Thursday, May 31, 2007

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TILT

Eu fui à feira

Hoje fui à feira do livro no Porto, e senti-me como uma criança numa loja de doces, com a vantagem de ninguém poder dizer que isso se deve a uma fixação oral.

Dixit

E já agora, discordo que aquilo se chame uma feira, onde é que estão os livros contrafeitos a 5 euros, humm?

Dixit

Wednesday, May 30, 2007

Big Brother


Isto é Orwelliano, mas vou tentar disfarçar com um pouco de serviço público.

Certas pessoas vieram parar aqui, pesquisando na internet pelas seguintes palavras-chave:

"the way daniel blog" - Parabéns! Veio ao sítio certo!

"o que é cartaz" - não sabe o que é um cartaz, mas sabe utilizar a internet... estranho não acham?

"ressaca de mentiras" - deve ser complicada, por isso é que eu prefiro a ressaca com um bom tinto alentejano.

"como usar bacardi" - provavelmente foi o mesmo que fez a pesquisa anterior, procurava algo mais leve, acabou por vir parar ao mesmo blog por razões que só o google conhece...

"10 coisas que odeio em ti" - eu a esta respondo: sou um cabrão egoísta e narcisista que disfarça uma insegurança gritante com a arrogância e prepotência própria de quem é fraco. Quantos são? Só 7? Idiota e Intransigente. E também tenho uma cicatriz na ponta do nariz de quando tive varicela. Parabéns, chegou ao sítio certo!

"dor no lado direito lombar quando respira" - a anatomia tem destas parvoíces. O pilar de inserção diafragmático do lado direito extende-se até L3, enquanto o do lado esquerdo só vai até ao L2, o que causa uma disfunção rotacional de L2 sobre L3 ou de L3 sobre L2 o que pode causar dor lombar quando se respira. Manipulação em L2, L3 controlada resolve o assunto num instante. Parabéns, chegou ao sítio certo!

"explique "esperança"de pandora" - eu gosto particularmente desta. Antes as pessoas tinham dúvidas e perguntavam aos padres, depois aos professores, aos psicólogos, etc. A maravilha da tecnologia é tanta que já permite perguntar directamente a um motor de busca. Ao acabar este post, vou googlar: diga-me qual é o sentido da vida. Quando aparecer o resultado, acendo uma vela em frente do pc e decoro com flores.

"há pessoas que nunca se enganam e raramente têm dúvidas" - eu não sou uma delas, lamento. Veio ao sítio errado. Em alternativa pode ir aqui. Aí chegou ao sítio certo.

"imagens de cobras giboias"- tenham medo, tenham muito medo. (eu tenho)...

"kilo de nozes custa 2007" - se as tivesse, vendia caro, porque sou uma pessoa sem escrúpulos. Veio ao sitio errado.

"mentiste" e "mentiste demais" - eu prometo que aqui só falo verdade. Veio ao sítio errado.

"musica andei e encontrei a minha outra parte alma gemea preferida amor alem da vida" - ai os românticos e as suas canções cheias de rima, reparou que eu não tinha esta letra quando viu o meu fundo negro? Se fosse cor de rosa ou fúcsia ainda vá que não vá, agora preto?? Já agora, como é que eu conheço a cor fúcsia, já dei em decorador de interiores, por acaso?

2 últimas para terminar, que se complementam, e que deixo por comentar, porque me deixam sem palavras de tão estranhas: mas quem é que veio aqui parar com isto?!

"peça amor daniel costa"
e
"o amor esteve aqui daniel costa"

Monday, May 28, 2007

Cronófago


"(...) o corpo quente, tornou-me o sangue frio (...)"

Quando o tempo pára falo com bustos de pedra.
Quando o tempo pára faço rodar uma bola de cristal na mão.
Quando o tempo pára acendo uma fogueira com as minhas próprias memórias onde deixo requentar num caldeirão o teu doce veneno.
Sabe-me melhor assim do que frio.
Quando o tempo pára finjo que o mundo me entra em polegadas, e martelam-me a cabeça constantemente enquanto é dia.
Quando o tempo pára encho-me de drogas e saio à rua para as vender às criancinhas.
Mas que culpa tiveram elas nesta história, mas por deus, que alguém nos salve dos loucos deste mundo e preserve o seu futuro, onde estão as mães, as mães conscienciosas a rezarem terços conscienciosos, ajoelhadas sobre os seus joelhos pisados, ajoelhadas sobre a madeira envernizada, onde estão os pais que trabalham ao sol, onde estão os pais e os seus ordenados, onde estão eles com os seus carros, onde estão.
Quando o tempo pára, eu saio à rua com 2 facas na mão.
Quando o tempo pára, eu saio à rua e deixo o coração em casa.
Mas meu deus, o desencanto, quem lhes tirou os sonhos e a esperança, quem lhes disse que o futuro não vai ser melhor, quem os encarcerou entre arranha-céus e lhes deu televisões por cabo, telemóveis, plasmas e cigarros, quem lhes vende as drogas e lhes trafica os pecados, quem faz deles criminosos?
Quando o tempo pára, há as horas de ponta.
Quando me vendem futuros, como casas rurais pedindo restauro, levam a sua comissão em sonhos e o presente em bocados.
Quando o tempo pára, quem me leva esta dor?
Peço para ser são e rodeiam-me de loucura, de bastos processos de indiferença, de despudores preconceituosos, porque são pretos, porque são gays, porque são brancos, europeus e decadentes, porque são americanos em armaduras e cavalos brancos.
Quando peço para ser são e rodeiam-me de loucura, de dragões e indiferenças, de pecados e indiferenças, de virtudes e indiferenças, e deixam-me envelhecer porque me dizem que os valores que eu defendo já definharam e eu não dei conta, porque o normal me surpreende, porque o meu corpo é distónico.
Quando o tempo pára, vedo o meu corpo ao desconforto.
E adormeço no meu quarto embalando a indiferença.
Os meus heróis morreram quando eu era novo e os de agora são fantasmas que ninguém reconhece, que ninguém descobre na multidão uniforme como a merda de um tapete de relva de cor verde enjoativa que se contorce e balança sem se importar para que lado pende, desde que penda para o mesmo lado.
Quando o tempo pára, trazem-me vinho e uma mulher.
Uma mulher que se oferece e não compreende que não pode ter ambos, corpo e alma por eu ser um só, ou uma mulher que eu não compreendo porque não sei olhar para baixo nem para cima, tragam-me antes o vinho antes que azede.
Porque quando o tempo pára...
O tempo pára.
Pára!

Wednesday, May 23, 2007

Meme

A autora deste excelente blog, que tenho com orgulho na minha lista de leituras diárias, desafiou-me para escrever um meme.
Honra lhe seja feita, o certo é que o meme que ela escreveu resultou num texto delicioso que me fez voltar aos meus tempos de infância.
Não sei se me atrevo a tanto, mas o certo é que este desafio proporcionou-me um mergulho muito interessante nos meus próprios paraísos naturais, coisa que desde já aproveito para agradecer. Não sei igualmente se estarei à altura mas aqui vai:


Paraísos naturais.

Nasci há 23 anos, nesse extremo do mundo que chamaram atrás dos montes.
Antes de saber ler já me tinha apaixonado por um paraíso muito particular. Ao contrário do geral, o meu paraíso estava encerrado em muros de granito. Se lhe faltavam anjos e harpas, abundavam o silvedo e as gestas. Se o maná não me caía do céu nascia-me certo no topo da figueira que escalava e sabiam-me a mel os figos que lá colhia requentados pelo sol.
Depois de saber ler quiseram-me encantar com contos tradicionais, não daqueles que contam os irmãos Grimm mas aqueles que me sabiam a granito e a seiva por serem tão nossos. Mais tarde quiseram-me encantar com Miguel Torga, esse enorme homem e escritor cuja única coisa que o excedeu em vida foi a terra que o viu nascer.
Mas nada disso me bastou.
Na terra dos meus antepassados, certo lugarejo perdido nos montes que mesmo nos tempos mais áureos não excedeu a centena de habitantes, há certa casa em ruínas que eu esvaziei do que valia com as minhas próprias mãos. É certamente uma casa rude feita de enormes blocos de granito e pranchas de carvalho. O seu parco recheio, pelo contrário, de rude nada tinha. Um dos meus antepassados, homem habilidoso com as madeiras, esculpiu cada móvel com as mãos, e cada um, melhor do que o outro, carrega um empenho muito próprio em embelezar e curvar as linhas de um mundo que de todo se completa em arestas.
Decerto particularidades desse homem, rude como a terra que o viu nascer, com a 4ª classe, mas que, como poucos, possuía um espírito livre como o céu que parece tão longe aqui, como eu não vi em mais nenhum sítio.
Voltava ele de Chaves, pela tardinha, encontra já próximo da povoação um seu vizinho, que sabendo-o pai de gémeos pouco tempo atrás intuiu a razão da sua viagem:
-olá vizinho, vem de registar os raparigos?
-sim vizinho.
-atão que nome lhes botou?
-bem, ia eu descendo a corga, o sol estava a nascer com aquela aurora, e eu só me lembrava da luz do senhor jesus cristo nosso perpétuo socorro, e vai daí a mais moça vai-se chamar de Perpétua.

E foi assim que tenho uma avó chamada Perpétua. Do rapaz, seu gémeo falso, não vale a pena dizer seu nome por respeito aos mortos, no Inverno a seguir ao nascimento de ambos, pelo frio que aqui abunda ou pelos agasalhos na altura escassos, adoeceram os dois a tal ponto que o Paizinho, perdendo a fé que lhe restava da inútil visita ao médico, encomenda os caixões e entrando com eles em casa, apenas acha um corpo para lá pôr, pois a Perpétua, fazendo jus à inspiração do seu nome, arrebitou e ainda por cá anda, oxalá por muitos anos.
Muito antes de haver Perpétua, o Paizinho andou pela Flandres a matar alemães em nome duma pátria que nesse tempo, como hoje, se revela ingrata e distante. Companheiro foi do Milhões, certo soldado afamado, do qual se conta que fez razia entre as linhas inimigas, agachado atrás de um animal morto agarrado à sua metralhadora ganhando com isso a morte e uma medalha.
Sobre ele dizia o Paizinho aos serões, que o que lhe sobrava não era coragem mas sim falta de inteligência, pois enquanto os companheiros retiravam face à esmagadora superioridade adversária, ficou lá ele a distribuir metralha.
Ele teve mais sorte, depois de disparar a sua conta de balas, foi feito prisioneiro pelos Alemães. Da frente da batalha foi transferido para Bruxelas e daí, abreviando etapas, para a Polónia. Quase um ano volvido sobre o fim da I grande guerra, conseguiu passagem para Helsínquia, e dali para Lisboa, fazendo-se passar por Italiano, pois já perdera esperanças (e não valia a pena mesmo tê-las) que o governo Português se dignasse a pagar o seu resgate e regresso.
No campo de prisioneiros Polaco, escapou à fome e à pestilência, graças não a mantimentos portugueses mas sim à sua habilidade como carpinteiro. Certo abastado homem Polaco, querendo fazer umas portas carrais para a sua casa e na falta de homens válidos, desloca-se ao campo para requisitar alguém. Ficou o Paizinho, e tanta mestria mostrou que lá ficou quase até ao final da guerra, fazendo móveis para esse homem, e matando a fome na sua despensa.
Um dos que fez cá, carreguei-o eu, com as minhas mãos. Curioso como sou, abri uma das suas gavetas, que já não era aberta aos anos, para lá encontrar duas ampolas onde se lia num autocolante amarelecido "Padutina-Depósito 40 U. Biol." e "Dissolvente de Padutina" ambas da Bayer. Depois de misturadas, destinavam-se a ser injectadas não pela mão de uma enfermeira, mas sim de uma senhora que, frustrado o seu sonho de estudar para ser uma verdadeira enfermeira, aprendia por tentativa e erro nas vítimas que lhe apareciam, e que não eram assim tão poucas, pois o hospital mais perto distava quase 30 km e não havia paciência para lá ir e voltar todos os dias.
A propósito essa senhora chama-se Perpétua.
Vários anos passaram e um descendente desses indivíduos anda por cá a aprender em livros o que os outros aprenderam fazendo, ou repetindo os passos que os outros fizeram em guerra, e que agora os deu em paz, para aprender a dar vida em cardiologia e cuidados intensivos. Será que eles sonhavam com isso?
E porque no meu corpo também corre sangue minhoto, recordo-me da primeira vez que comi papas de sarrabulho debaixo de uma latada. A minha avó estava presente, que a deusa a tenha, com um coração tão grande (tão grande que até lhe falhou) a acolher-nos a todos no seu regaço. Foi aí que eu vi pela primeira vez o milagre da multiplicação. E não foi de pão, porque há fomes piores que a do pão e eu que já vivi ambas o sei, mas sim de amor. Vi como ela dividia o que tinha entre todos e este nunca ficou menor, e que a memória não me falhe quando digo que não vi nenhum de nós reclamar por ter um pedaço menor.
Paraíso natural.
Há-os de várias formas talvez.
Como os marcos de granito que marcam as extremas do corgo. Para quem não conhece, dirá que aquilo tudo é mato. Eu vejo rastos de javalis pelo meio e sei onde ficam os carvalhos e aquela rocha que parece um ventre prenho.
E carrego-o dentro de mim.
E não carrego só um, carrego todo um mundo de paraísos e sonhos dos que já ficaram e dos que ainda estão por vir.
E não me preocupa passá-los, porque quando morrer, eles vão voltar para o sítio de onde vieram.
Se me encantam estas paisagens agrestes, este granito, esta poeira e estes rios, é porque me vejo neles, e sei que um dia também eu farei parte deste mundo. Porque por mais mundo que veja apenas a isto eu sei chamar lar.
Como outros atrás de mim.
E eu carrego os seus sonhos, como blocos de granito, ou os seus paraísos como rios onde outros saciam a sede.
É este o meu paraíso, e para mim é natural.


"Avistei minha querida terra
Quando cheguei ao barracão
E me alembrou que ia para a guérra
Como ficou meu coração

Que lhe estava dizendo adeus
Se cálha para nunca mais
E já contava de ir para à guérra
E sem me espedir de meus pais

Deixar pái e mãe e mânos
Tôda a familia a chorár
E assim partir para a guérra
Para morrêr ou matar

Digote adeus térra querida se te não
Tórno a ver infeliz sorte será a minha
Mas se te tórno a ver
Chorarei de alegria"

Excerto do livro "Recordações da Grande Guerra" escrito por António dos Santos Pereira, meu Bisavô nascido no lugar da Amoinha Nova, freguesia de S. Thiago de Alhariz.


P.S.- Tudo o que aqui foi escrito é verídico. Subverti intencionalmente o conceito de meme, o que transmito são ideias veiculadas através de um texto da minha autoria.


Passo o meme (aka batata quente) para:

Astolfo
Roger
Morgaine

Friday, May 18, 2007

Daniel's Twist


Nova receita, desta vez uma sobremesa.
Graças às minhas características anárquicas confesso que fazer bolos não é a minha especialidade, tenho uma tendência natural para errar as medidas, por isso esta sobremesa é das poucas que me sai bem... pudera, as medidas são pré formatadas!

Mousse de Morango

Ingredientes:

1 lata de leite condensado;
3 iogurtes naturais;
500 gramas de morangos (esta nem eu acredito...);
6 folhas de gelatina pequenas.

Confecção:

Mistura-se o leite condensado com os iogurtes envolvendo bem. Eu prefiro envolver com uma espátula, desta maneira asseguro que a mouse fica cremosa, se batesse ficava mais esponjosa, por isso fica ao critério de cada um, como preferirem, esponjosa ou cremosa.
Com uma varinha mágica desfaço os morangos previamente lavados. Esqueçam a medida das 500 gramas, ponham a gosto. E não insistam muito, é só uma pequena passagem com a varinha mágica, para quando comerem a mousse encontrarem pedacinhos de morango lá no meio.
Envolvam os morangos com o resto dos ingredientes.
Coloquem as folhas de gelatina em água fria para amolecerem durante uns 10 minutos. Retirem e dissolvam em água muito quente (2 dl). Juntem ao que tinham feito anteriormente, envolvam bem e tenham o cuidado de verificar que se encontra muito bem dissolvida.
Coloquem numa taça funda, levem ao frigorífico durante 1h30 a 2h e está pronto.

Agora, experimentem e contem como foi!


P.S. a receita deste mês é complicadíssima, por isso sejam preguiçosos, imprimam uma cópia e levem às vossas mães para elas experimentarem...

Tuesday, May 15, 2007

A elegia

Debaixo das minhas mãos
Eu dei-te vida
Debaixo das minhas mãos
O teu sangue
Todos os teus tecidos pulsantes
Toda a tua alma síncrona

Atrás das minhas mãos
Toda a vontade e força
Atrás das minhas mãos
Eu pedia
O meu melhor
Para ti

E agora que regressas como amor
Espalhado em cada coração fértil
Como chuva sobre uma terra árida
Sabe,
Que se eu não te soube dar vida
Dou-te um raio de sol
E o meu calor
Até ao fim dos meus dias
Se eu não te soube dar vida
Soube abrir-te as portas do céu
E derramar sobre ti,
Uma singela oração...


Dedicado a Sra C.

Monday, May 14, 2007

dizia-lhe ele


...e aquele vidro reflectia toda a sua fome.
É a decadência, dizia-lhe ele mascando uma pastilha elástica de morango, ela está lá nas espirais de aço e nos pilares de cimento, dizia-lhe ele batendo o pé compassadamente no chão, ela está lá à tua espera no sítio do costume.
E o que ele via da sua janela era apenas um tapete verde e uma árvore despida.
É o pecado, dizia-lhe ele olhando o céu à procura de um deus impossível, é o que encontras nessa cadeira de plástico e na chávena de café, dizia-lhe ele com sombras nos seus olhos, é um pecado essa contemplação e qualquer tipo de desejo o teu corpo está sujo.
E despido no banho encostava a cabeça à parede deixando a água morna escorrer pelas suas costas, o seu olhar fixo no ralo via essa cor púrpura do seu sangue misturar-se com a água e escorrer por aquele cano como a sua vida escorria nas ruas daquela cidade.
É o ócio, dizia-lhe ele folheando o jornal, o ócio pariu todas as desvirtudes, dizia-lhe ele lambendo o dedo para melhor folhear o jornal, é o ócio o veneno dos cosmopolitas que lhes vai trazer a ruína.
E detinha-se no computador, cigarro atrás de cigarro, perante um cursor que piscava e que lhe indicava que mais um segundo tinha passado e que tinha menos um segundo para viver.
É a corrupção moral que grassa, dizia-lhe ele encostado a um muro, vendemos os nossos valores no mercado, dizia-lhe ele enquanto puxava de um lenço e arrancava um sonoro e verde escarro de dentro do peito, e com o dinheiro que nos pagaram construímos centros comerciais e esplanadas.
E atirava as beatas que lhe sobravam para o outro lado do quarto fazendo pontaria a um copo de martini vazio que conservava rançoso um quarto de uma fatia de limão, um após outro, um atrás do outro.
Já esqueceram o passado, dizia-lhe ele apressando o passo, enterraram-no como a coisa velha que era na areia do tempo, dizia-lhe ele tropeçando, já esqueceram o que lhes ensinou e condenam-se assim a repetir os mesmos erros.
E regava as plantas regularmente, comia a horas certas e fodia ocasionalmente, comprou um carro, um serviço de pratos e dois pares de gravatas, não perdia uma novela, pagava os impostos e o seu dealer consciencioso nunca o enganou numa dose.
É o final da nossa raça, dizia-lhe ele cambaleando, daqui a 1 ano ninguém se lembrará de nós, dizia-lhe ele cuspindo sangue, é o nosso final...
E lambeu a mortalha daquele paiva, tirando a bala que tinha guardado no bolso.
Encontraram os dois no dia a seguir.

Wednesday, May 09, 2007

Red Shoes


"And do me a favour, and ask if you need some help!"
Ask me a favour, Arctic Monkeys

"Let's go down, down, low down
Where I know I should not go
Oh and she thinks she's the one
But she's just one in 24
And just 'cause everybody's doin' it
Does that mean that I can, too?"
No Buses, Arctic Monkeys

Estás no meio da pista e danças como se não houvesse amanhã.
Menina bonita! Com todo o Glamour da tua maquilhagem cara e da tua roupa de marca. Adoro como agarras o cigarro na ponta dos teus dedos compridos, quase tão glacial como os olhares que lanças aos homens que gravitam em teu redor.
Planetas escuros esses, e tu podes ser o seu sol, gravitas sem lhe lançares um pouco do teu brilho.
Medes o sucesso da tua vida pelo comprimento das tuas pernas, ou pelo volume dos teus seios que um soutien acolchoado projecta para a frente como 2 montanhas perfeitas?
Ou é o dinheiro que compõe o teu sucesso?
Vejo como bebericas a tua bebida exótica fazendo um biquinho com os lábios, tão sensuais, também seguram assim um pénis quando lhe fazes um broche?
Isso, agora esquece que há todo um mundo cá fora, quando fechas os olhos e a tua música preferida passa!
As tuas ideias redondas, curvilíneas como as tuas linhas perfeitas, são sedutoras, até para o sucesso.
Mas eu estava lá quando saíste de casa, ias para a grande cidade com a fome de sucesso. Estava lá quando calçavas os teus sapatos comprados na feira e troçavas de quem ficava para trás.
Quando chegaste também eu estava lá e sorria contigo das luzes de néon da grande cidade, que fizeram da tua noite o teu dia.
A bagagem era pouca, mas não as tuas ideias.
Agora conheces o mundo e tens o contrário, um armário cheio de roupas e uma cabeça vazia. Cada ideia apagava-se com cada luz que se acendia nos quartos de hotel que conhecias.
A tua vista ultrapassou os montes, mas ao contrário de abrir a tua mente, apenas contribuiu para abrir as tuas pernas.
Olha! A luz da ribalta é toda tua como sonhaste, goza os teus minutos de fama!


Mas dás-te conta, que nunca estiveste tão só?

Amanhã

Já não tenho forças.

Também não tenho esperança nenhuma.

Não espero que este dia seja melhor que o anterior.

Tenho algumas ideias que se destacam.

Uma em especial, por entre outras.

Desisti de lutar.

Definitivamente.

E o que resta é uma enorme indiferença.

Como a angústia perante uma folha em branco.

Amanhã, não vou acordar.

E não me importo com isso.

Monday, May 07, 2007

6 queimas depois, e com muitos neurónios a menos, acho que aquilo já não é coisa para mim.

Devia estar aqui numa de balanços e expectativas, ou então a surpreender-me como a 6ª repete um certo ritual meu muito especial, mas que se foda, são 5h da manhã.

E histórias também tenho muitas, continuo a dizer que aquilo é um mundo à parte onde se passam coisas muito estranhas, mas também não me apetece contá-las. Ficam para mim e para os sortudos que as viveram comigo.

E também diz que é do tempo, cada coisa tem o seu e não há que lhes dar muitas voltas.


Foda-se tenho anos como shots, uns quantos a mais...
Mas diz que aquilo só é divertido quando começa a levantar-se o nevoeiro.


E este blog está cada vez mais intelectual, começo a compreender quando no mesmo post escrevo 3 vezes foda-se.


\me on arctic monkeys, licor de figo, blablablablabalalallalaalalallaaaa...

Saturday, May 05, 2007

Classificados



Procura-se interlocutor para diálogo.


O aplicante deverá demonstrar que possui vocabulário vasto e coerência gramatical bastante para manter um discurso compreensivel.
Pede-se ainda ao aplicante que demontre possuir opiniões, convicções, ideias ou qualquer outro tipo de conceitos que lhe permitam sustentar uma posição, representar o contraditório, ou iniciar um tema de debate que não inclua futebol, tempo, saúde, família, impostos, licenciatura em engenharias e transportes colectivos.
Dá-se preferência aos aplicantes que demonstrem habilidade para não cair na área cinzenta das suas opiniões.
Todos os aplicantes que recorrerem a frases feitas, citações, e súmulas serão excluídos do concurso. Tal inclui, mas não se resume a, expressões como "tudo é relativo", "isso é muito complicado", "não há bem ou mal", "nunca pensei muito nisso", "concordo com o que disseres".

No âmbito da nossa responsabilidade social, dar-se-á preferência a aplicantes que possuírem uma notória deficiência física que os impeça do gesto de encolher os ombros.

Oferece-se debate apaixonado e razoável, mutabilidade de opinião com base no convencimento, horas de distracção, enriquecimento pessoal, interesse genuíno, um café e uma água com gás.

A Gerência


P.S. Por imperativo legal, os anúncios aqui colocados destinam-se a aplicantes de todos os sexos, religiões, cores, credos, opções sexuais e clubes.


Nota: notaram o estrangeirismo no "aplicante"? Intercionalizem-se people, internacionalizem-se como a socialista!

Wednesday, May 02, 2007

Thinking Blogger Award


Isto já devia ter sido feito à mais tempo.

Felizmente para mim, um excelente blog, e merecedor justo desta nomeação, acabou por dar o empurrão final nas minhas decisões.

Isto porque me senti tentado a nomear um desses blogues que estão mesmo à mão, aí do lado direito. Era mais fácil, afinal são as minhas escolhas pessoais e cada um deles representa para mim um vencedor antecipado deste prémio. Porque "se estão nos meus links é precisamente porque são os meus favoritos" as simple as that (perdoa o plágio Morgaine).

Mas não o vou fazer. Resolvi "distinguir" com esta nomeação blogues que:

1. não tem a menor ideia que eu os visito;
2. nunca comentei;
3. não vão perceber que foram nomeados por mim;
4. estão nos meus favoritos mas não os incluo no meu blog.

Estes são os que me fazem pensar:

Sou Burro - por Asno, Roque e Pita. É simplesmente um sorriso numa linha. "80% dos portugueses são burros, os restantes não têm tempo para a internet"

As Coisas Pelo Nome - por Lia Bettencourt Gesta. Uma da melhor escrita que já li, tem um pouco de tudo sentimento, originalidade, intensidade. Cada texto atinge profundamente o meu pequeno mundo. Uma ode à humanidade. A triologia Impromptus é qualquer coisa de muito especial.

Memórias do Cárcere - por Zé "Prisas" Amaral. Uma outra perspectiva do mundo e de Portugal. o "sol aos quadradinhos" tem o condão de tornar as coisas mais lúcidas. Um excelente escritor. "ninguém nasce com cadastro"

Professor Certinho - por Naked Sniper. Tem um pouco de tudo, mas tem sobretudo uma excelente atitude perante as coisas e a vida, e um excelente sentido de humor... podia era falar menos do Sporting. "um bocado safado, bastante mentiroso mas, tirando isso (...)"

Palavras Sensuais - por Charmoso. Um insight sobre a mente da maioria dos homens. Despretencioso e actual. Para maiores de 18 anos. "a vida real de um palerma casado e as suas aventuras extraconjugais"



Aos blogues que têm link no meu The Way, saibam que se este é o espaço dos intantâneos do meu percurso pessoal, vocês todos são caminhos que se cruzam com o meu. A eles não dou distinções, apenas esta intersecção.


P.S. gostaria de começar aqui um abaixo assinado contra os ditadores no mundo dos blogues. Não satisfeitos com a nossa visita, ainda fazem o favor de seleccionar a banda sonora com a qual devemos disfrutar dos seu devaneios. Eu gosto de seleccionar o que ouço e o que leio, sem ter que comer com as vossas preferências pessoais. É um pouco incómodo estar a ouvir Massive Attack sobreposto a qualquer outra coisa, por exemplo. Obrigado. DC o primeiro subscritor.

Tuesday, May 01, 2007

O Orgulho



LOW

STREET

SIDE

WALK

SEQUENCE SEQUENCE

WALK

SIDE

STREET

LOW



[...ENTERTAINMENT]


Nota: foto cover do filme Irréversible de Gaspar Noé.