas, e pessoas muito más. Para mim é que não eram boas nem más, porque já vi os primeiros a fazerem coisas muito más e os segundos fazerem coisas terrivelmente boas. O que não deixa de ser estranho. Paralelamente, como sou uma pessoa estranha, dou por mim a questionar incessantemente as minhas acções passadas, deve ter a ver com aquela coisa de eu já não ter muitas certezas ou certezas nenhumas. Outra coisa que tenho é que tendencialmente sou muito mais duro comigo mesmo do que com os outros. Deve ser por isso que tenho dúvidas, o que por outro lado me dá a certeza de ser um péssimo gestor, porque esses nunca têm dúvidas e raramente se enganam.
Deve ser por isso que eu gosto de crescer, continuo a pensar que quanto mais velho sou mais certezas inabaláveis terei.
O que é mesmo estranho é que se passa exactamente o oposto.
Por isso a minha certeza é que duvido que alguma vez tenha certezas.
Confusos?

Jazz


Sou um profundo admirador de jazz, atrai-me profundamente aquela anarquia de sons e o improviso e sobretudo a paixão com a qual os maiores intérpretes conseguem arrancar de um piano ou de um baixo uma melodia desgarrada mas que nos faz vibrar bem cá dentro.
O meu instrumento de eleição, é sem dúvida a bateria. Não sei se é por ter alguma coisa de primitivo ou tribal, mas aquele som compassado tem qualquer coisa de visceral. Não o consigo definir melhor do que a respiração do jazz, isto é estranho, mas se o jazz for de alguma forma orgânico, o piano pode ser o coração, o baixo o sistema muscular, o saxofone o sistema vestibular, e a bateria o sistema respiratório.
Tudo isso faz um corpo, mas eu sempre tive predilecção pela respiração :)

Das melhores memórias que tenho, e isso foi um sonho cumprido, foi de estar numa tarde soalheira de sol, deitado na relva em Paredes de Coura, a traçar uns cigarros e a limpar a adrenalina de uma noite com o Dj Kitten, a ouvir jazz magistralmente tocado. E daquele que eu mais gosto: improviso total e totalmente instrumental.
Ontem surpreendeu-me ver Nirvana, Jimmy Hendrix e Doors adaptados a jazz. Foi sem dúvida um experimentalismo arrojado, mas asseguro-vos que o resultado final é qualquer coisa de mágico. Trautear o Lithium com aqueles acordes, foi no mínimo refrescante.

Entretenimento para fim de semana, podem ver aqui um dos meus intérpretes favoritos.
E aqui uma das minhas músicas preferidas. Freddie Freeloader original (acho eu) de Miles Davis, interpretada por The Ike Leo Trio.

Wednesday, April 25, 2007

O Centro




Haverá talvez a possibilidade de existência de um ponto equidistante ao resto de mim, onde o equilíbrio se faça pelas imensas forças que me fazem gravitar, ao redor de conceitos, de palavras, imagens e memórias, de todo um mundo de trajectórias que pretendo alterar apenas com a minha presença.
Há essa possibilidade, como muitas mais, essa vontade férrea de não naufragar quando a tempestade levanta, por esperar por esse mar chão que às vezes aparece, quando nas praias apenas procuro a luz do dia à sombridão da noite.
Não tenho escuna ou galeão, não procuro âncora, ou um lastro possível, o certo é que me atrai mais a luz azul dos relâmpagos a um horizonte claro de esperança.
Não percebem, quando gravitam como planetas em meu redor, que o meu mundo equidistante é possível mas não provável, que não me construo de sorrisos nem me encho de ar, que a velocidade com que transito é o que me faz estar parado em frente deles.
Essa possibilidade existe, como existe um céu por cima de nós e um chão por baixo, e algures no meio as regras que me colocarão de cabeça para cima, existe quando o atravesso correndo, onde posso contemplar os pedaços esparsos de mim, ao alcance de uma mão que se animasse a agarrá-los.
Mas atravessando-o desconheço como parar, sempre com medo, sempre intuindo que uma nova equidistância ocorrerá por vontade dessa força cósmica que rearranja as peças todas do meu mundo, sem uma ordem que lhe seja possível.
Talvez porque o centro é esse ponto de equilíbrio que não procuro para não me conformar às coisas, às pessoas, aos momentos que me aparecem, a todo um conjunto de coisas que raspando a sua superfície de verniz se acham tão ou mais desconexas do que eu.
Dizia um dia que a nossa vida oscilava entre equilíbrios, entre estados de alma que procuramos contrariar procurando o oposto... saciávamos a nossa sede de vida nesse desiquilíbrio constante, fazendo da nossa vontade contrariar o que temos, procurando algo mais, ou algo menos, apenas algo que sonhamos ser melhor para não escutar esse derradeiro silêncio conformado.
Procurando o amor e tendo a paixão, procurando paixão e tendo o amor...

Fui à praia nestes dias de sol.
E tudo me pareceu desenquadrado, fosse pela hora, ou pela companhia, estive nesse sitio de areia grossa onde tantas vezes lancei questões para me serem devolvidas. Estive querendo estar do outro lado, olhando o mesmo oceano ou outro diferente, mas que fosse visto por outros olhos que não os meus, que fosse com outra alma que se banhasse naquele azul cristalino e visse o seu reflexo sem temer. As horas dos dias tiraram-lhe a profundidade do luar, mas aquele mar que continua a ser meu, não se importa com isso, não se importa com as coisas que deslizam na sua superfície de vidro.
Estava lá numa das raias de um ponto equidistante.
E só soube olhar para o outro lado.
Procurando um outro centro.
Que eu desconheço.

Monday, April 23, 2007

Milagreiro


Entrei a partir de hoje, nessa elite folclórica nacional denominada "os milagreiros".

Tenho um papel que me habilita a resolver dores de cabeça, enxaquecas e cefaleias, vertigens, náuseas e afins, apenas com o toque da minha mão...

Cool...


Aceitam-se vitimas, contactar a gerência.



P.S. eu que sou um céptico tive que me render à evidência, num segundo parecia que estava a bordo de uma traineira com mau tempo e no segundo seguinte trouxeram-me de volta a chão firme. Tudo isto com um grau I de Maitland (para quem não sabe pode ser definido como a pressão necessária para obrigar uma mosca que esteja debaixo do nosso dedo, a dobrar as pernas) na cervical.

P.P.S. e nunca mais me digam que os britânicos não têm sentido de humor, não me lembro de me rir tanto numa formação desde as aulas com a Mesquita ou o PC :)

Friday, April 20, 2007

Um Award


By um blog que é do outro mundo.

Thursday, April 19, 2007

Impressão...

A principal diferença entre democracia e ditadura é que na primeira podemos falar mal de quem manda mas não o podemos matar, quando na segunda é precisamente o oposto!

I'm going back to 505,
If its a 7 hour flight or a 45 minute drive,
In my imagination you're waiting lying on your side,
With your hands between your thighs,


Sempre gostei da primavera. E não sei porquê.
Não sei se isto parecerá demasiado estranho, mas para mim, a verdadeira primavera começa com o olfacto. À noite, sempre à noite, tenho por hábito traçar alguns no parapeito da minha janela, acompanhado pelo meu leitor de mp3, ocasionalmente por uma das minhas bebidas preferidas, e um pau de incenso a queimar vagaroso. Dá-se pouca importância a esse sentido, mas nesse parapeito, a melhor companhia que posso ter é mesmo a dos cheiros próprios de cada estação, e para ser sincero o meu relógio biológico rege-se muito por esses marcos importantes.
O cheiro da primavera é sempre o meu preferido, e recorda-me sobretudo de água e relva acabada de cortar, sabe-me extremamente bem por isso.

Sunday, April 15, 2007

A Saudade.


Disse-me certa pessoa, um dia, que a saudade era o pior sentimento que alguém poderia sentir, porque ao contrário dos outros é o único que cresce com a ausência.
E eu sinto saudades.
Como uma espécie de sentimento indefinido que mistura demasiadas coisas para poder atribuir a ausência a uma entidade concreta.
Acho que sobretudo, sinto saudades de mim mesmo. De uma certa imagem de mim que cristalizou no tempo e que é tão diferente daquilo que tenho agora que por vezes me surpreendo. Surpreende-me esta suspensão entre tempos, entre um passado e um presente que não me faz compreender totalmente como o primeiro existiu, ou foi sequer possível, e um segundo que em tudo contradiz o primeiro.
As pessoas são entidades muito especiais. Caminham constantemente no límite entre as suas fragilidades e uma crueldade muito própria. E basicamente caminhar é dar passos incertos, porque o futuro se trata sempre de um terreno que desbravamos a cada passo. Caminhar nesse limite, em que cada passo dado nos pode conduzir tanto para um lado como para o seu oposto, é, simplesmente, seguir as tentações que a cada instante nos aparecem: a sedução do poder, ou então, resistir por uma humana sensação de dignidade.
E é saber que cada passo dado numa direcção é sempre seguido por uma indicação no caminho oposto, que de algum modo, irá trazer alguma ordem a este caos, um equilibrio impossível.
Chamam-se de certo modo consequências. Aquele tipo de coisas que carregamos connosco muito depois das opções estarem tomadas, com a impressão que são o preço justo que pagamos. E provavelmente não deve haver coisa mais solitária que as consequências, cada um vive com as suas com a mais elementar noção de responsabilidade.
Dizem que sim.
O que não me impede de sentir saudades.
Uma espécie de redenção sarcástica das ditas "responsabilidades".
Porque afinal todos as temos, saudades e responsabilidades, tentando equilibrá-las mesmo quando se encontram no mesmo prato da balança. Cabe a cada um de nós colocar do outro lado aquilo que achar mais apropriado para contrapeso.
Eu escolhi colocar-me a mim, mas nunca disse que era inteligente ao ponto de fazer uma escolha certa. Muito mais quando sinto que cá dentro, tudo me faz levitar, tudo me puxa na direcção oposta à balança, vendo como perigosamente o pêndulo vem de encontro a mim.
A saudade é mesmo um sentimento fodido.
Haverá solução nesse equilibrio da balança, uma que eu não procuro. Talvez por preferir a saudade a um outro qualquer estado de alma que me anime a não sentir nada sequer. O eco ainda nos faz companhia mesmo com a gruta vazia.
Haverá talvez essa solução na força, na racionalidade impressa nesse kilo e duzentos que temos entre as orelhas, nos principios do prazer que afinal até é fácil e chega pela mão de qualquer desconhecid@.
Ya, quando colocar no quadro a giz a equação da minha vida de certeza, eu que até sou bom a matemática, que consigo descobrir a solução para X... Mas não prefiro continuar a juntar incógnitas, como quem junta moedas, tantas que se as juntar todas acabarei por formar a palavra saudade, ou a palavra consequência, ou outra qualquer que fale de mim, ou desta profunda vontade em fazer o que a razão desaconselha.
Ser louco por um dia não é uma maldição, é um privilégio tantas vezes usado para dar esse pequeno passo em direcção à crueldade pensando talvez que iludimos a consequente indicação em sentido oposto.
Um privilégio que nem a mim mesmo eu permito usar.
E desiludam-se aqueles que pensarem que é por escrúpulos que o não faço, mas sim por mim, mas sim pelo eco que ainda prefiro escutar ao silêncio total.
Como estes posts estúpidos que ainda insisto escrever depois de prometer que o não faria.
Tenho também saudades de cumprir promessas.
Mas sobretudo do que tenho saudades afinal, nem sequer é de mim, mas sim da pessoa que me disse um dia, que a saudade era mesmo o pior sentimento do mundo.

Friday, April 13, 2007

Passeio Nocturno


Já experimentaram sair à noite com a impressão da cidade ser só vossa?
Passarem nas ruas que conhecem do dia, sempre tão cheias de vida, de luz, despidas de tudo isso para se mostrarem completamente nuas?
Já escrevi sobre isso aqui, como sempre costumo fazer faço-o através de símbolos, essas pequenas chaves que bem utilizadas vão destrancando as portas do nosso labirinto até ao nosso interior. Faço-o quando digo que despidas da luz e da vida, as sombras brincam com a nossa percepção do espaço, sítios onde já passamos inúmeras vezes parecem-nos completamente desconhecidos pois vão ganhando uma profundidade muito maior com as sombras, por outro lado há algo que se escapa sempre pelo canto do olho, como se as ruas sem vida se enchessem de fantasmas (quantas vezes os nossos) que podemos pressentir se levarmos a alma aberta para isso.
Por outro lado parece que os prédios respiram pesadamente sobre nós. Mais uma vez, se formos preparados para isso conseguimos sentir subtilmente como a temperatura do ar varia consoante a casa que ladeia o nosso caminho se acha ou não habitada. Ou então são os cheiros, todo um manancial de odores que parecem contar a história daquelas paredes. É como se as casas quisessem falar connosco, quisessem que nós parassemos por um instante e se as conseguissemos escutar contariam as histórias que quem lá vive ou viveu.
Se é bonito? Não sei, de certa maneira é como o resto da nossa vida: complexa. Não se faz só de emoções e diálogos, faz-se sobretudo de paixão, da nossa paixão em vivê-la, em senti-la completamente, sem qualquer noção sobre o bem e o mal. Encontramos prostitutas, ressacados, traficantes, proxenetas e pederastas, homens do lixo, da Vamp e dos albergues, não é seguro, não é seguramente fácil, é até assustador, mas mesmo assim eu faço.
Porquê? Por ser louco sobretudo. E por querer falar com as casas, e comigo mesmo, e sentir uma liberdade inusitada, quase selvagem, como se toda a cidade fosse minha, e eu fosse dela.
Já o fiz nas diferentes cidades em que vivi (que são 4), mas nenhuma me encanta tanto como o Porto. É sujo, degradado, extremamente perigoso, repleto de "bichos" da noite mas tem uma personalidade como nenhuma cidade no mundo, e não o sei explicar de outro modo.
As noites fazem-me bem. Aclaram-me o pensamento e servem, muitas vezes, para virar a página na história da minha vida. Por vezes as memórias acompanham-me mas na maior parte das vezes caminho só.
De resto, caso se cruzem comigo uma noite, sou o que sou, um tipo que saiu aquela noite para um passeio solitário, aquele tipo de pessoas que vos obrigam a atravessar a rua com medo quando os avistam ao longe.

\Radiohead, Ok Computer

Thursday, April 12, 2007

Tribulations - LCD Soundsystem

Let's Dance!

Wednesday, April 11, 2007

Má Lingua


Pois bem.


Certo autarca, de certa localidade do interior, veio a público uns tempos atrás insurgir-se contra o elevado preço do gás natural praticado na sua localidade.


Argumentava ele, e seguramente arrancou alguns aplausos, que os custos da interioridade, somados ao menor rendimento dos seus concidadãos, elevada taxa de desemprego e poucos investimentos em geral, seriam razão de sobra para sustentar uma profunda indignação perante preços 40% acima da média nacional!


Acontece que eu sei onde este autarca mora...


Nessa terrinha do interior o gás natural vai chegando aos poucos graças à construção de raiz das infraestruturas. Para grande contentamento do autarca, recentemente a sua modesta casa foi beneficiada com este upgrade, que para além de lhe poupar as costas do carregamento das tradicionais bilhas, lhe reduziria a factura mensal (pensava o autarca). Mais se acrescenta que este upgrade foi completamente gratuíto, com os cumprimentos da Galp.


Mas não é que os lesvoetas (e aqui deixo homenagem a um grande blog aparentemente extinto), na hora da factura, carregam a conta do autarca com esses 40% de má fama?

Tá mal...

E o nosso modesto autarca modelo, sai de casa, dirige-se ao multibanco para pagar a conta dizendo impropérios a quem o queria ouvir, almoça rapidamente refilando com a esposa por esta ser responsável pela maior parte do gasto, e depois de vestir a sua melhor gravata dirige-se à conferência de imprensa que tinha marcado.


Este intrépido homem da luta, arrasa com o governo, a Galp e mais quem lhe aparecesse à frente bramindo a espada de homem do povo e o escudo da interioridade, em frente aos microfones dos mídia nacionais.


Agora, eu não sei nem arrisco, o porquê de o tal autarca ainda não ter agitado mais as águas, já que por fontes bem informadas sei que ele já recebeu segunda factura.

Talvez o senhor autarca, consciente da defesa dos seus eleitores, apaziguou a sua ira com uma substancial redução da mesma, pensando que o bónus chegaria para todos.


Fazer política não é isto mesmo?

Embrulha-se os interesses pessoais com uma indignação bem pública, arrefinfa-se com 2 ou 3 lugares comuns, ganha-se um votos e ó despois... bem ó despois, voltamos ao mesmo sr. autarca, não carregue com as bilhas que lhe faz mal, peça à menina do gás, e não se preocupe, a seguinte factura terá em conta a interioridade... pelo menos a da sua casa!


Escárnio & Maldizer...

Monday, April 09, 2007

Boomerang


Ehehe
A minha primeira participação na 7ª arte pela mão do grande argumentista\actor Tiago "Meireles"e o não menos grande "Roger".
O filme chama-se Boomerang, está absolutamente fantástico. Uma espécie de fusão entre Lynch, Tarantino, Fincher, claro está com as suas distâncias.
A minha participação saldou-se por uma mãozinha no argumento, e esta interpretação, aqui documentada, como actor.
Depois de ver o resultado final confesso que fiquei absolutamente fascinado com este mundo, parabéns ao Realizador, e a todos que colocaram este projecto de pé.
Muito fixe!
E mais importante do que isso, mais um sonho cumprido.
\Radiohead, Paranoid Android... ([Revolver])

Sunday, April 08, 2007

Momento Literário

"É evidente que, para sermos rigorosos, não se pode propriamente dizer que ia para a cama sem olhar a quem. Como é natural, ela lá devia ter os seus critérios.
Apesar disso, e analisando a questão por um ângulo realista, a verdade é que ela se mostrava disposta a ir para a cama com quase todos.
Uma única vez, por pura curiosidade, questionei-a acerca desses seus critérios.
-Bem, se queres mesmo saber.... começou ela. Entretanto passaram-se trinta segundos, e ela sempre a pensar na resposta.- Não se pode dizer que vá com qualquer um. No fundo, acho eu, tenho vontade de conhecer pessoas diferentes. Ou, então, talvez só assim o mundo passe a fazer sentido para mim.
-Indo para a cama com todos os homens que te aparecem à frente?
-A-hã.
Foi a minha vez de ficar pensativo.
-E diz-me uma coisa: isso ajudou-te por acaso a ver as coisas com mais clareza?
-Um bocadinho, sim- respondeu ela."

Haruki Murakami, A Wild Sheep Chase.

Friday, April 06, 2007

Caixa

Blame it on the black star...


Não é mais que um passo.
Uma última fronteira que ultrapassamos, com apenas um passo, sabendo que toda a nossa estranheza reside em todos os milhares de pequenos passos que nos levaram lá.
E parecia estranho esse destino, estranho nos momentos em que ainda andávamos despreocupados com ele, tão certos do que temos, tão cheios do que temos, tão reais como a caixa de madeira que seguras com as mãos, sabendo de cor todos os passos que levaram tu e ela, a estarem juntos naquela noite, mesmo desejando tu, estar num outro lado.
Quando a minha pele desliza alisando o seu interior não se fere nas farpas que dela escapam, ferem-se nas esquinas da memória, da memória que prende igualmente coisas e pessoas que lhe vão preencher o fundo.
Um dia, em que as fronteiras estavam longe, pensaste que nesta caixa não haveria espaço para todos os teus sonhos, que eles se escapariam entre as frestas e os espaços, que se acabariam por se impor inevitáveis. Agora que a fechas, surpreende-te que ainda vejas o seu fundo castanho, desejando por algo mais que o preencha.
O vazio que deixas nessa caixa entre folhas, entre coisas, entre fragmentos esparsos de uma vida que não voltará jamais ocupa-se de algo maior. E intuitivamente sabes que mais importante do que o que depositas é esse espaço entre coisas, esse universo infinito que se ocupa de um silêncio que procuras não ouvir com o volume no máximo, que se ocupa dessa alma indefinida que te abandona, desse outro eu que te olha, do outro lado do espelho, no fundo de uma caixa quase vazia.
Há quem diga que o silêncio não se ouve, pois aqui está ele gritando, a cada segundo.
Haverá quem diga que o fumo não se agarra, e ele aqui está desenhando as formas dos meus próprios fantasmas.
Há todo esse espaço, entre coisas vazias que se agarram às formas teimosas, teimosas como eu enquanto colo vagarosamente a tampa e as deixo repousar.
E não há quem me desminta que conversarão entre si, quando não olho. Serão as únicas que falarão de mim, quando não estiver...


\even in his youth, Nirvana the list is growing...

Wednesday, April 04, 2007

"Best Gift Ever"



Este é o momento de padrinho babado.

Recebi hoje, seguramente, uma das melhores prendas da minha vida.
Já aqui tinha deixado prova desse meu afilhadito pequerruxo pelo qual sou completamente louco. Não é que o pirralho me aparece aqui hoje com o ramo que aparece aqui em cima? Soube depois pela mãe que lhe tinham dito no infantário para dar aquele ramo à madrinha, ao que ele prontamente respondeu que não tinha madrinha mas que ía dar ao padrinho Daniel!
Inchei como um pavão, e foram pelo menos 3 os baldes de baba que tiveram que recolher!

No meio da minha vida merdosa, aparecem estas coisas que me deixam completamente vidrado, é que nem sei bem o que escrever...

\not usual, felling good, Arctic Monkeys "Mardy Bum"

Tuesday, April 03, 2007

Daniel's Twist

Novo momento culinário, a partir de agora será 1 por mês, o próximo vai ser uma sobremesa!

Cozinhar, para mim, é relaxante, divirto-me a preparar coisas e a inventar, poucas pessoas fazem ou apreciam mas na minha perspectiva preparar uma refeição a alguém, com todo o esmero e perfeição, pode ser das maiores provas de afecto que se pode ter.
Nem sempre tenho o tempo, ou os ingredientes que gostaria, mas nos meus bons dias encaro a cozinha como um espaço de descontracção e de improvisação, tenho para tal uma filosofia própria e a receita de hoje pode não ser muito original mas é sugestiva. Ah, e já agora, bom apetite!


Em primeiro lugar, comer alguma coisa não se resume a estimular o palato. Quanto a isso recordo-me de certa velhota, com quem aprendi muitas coisas, que me dizia apontando sugestivamente para o pescoço "daqui para baixo, é tudo merda!". Uma refeição deve ser "saboreada" com todos os sentidos, sendo que o paladar é muitas vezes o último. A cor, as texturas, o odor, e a consistência dos alimentos deve ser combinada de modo a produzir o maior efeito. Um bom exemplo, são as minhas saladas!

1. Começo por preparar uma base simples, que servirá para múltiplas combinações. A alface para mim é primordial, porque é fresca, tem uma consistência apropriada e uma cor viva que fica a matar. Depois de lavada costumo sobrepor várias folhas, sendo que a segunda terá a "raiz" disposta em sentido contrário à primeira, a terceira com o mesmo sentido que a primeira, e assim sucessivamente. Quando termino, enrolo as folhas de alface e vou cortando, a mesma coisa que faria com as couves do caldo verde mas um pouco mais grossas. E é só isto, basta colocá-las numa taça funda. Para não partir a alface convém que a faca esteja muito bem afiada, se não estiver vamos acabar por esmagar a alface e esta fica mole, o que não é muito agradável.

1.1. Combinações!

1.1.1. Tomate, é um clássico. Costumo cortá-lo em cubos pequeninos, fica mais agradável à vista e mistura-se bem com a alface. Mas é ácido, por isso costumo cortar essa acidez com quadradinhos de maças verdes, fica perfeito porque este é um fruto doce, sumarento e é "estaladiço" ou seja, não cede facilmente quando o trincamos, o que fica muito bem quando o tomate já está maduro e é um pouco mole. Outras combinações podem incluir passas, o que é menos interessante porque tem uma consistência esquisita e tornam a salada pastosa, apesar de ser um fruto muito oleoso e perfumado; milho doce, que eu detesto; ou uvas, são sumarentas mas também têm uma consistência esquisita.

1.1.2. Este é dos meus preferidos. Quadradinhos de laranja, porque é sumarenta e ácida, eu dou-me ao trabalho de tirar todas as "peles" e caroços mas dá muito trabalho; Uvas, descaroçadas e peladas, porque são sumarentas e doces; quadradinhos de melancia, mas mesmo da má, daquela que é só água e não é nada doce, porque do que eu gosto mesmo é de sentir a sua consistência "estaladiça" e uma explosão de água quando trincamos, porque dá aquela uma sensação de "frescura"; Manga ou Papaia, por serem exóticos e doces; cenoura ralada, eu acho que os raladores esmagam demasiado a cenoura, por isso dou-me ao trabalho de com uma faquinha afiada cortar tiras fininhas, sobretudo pela cor e consistência.

1.1.3. Mais para o Inverno. Couves de Bruxelas partidas a meio, porque têm um sabor estranho mas que se entranha; cenoura ralada, eu preciso de algo estaladiço pelo meio e a alface não me chega; passas, porque são doces, pastosas e muito perfumadas;

1.1.4. Inventem. Utilizo frequentemente e sugiro, pelos mesmos motivos, nozes, feijão verde, pimento assado, pickles, ovo cozido... se quiserem fazer uma salada para refeição e não dispensam proteínas animais podem utilizar atum, frango desfiado, whatever.

2. La pièce de resistance: condimentos.

2.1. Azeite. Virgem extra, de muito boa qualidade, praticamente o produto de azeitonas esmagadas e com nada de refinação. Só assim temos algo para acentuar os sabores sem os diluir, e muito importante, une os elementos, perfuma e dá um brilho especial realçando as cores, sobretudo quando utilizamos fruta.

2.2. Ervas aromáticas. É o que preferirem, mas a mim ninguém me tira a erva-doce, os orégãos, a pimenta, a noz-moscada, e para saladas mais refrescantes sobretudo no Verão hortelã-pimenta picada muito finamente.

2.3. Não utilizo vinagre nunca, porque tem um cheiro péssimo capaz de estragar qualquer salada. Quando utilizo legumes ou frutas ácidas não coloco nada, se achar que a salada está muito doce, acrescento umas gotas de limão.

NOTA: prepararem os condimentos à parte e só os coloquem na hora de servir, primeiro porque ninguém gosta de uma salada melada e segundo porque só assim garantem que o "tempero" é homogéneo.

Agora imaginem:

A cor verde da alface misturando-se com a cor vermelho viva do tomate, com o garrido das frutas.
O cheiro delicado do azeite, com o aroma ácido das laranjas, ou o adocicado das passas.
Sintam e ouçam a textura da melancia quebrar enquanto a trincam e a sentem explodir dentro da boca.

E por fim, e só no fim, é que o palato entra e saboreia!

Experimentem, sugiram e contem como foi!

Monday, April 02, 2007

Coldfinger - Cover Sleeve

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