Saturday, July 29, 2006

Gotan Project


"Confianzas"

by Juan Gelman






"Confianzas

se sienta a la mesa y escribe
«con este poema no tomarás el poder» dice
«con estos versos no harás la Revolución» dice
«ni con miles de versos harás la Revolución» dice

y más: esos versos no han de servirle para
que peones maestros hacheros vivan mejor
coman mejor o él mismo coma viva mejor
ni para enamorar a una le servirán

no ganará plata con ellos
no entrará al cine gratis con ellos
no le darán ropa por ellos
no conseguirá tabaco o vino por ellos

ni papagayos ni bufandas ni barcos
ni toros ni paraguas conseguirá por ellos
si por ellos fuera a la lluvia lo mojará
no alcanzará perdón o gracia por ellos

«con este poema no tomarás el poder» dice
«con estos versos no harás la Revolución» dice
«ni con miles de versos harás la Revolución» dice
se sienta a la mesa y escribe"

Wednesday, July 26, 2006

Stain


"the better day I ever had was when I've learned to cry on command"

1964

Mata-me um pouco mais, era tão bom ficar, o certo é que eu já não sei quem eu sou...
Eu não sei se vou ficar, se vou partir...

Olá.
Não sei.
Não tenho razões.
... is another word that rymes with shame...
yes I can do anything.
Não sei.
Isso não chega a ser uma ideia, nem um argumento.
Não posso explicar.
Não, é claro que não me conformo.
Memories are meant to fade...
A justiça custa, por vezes tarda, mas nunca falha.
A culpa?
Minha.
Não nunca duvidei que fosse minha, apenas não sei ser superior a ela.
Your time has come...
Está tudo como deveria estar, não há qualquer razão para me importar com o sitio onde me encontro.
Não, não sou capaz... há coisas que perdem a magia quando se explicam, há coisas que acontecem e sabemos que existem porque as vivemos não porque as explicamos.
Não me custou, custa-me mais quando minto e acredita que o fiz muitas vezes.
we broke our mirrors...
Finding Uranium on Neptune...
Não, sempre tiveste razão, não consigo libertar-me ou crescer, provavelmente para evitar a dor que isso me causaria...
Sim, o passado pesa-me.
You are in high school again...
Não sei.
Mas fiz desta vida um tributo a mim mesmo apenas para ter um sitio para onde voltar, depois de todas as tragédias.
Não, seguramente já nada espero.
Nada é mais ou menos especial do que o habitual, nada supera o trivial, a ilusão baralha por vezes.
Não.
Sou apenas um tipo qualquer, como qualquer um, e não, não vou ser capaz de correr os 100 metros em menos de 10 segundos por muito que coloque o coração nestes pés e faça dele o meu turbo especial.
The eagle has landed...
Há cartazes nesta rua que me magoam.
E o pior são as noites, nunca pensei ser capaz de sobreviver a mais uma, nunca pensei que no dia a seguir amanheceria...
Não sei.
Mas sei que não sou diferente do que a maioria apenas porque a vida é a minha.
Não.
Não se perde a esperança, mas há coisas pelas quais não vale a pena lutar.
Não, não é uma questão de esperança essa, é apenas uma outra questão.
A resposta é simples: a esperança é feita à medida do que descobrimos sobre nós mesmos.
Há níveis de existência toleráveis.
Distilling the life that's inside of me...
Your time as come...
Tenho de ir.
Sim.
Imenso.
Não sei...
Somethings weren't meant to be.
Tudo está como deveria.
Eu não me importo.
Sim, mais do que imaginas.
Não, apenas isso, sem mais.
Tudo está como deveria.

Saturday, July 22, 2006

It's evolution baby


Odeio-te porque não tens a mesma cor de pele do que eu, porque o teu deus é diferente do meu, porque o teu jardim fica ao lado do meu.
Vou-te matar porque tenho inveja de ti, porque quero o teu dinheiro, a tua terra, a tua água, a tua mulher.
Vou matar os teus filhos para que não se possam vingar de mim.
Vou matar crianças porque atiram pedras a tanques porque lhes ensinaram a odiar em vez de brincar.
Vou carregar no botão e fazer-me explodir porque te odeio assim como és.
Vou matar-te porque quero a terra onde habitas, para roubar as tuas vacas, o teu celeiro e o teu poço.

E uma bala sai de um canhão de uma arma e vai matar o teu filho de 7 anos, e tu vais pegar noutra arma e matar uma mulher que ia comprar fruta para o seu filho no mercado local.
Nas notícias dirão que é violência racial e religiosa.
E colocar-te-ão etiqueta para que faças parte das estatísticas do ódio.
Eu sou mais forte do que tu, porque tenho homens e armas, e tu não tens nada, vou arrasar a tua cidade, para que vivas sem luz, sem água, sem as pessoas que amas.
Eu sou mais fraco que tu e resisto através do ódio que te tenho, porque vais a uma igreja adorar um deus diferente do meu, porque queres a terra onde vivo, porque não me deixas trabalhar para dar de comer aos meus filhos.

Vou espalhar a morte entre vocês, porque entre nós a morte está presente em cada dia, e serve-se através da fome, da cólera e de balas mais ou menos perdidas.
E no teu mundo abastado falas de globalização... e eu só vejo que vens buscar à minha terra o ouro, os metais, o petróleo, e deixas alguns milionários que imigram, porque não querem viver numa terra onde existam crianças que não tem força para enxotar os insectos que as picam, porque já se esqueceram da ultima refeição que tomaram, e nunca na sua vida terão uma bola com que fazer de conta que são uma estrela mundial.
Globalização de recursos, regionalização de proveitos.

Vou cravejar os campos de minas, para arrancar os membros e ceifar vidas daqueles que irão plantar esses campos para matar a fome quando em todo o lado se falar de paz.
Vou dar armas a crianças e ensiná-las a matar sem que elas aprendam a ler, a somar, a subtrair...
Vou subir ao púlpito e declamar o meu ódio visceral, para uma plateia cega que irá aplaudir, as mãos que agora se abrem estendidas, que chocam num aplauso frenético, são as mesmas que irão pegar nas tochas e incendiar o rastilho da guerra.
Vou-me vestir de branco e dizer que sou melhor que o meu semelhante, e arrastar-te pela lama porque a tua pele é diferente da minha... vou quebrar os teus ossos, violar a tua mulher, matar os teus filhos e serás o ultimo a morrer.
Vou mandar o meu filho embarcar num avião, fazer com que voe 300 milhas, carregar num botão e ver nascer um dia em plena noite, qual bola de fogo que incendeia mulheres, crianças, velhos, culpados e inocentes, indiferente.

Não somos loucos pelo que fazemos, somos loucos pelo que ignoramos.

lindo! :)

Thursday, July 20, 2006

Elogio do Amor


Permitam-me que coloque um texto que não é da minha autoria.


"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas.Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e é mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banançides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra.O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina.O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessýria. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.O amor é uma coisa, a vida é outra.A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.Não se pode ceder. Não se pode resistir.A vida é uma coisa, o amor é outra.A vida dura a Vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso in Expresso

Wednesday, July 19, 2006

Lusofonias...

Yo soy Portugués, con mucho gusto por supuesto!

Eu não percebo, mas haja quem me explique alguns simples factos da vida corriqueira Portuguesa...

1- Os professores portugueses são por demais maquiavélicos pois só assim se explica que os pobres alunos, por muito que estudem, tem sempre o azar de no exame sair a única matéria que não estudaram... veja-se os recentes exames nacionais, em que numa entrevista vários alunos se queixaram das pestanas que queimaram a estudar precisamente a matéria que não saíu no exame. O nosso futuro: uma catreifada de pessoas que sabem muito de coisa nenhuma... espera aí, isso não é o presente????
2- Portugal, o único país do mundo onde 2+2 são 4,5 ou 5,3 facto esse que parece não ser explicado pelo nosso (in) sucesso em disciplinas como a matemática... recentemente indíviduos muito respeitáveis (assim parecia ser dada a cor das gravatas que usavam) chegaram à espantosa conclusão de que as reformas ou vão subir 23% nos próximos 20 anos, ou vão descer 48% no mesmo período de tempo... o espantoso é que ambos pareciam extremamente convencidos que conseguiam provar as suas teorias... curso superior em Portugal deve exigir mais imaginação e criatividade que alta costura italiana...
3- Porque carga de água é que os nossos heróis nacionais são travestis de atitude histérica e pose desconcertante, homosexuais ressabiados (porque acredito que sejam uma minoria que dá má fama a um grupo que merece todo o respeito), homens que resolvem os seus problemas à estalada (inclusivamente sobre mulheres), actores de qualidade duvidosa, comediantes brejeiros e de piada fácil, politicos corruptos, jornalistas sensação, opinion makers que tem uma opinião formada sobre tudo e qualquer coisa e debitam lugares comuns do alto do seu púlpito público, tralalalalala por aí fora...
4- Pertenço com algum orgulho à geração rasca. Não me importo de pertencer a uma geração que descende directamente da atitude orgásmica e irresponsável de quem fez uma revolução e acha que todas as gerações futuras deverão prestar vassalagem a uma ideia passada. Acredito que não perceberam que a liberdade não se conquista em revoluções, que nada mais fazem do que agitar superficialmente as águas turvas do obscurantismo tão português, mas sim que se conquista a cada dia com a luta por uma sociedade mais justa, mais informada, mais equalitária e diversificada. Como não poderia deixar de ser começo já a olhar com cepticismo para a nova geração que parece começar a despertar em Portugal. A geração MCA parece-me ser uma geração muito cool, muito in, muito fashion, mas com uma total falta de atitude critica ou postura coerente ou argumentativa, muito ao estilo do "não me importa o que pensas diz-me com quem andas". Uma geração que parece perder-se em tonalidades pardas e pouco definidas e que arrasta o seu corpo etiquetado (dolce e gabanna, carhart, puma, 3g... papapa) em grupos mais ou menos definidos (ou cool ou cromo) rumo a um carpe diem sem qualquer substância que não seja onde tomar o proximo café ou onde ir curtir a noite. Oxalá me provem o contrário.
5- Fui dos poucos Portugueses que não escreveu uma linha sobre futebol durante o mundial, quem me conhece sabe que não foi de certeza por falta de paixão pelo rei dos desportos mas sim porque não o elevo a estandarte nacional... no pais dos 3 F's que me desculpem mas fico pelo último... por favor expliquem-me porque a lusofonia se vive e aprende em campos relvados sobre a batuta de um brasileiro que é um excelente comerciante de um produto chamado portugal... mas porque caralho é que fazemos do portugal-frança uma batalha, quando temos na nossa história uma aljubarrota? E porque parecemos tolinhos com fervor patriótico durante 2 horas, para depois ressacarmos com ordenados, férias, calor, expos, casas da musica, alberto joão jardins, inflacção e IVA? O futebol é uma arte e uma paixão, não me venham com histórias de que o Figo é o melhor que portugal conheceu, conheço um henrique que não marcava golos mas inventou a globalização muito antes dos mundiais...
6- Somos pobres, bebemos mais alcool que água, temos uma piada por governo, a corrupção é generalizada, a maioria do pessoal é obscurantista, a nossa mentalidade é do adro de igreja, somos autistas, paneleiros, fresquiteiros, intriguistas, invejosos, ressabiados e com orgulho!
7- Sou um provinciano, com muito orgulho, vim de atrás dos montes, com cueiros, vi matar porcos e galinhas, corri descalço, assei carne no espeto, tomei banho no rio, cavei terras, plantei árvores, limpei o ranho às mangas da camisa, bebi vinho pelo garrafão ou mesmo a sair do pipo, joguei à vermelhinha, acendi fogos, contaram-me histórias, roubei fruta, cacei pássaros, andei a pé e sorrio de cada vez que um Lisboeta fala do Portugal profundo como um portugal aprisionado na idade média... Lisboa cidade cosmopolita e europeia que tantas vezes despreza (social e politicamente) o resto do País, tem na sua justa proporção pecados e valores comuns ao resto de portugal, com a agravante de se achar superior do alto das suas colinas verdejantes, apenas por não conhecer mais nada que não seja uma realidade urbana decadente, que enferma de todas as doenças que assolam a civilização ocidental. Sou, creio eu, mais cidadão do mundo do que um desses lisboetas emproados, porque conheço os dois lados, sem me sentir melhor ou pior em nenhum deles. Mentira, em lisboa sinto sempre o incómodo que me causa a dicotomia entre aqueles que se privam e aqueles que gerem e se abastecem de dinheiro.

Explicações aceitam-se...
(e debate de ideias! mesmo contrárias que o meu nome não é cavaco, para nunca me enganar e raramente ter dúvidas)

P.S. vendo o meu blog barato, faxabor contactar a gerência ;)

Monday, July 17, 2006

Pedra de Toque


Foi no príncipio de 2004, logo após ter regressado da minha experiência internacional, quis o destino que no último estágio do meu terceiro ano para além de aturar um grande cromo como orientador me cruzasse com uma colega açoriana que me deu uma importante lição de vida...
Recuando um pouco, os melhores tempos da minha vida passei-os em Bruxelas, em que o pouco que tinha para fazer em termos profissionais fiz de uma forma brilhante, e o resto aproveitei para experienciar a vida de uma maneira tão intensa, tão livre e descomprometida, que a minha melhor imagem ficou ali, naqueles fabulosos 3 meses.
Regressado a Portugal tive de me adaptar de novo a um paradigma errado da profissão, apoiado num palhaço, que por muito que perceba de Fisioterapia, nunca vai ser um grande Fisioterapeuta... creio que o meu último estágio se salvou pelas palavras que essa minha colega, e futura amiga me dirigiu certo dia...
Um dos aspectos mais negativos que um profissional de saúde enfrenta é a constante imersão nesse ambiente deprimente e negativo que habitualmente se associa à doença, ou à reabilitação prolongada... no fim, dizia essa amiga, um pouco desse lado negativo fica em nós, é parte do processo terapêutico, por isso precisamos de um modo de dissipar esse lado negativo, ou então podemos ficar mal... de seguida mostrou-me aquilo que guardava no bolso, uma pedra negra e gasta pela erosão até ficar com uma forma oval e uma superficie lisa e suave, tinha-lhe sido dada por uma pessoa muito importante para ela, costumava acariciar essa pedra após fazer uma massagem a algum doente, segundo ela para dissipar a impressão negativa que tinha ficado ... Lembro-me que na altura pensei que tinha imensa razão, e que tinha de arranjar essa pedra de toque para mim, para dissipar todas aquelas coisas negativas que acabava por absorver na minha prática, com aquela imensa vontade que tinha em fazer bem às pessoas.
Tive a sorte de pouco tempo depois ter encontrado essa pedra de toque numa pessoa fantástica, que tive o prazer de conhecer e de amar como não tinha amado ninguém até então, para além disso tive o privilégio de ser correspondido por alguém que mais do que me compreender, intuia e descobria em mim coisas que eu dificilmente pronunciaria. E todas as coisas negativas que em mim persistiam após os meus tratamentos, eram desvanecidos pela sua presença ou memória, sentia-me completo assim, e sei que ela me tornou um melhor profissional e sobretudo uma melhor pessoa.
Mais tarde ainda, troquei a minha vocação e paixão profissional pela ilusão que me dava o dinheiro fácil e uma situação confortável que pensava encontrar numa solução que aparecia para a angústia que começava a instalar-se por não arranjar emprego perto dessa pessoa que tanto significava para mim.
Para abreviar o processo posso dizer que aquilo a que dei mais valor em termos profissionais, o meu toque educado à força da experiência e do trabalho árduo, foi desaparecendo, e as minhas mãos outrora suaves e extremamente selectivas passaram a apresentar calosidades e imperfeições próprias de quem vive para um trabalho que nada significa.
Não me interpretem mal, calejadas são as mãos de quem trabalha no campo e não é por isso que deixam de ser dignas, assim como digno é o trabalho que representam. Dignas são as mãos que produzem e curam, que com o seu uso podem fazer alguma coisa de útil, abençoado o suor que escorre pela cara de quem chega ao fim do dia e pode dizer que o dinheiro que agarra é fruto desse suor, paga digna de quem faz alguma coisa... Agora as minhas não passavam de ser mãos calejadas de vergonha, mãos calejadas por um trabalho infame que nada produz, nada faz pelo seu semelhante. E o suor que me ficava no final desse dia de trabalho, nada mais era do que um insulto a quem trabalha, a quem nada faz de concreto, de real e de palpável. Não era certamente por isso que tinha educado estas mãos.
Hoje em dia o trabalho esfumou-se porque descobri que embora possa ser um bom fisioterapeuta, não serei de certeza um bom comercial. Não me arrependo no entanto da opção que tomei, primeiro pela experiência acumulada que me fez evoluir como pessoa, segundo porque não me arrependo dos motivos que me levaram a aceitar este trabalho (pelas mentiras que me contaram, e pela ansiedade que me produzia pensar que teria de sair do Porto para ter trabalho afastando-me das pessoas que amava) e terceiro e último porque saio de consciência tranquila por saber que nao me vendi a mim ou a minha consciência pelo dinheiro que me pagavam.
Duvido que possa voltar a ser o fisioterapeuta que fui, porque temps edat rerum, e muito se perdeu de mim nos dias em que persistia na minha ideia pulsátil de responsabilidade e empenho pessoal que sempre coloquei naquilo que fiz na minha vida. Aquele trabalho desgastou-me por demais como uma chama colocada sob mim e que lentamente ia degradando o que um dia fui enquanto pessoa ou profissional.
Apenas digo que preciso de uma nova pedra de toque para dissipar todas as coisas negativas que espero encontrar e apropriar como minhas (parte do processo curativo), acredito no entanto que não a encontrarei de novo numa pessoa como encontrei no passado.
Por isso pergunto, haverá alguma pedra por aí que me possam oferecer?
Não precisa de ser bonita ou ser polida por séculos de uso ou pelos elementos, apenas basta ser uma pedra com muito espaço para acumular coisas más :)

Como nota mais pessoal: escrevi uns dias atrás que o conforto de situações prevísiveis pode anular a nossa perseguição pessoal por ser felizes, como aconteceu com o meu trabalho (entre outras coisas). Quero acreditar que a minha boa estrela continua a sua acção incessante por me fazer ver e aprender coisas que de outra maneira não aprenderia (há lições que se aprendem a bater de frente na parede não é assim?) mas por outro lado desacredito constantemente que o meu próximo passo será em direcção a algo mais positivo. Talvez continue demasiado descrente e despreocupado em tentar ser feliz, ou então o meu passado e as culpas próprias continuam a assombrar-me por demais (a história já repetida de me desfazer a cada passo...), por isso mais uma vez pergunto, há alguma pedra que me desculpe, que acredite, e que me prometa um futuro melhor?

...e não me falem em pessoas, porque eu não vou acreditar :)...

Sunday, July 16, 2006

night and day and night again


The Lights dividing
The Lights defining

Era uma cidade estranha e distante que aparecia no sopé de uma montanha que desciamos vagarosamente, já estava planeado há muito como um sonho prometido de felicidade e turismo descontraído, a preparação tinha começado muito antes, com as compras necessárias, a antecipação, o planeamento, o aprovisionamento...
Chegamos lá reconfortados por uma refeição aconchegante no último espaço conhecido antes de entrarmos naquele mundo que antecipadamente tinhamos sonhado, mesmo sem conhecer.
Sinceramente o sonho não nos tinha preparado para o que veio a acontecer...
No regresso, já num espaço conhecido, vimos o sol acordar connosco.
Sentei-me naquele passeio e acendi o ultimo cigarro da noite, fechei os olhos e senti uma claridade ao príncipio difusa a envolver-me, depois mais intensa...
Já era o dia a seguir... mas porque não podia ficar naquela noite...

This Picture

"I hold an image of the ashtray girl
As the cigarette burns on my chest
I wrote a poem that described her world
That put my friendship to the test
And late at night
Whilst on all fours
She used to watch me kiss the floor
What's wrong with this picture?
What's wrong with this picture?

Farewell the ashtray girl
Forbidden snowflake
Beware this troubled world
Watch out for earthquakes
Goodbye to open sores
To broken centre floor
We know we miss her
We miss her picture

Sometimes it's faded
Disintegrated
For fear of growing old
Sometimes it's faded
Assassinated
For fear of growing old

Farewell the ashtray girl
Angelic fruitcake
Beware this troubled world
Control your intake
Goodbye to open sores
Goodbye and furthermore
We know we miss her
We miss her picture

Sometimes it's faded
Disintegrated
For fear of growing old
Sometimes it's faded
Assassinated
For fear of growing old

Hang on
Though we try
It's gone
Hang on
Though we try
It's gone

Sometimes it's faded
Disintegrated
For fear of growing old
Sometimes it's faded
Assassinated
For fear of growing old
Can't stop growing old...(X5)"


Este Post é dedicado a uma super pessoa, a uma super amiga, a uma... super MAC! ;)
(pq afinal não é preciso superpoderes para se ser super especial!)
Obrigado! *

P.S.-Para quando o teu blog?...

Thursday, July 13, 2006

A17


É estranho como uma pessoa é capaz de desistir tão facilmente de ser feliz, ou de pelo menos tentar....
E troca essa ideia por um conformismo doentio, por situações estagnadas que se prolongam apenas pelo pequeno prazer da conveniência e da rotina... situações que persistem pelo vicío que pode ser a previsibilidade das situações, dos lugares e das pessoas...
Contraposição entre duas ideias: porquê abandonar um chão conhecido e arriscar voar, ou para quê arrastar connosco um peso morto cadavérico que persiste e nos arrasta para baixo a cada passo que damos?
Mas as pessoas desistem demasiado facilmente de ser felizes... mesmo que a segurança seja apenas uma ilusão.
Contra mim falo, quantas vezes fui assim, em várias situações da minha vida.
Não peço desculpa. Simplesmente porque acho que pedir desculpa exige primeiro a capacidade de sermos capazes de nos perdoar a nós mesmos e eu nunca serei capaz de o fazer.
E não me assusta estar errado, sei que o lugar que ocupo é da minha total e única responsabilidade por vários motivos, por vários erros, aquilo que me pode assustar é esta total falta de confiança e de esperança que por vezes se apodera de mim.
É que ainda não sei se consigo ser maior que a minha culpa...



Nota pessoal: podes ser bipolar mas já não és unidireccional...

Tuesday, July 11, 2006

Porque sim!... :)



Entre o meu PUFF e a LUA!



Porque és capaz de perdoar... menos a ti
Porque és capaz de aceitar... excepto a ti
Porque és capaz de abraçar o passado e limpar uma lágrima...mas nunca a ti
Porque és capaz de um abraço, de uma palavra amiga e de uma esperança possível... mas longe de ti
Porque sempre dás um pouco mais para além de ti, sem uma palavra esperando um obrigado... mas resusas-te a ti
Porque recordas e limpas o olhar do teu medo e dúvida, porque apenas és humano...mas desiludes-te a ti
Porque perdoas um erro, um exagero, uma palavra não dita... mas não é possível
Porque aceitas que o futuro te escape como areia entre os dedos e compreendes problemas à dimensão de quem vive, pela grandeza que têm, pela luta possível... não és maior
Porque desenhas palavras no ar e sorris para os outros... sem ser possivel para ti
Porque abnegas um acto ou palavra, sem consequência, apenas momento... mas o presente é aqui
Porque levitas e sonhas, e arriscas o erro, sem questionar, quando tu fechas os olhos e te deixas cair sem duvidar que os braços acolhem sempre os teus braços os meus olhos nos teus, a minha pele contra a tua, os meus lábios esquecidos perdidos das horas que insisto em contar em segundos que passam e esquecem os próximos... tens apenas o agora
Porque cresces para fora e convences sorrisos e descobres surpresas e plantas jardins... mas queres ficar
Porque te tornas rochedo ou onda do mar apenas com o sonho, apenas com a força de ser... é impossível talvez
Porque insuflas de vida quem ousa querer, ou ousa sonhar, ou ousa viver, a respirar, a transcender, sem se perder o momento que temos dentro de nós, sem importar as palavras que insistem em estar dentro de cofres de vidro que impedem chegar, quem não se importa com unhas de vidro que raspam quem quer florescer e se importa que a chuva caia de um lado qualquer, desde que caia em feição de se ser, produto de um sonho sonhado para nós, ser realizado em méritos próprios, que se transfiguram em sucesso de alguém, que pretende o deleite de uma vida votada a um caminho traçado a rigor... mas sou um pecado em gaiola dourada
Porque intruis como um beijo de ti, dando mais um sorriso cansado, mas sempre em fulgor, de achar que é completo a dar como quem se compacta em segredos e se extende em surpresas, como podes querer, ser um dado na vida, lançado no espaço, numa aposta impossível mas que vai quer ser possivel... como podes tentar
Porque usas memórias como planos traçados, como lastros possíveis que te fazem passar neste rio da vida com a doçura de quem vai guiado por mim, barco lançado a estibordo que sonha seduzir a tempestade por ti... custa tanto tentar
Porque queres ser criança e sonhar ser possivel voar sem sair do mesmo lugar sem esperar um momento que aplaudam teu voo, porque as mãos que aplaudem são as mesmas que fecham na hora que cais nesse chão que abandonas, porque sonhas voar, e te esperam em agressões que se alastram pela inveja que fica, pelo dedo apontado aos seus rostos fechados, pelo espelho que causas, pelo ar que afastas de quem só consegue amarrar-te a esse chão... e recusas voar
Porque és forte e um pecado, e apenas humano, és um sonho lançado a um chão de um destino que quiseste escolher, para negar o caminho que traçavam para ti, e traçares com o teu sangue o caminho para ti e escolheres nesses versos quem te há-de guiar se souberes que o teu norte é esse que tens no peito fundente que te dói e massacra e escreve o teu nome em suor e em chamas num céu que desaba e quer-te esmagar, porque queres ser mais alto que a mais alta montanha que pediram para ser mais uma planície que fácil será por pés neste chão que eu te dei por dar, por ter desistido de um anjo da guarda, por ser este chão a minha mortalha que sabes arder e sabes vencer, por uma estrela que sabe brilhar, por uma esperança que não vais quebrar, por uma flecha apontada para ti, por ser o herói que quiseste que eu fosse, por ser mais um homem, por ser o maior, por ter uma pele que há-de secar, ao vento que passa ao que sol que abrasa, que há-de deixar memórias na pele, e cego o olhar que há-de traçar a linha do rosto que quis contemplar na hora da morte do tempo, da vida e o som que se ouve é o som do piano que cai no abismo que se abre quando, aquilo que resta é uma palavra em cofre de vidro, que se vai quebrar... e olhas no espelho... e sabes que não há... palavra que chegue ao centro de ti...


... e te acorde e embale ao som de uma música...


...que sabes ser calma, por ser como tu...

...és

...

... E NEGAS POR TUDO, POR TUDO, AQUILO QUE DÁS...

...aos outros...


..esqueceste de ti...




P.S.- o meu melhor post.

Sunday, July 09, 2006

"és horrivel", ou seria, "insuportável"? ;)



"É digno ajoelhar no pó quando praticamos uma falta; não é digno manter a posição" Chateaubriand


Olha, então bro, dá-me um cigarro, fica sem stress e conta-me viagens que fizeste, mostra-me as fotos de cuba e fala-me do méxico e de templos aztecas dispostos á beira mar, de como tomavas banho naquele mar azul, e nadas-te com golfinhos.
Vamos acabar o dia a falar de telemóveis e máquinas digitais, o que aprendi contigo não aprenderia com ninguém. Vamos falar de carros e motas e da pica que nos dá andar a 200 km/h, enquanto contamos rotações, mais uma vez bro, seu grande homem, ensinas-me tanto...
E enquanto traçamos mais um, e ficamos a pensar que isto era conversa de praia manda vir um par de finos, um traçado para mim, empresta-me o cinzeiro, o bolo tava bom e era de frutos, o espumante era docinho, quantos fazia, 53? Grande homem, curtis-te a tatuagem de marinheiro que trazia num dos braços? Tás... sem stress, my friend... paz... deixa me ver essa imagem, mas qual era o site? vamos fazer umas contas de cabeça e contar umas histórias do pessoal, as coisas que eu aprendo contigo! Isso é de rir, e eu não fazia ideia, a sério? Dá-me mais um cigarro, dá-me lume, e enquanto vamos falar mal da república das bananas, os Portugueses são de rir, vamos falar de caminhos que ambos percorremos, e rir da incompetência, estás tão á frente e as novidades ultrapassam-te... paz irmão, este é o último do dia, bom fim se semana, são mais 5 minutos e o alarme dispara e eu saio dali com 4000 rpm's.
Mais uma noite, mais um cigarro, primoroso, porque quem sabe nunca esquece, e há um provérbio que encaixa bem, não me vou deitar tarde, mas vou dormir bem, depois de um café forte escuro e encorpado, manda vir mais um cigarro, e o dia de amanhã nunca mais chega para fazer da manhã um instante ou um sonho, e da tarde um breve passar. Mais um dia, mais um momento, gelado, sabe bem esta água que corre por mim, sobre o meu corpo magro, o meu cabelo negro, e a minha pele cicatrizada, vou esperar por ti, na rua, enquanto tomo mais um café e vou ao ATM, sento-me à sombra o calor é de Verão, e vemos um futuro a várias cores, apressamos o passo porque não nos queremos atrasar, apesar de se estar bem, apenas assim, hoje o meu nome é ricardo, e de certeza que o desenho animado aparece, mais os 2 estarolas, para nosso prazer pessoal, e depois durante horas, acumulamos memórias que discutimos depois, com um grande sorriso, por entre uma névoa, e mais um café saboroso... as possibilidades que assustam, vamos em frente? Que se foda, eu sou metade de mim... mas a tanto não me arrisco, tens o bilhete contigo? E mais uma história que se conta e que apela à calma e ao sol, signo solar, queimas-me com o teu não que sabe o que me custa passar, mas um homem de palavra não volta atrás e tu sabes que blue skies bring tears...
Mais uma vez, outro banho, e um penteado marado, e outro café, enquanto vejo um jogo que já não interessa a ninguém, mas porque é que custa sempre tanto a decidir? Os magníficos, ou os super, ou os dumbos, ou as formigas, ou o caminho, ou o som, ou a noite, ou as lantejoulas, ou as bebidas, ou o romantismo perdido, ou um caminho, ou outro, ou ainda outro, ou ainda eu...
E um jantar que lembra o início de um século passado, com o glamour decadente de uma era dourada, qualidade, e sabor, mesas altas, e charretes que passam numa rua do Porto, senti-me como um burguês de bengala que acompanha e abre portas, e que apenas tem um astra em vez de um cavalo branco.
Subimos a rua, cansados e felizes, enquanto sorrimos e pensamos como é bom estar ali, e eu admiro, e eu contemplo, e eu respiro, e eu sinto, é bom ser humano outra vez... Mais uma vez tempo de decisões, mas porque não? E agora abriu-se um espaço para um glamour muito actual, muito in, muito stars to shine, entre chás e mais um café com maracujá e hortelã... passion_me... e um espaço de matraquilhos, e um passeio bucólico, e piadas tolas, e sorrisos tantos sorrisos, e o mundo que parece que se aproxima do seu fim de tanta coisa estranha, mas será que é verdade? Mas viram como eu, não? True love strives to shine, and goes behind expressions of self esteem and nothing else to speak, just one expression to keep, and goes like this:...
A noite prolonga-se, e mais um espaço que se abre, para uma dança frenética num aniversário qualquer, a luta por um espaço, qualquer, um espaço fundente com a música que vibra, com o meu bacardi flavoured, com uma dança qualquer, por um momento assim... sabe bem recordar que vivemos... num ritmo assim, alucinante, comercial, pungente, divinal, os meus olhos não fecham e passo sobre as horas que parecem não passar...
Amanhece já, e estou cansado, o meu corpo escorre um suor benéfico, tempo para mais um, boa noite sol, haja quem aproveite o teu esplendor.

Thursday, July 06, 2006

tan...tan...tan...tan-taram-tan-taram (...)


"In this world of ordinary people... extraordinary people, I'm glad there is you"


Ok, este é um título estúpido para um post, mas passa por ser onomatopeico... se alguém adivinhar o que pretendi trautear, merece o mundo como prémio, e eu conheço alguns para alugar, vender, trocar, trespassar... por aí...

Antes de continuar:

Porta-te bem!

Dito isto...

Um "casual" post...

Há uns anos atrás havia um videoclip fabuloso de um grupo que agora desconheço o nome, que pretendia simbolizar a fragilidade do continente Africano. Consistia num indíviduo de raça negra que caminhava por New York, enquanto era ignorado e agredido pelas pessoas que passavam. Esse indíviduo vestia-se como um maltrapilho, era esquelético e possuia um par de olhos do mais expressivo que há. A certa altura, já muito perto do final do videoclip, este senhor ficou com ambos os pés colados no alcatrão, quando tentou dar mais um passo, a perna quebrou como um vaso de cristal, mostrando um interior oco. Mesmo assim o sujeito continuou a andar apoiado nesses "cotos", até que eles foram progressivamente quebrando e ficando mais curtos. No final, o indíviduo caiu ao chão, desfazendo-se em pó enquanto soavam os últimos acordes do videoclip...
Não pretendo ter a mesma dimensão trágica de um continente inteiro, nem sequer consigo compreender se de facto possuo a chamada "tragédia pessoal", apenas penso muito agora neste videoclip, e de como os meus passos, de há uns tempos para cá, se assemelharem a este videoclip.
O curioso é que nada se desenrola como deveria (ou então estou demasiado envolvido comigo mesmo sob o lema "a minha vida dava um filme") com aqueles rompantes dramáticos ou aquelas decisões irrevogáveis, nem sequer tenho direito a grandes eventos e considerações... Não há como eu pensava que haveria, momentos de viragem, limites claros onde começa e acaba um novo capítulo, nada!...
Tudo se desenrola, quase em câmara lenta, como um filme a preto e branco, e o drama vem embrulhado com um papel pardo que lembra a conveniência e os bons costumes.
No meu mundo sou eu que caminho e a cada passo fico preso àquele chão, para descobrir que o meu próximo passo já vou ser menos de mim, desfazendo-me a cada passo, como naquele videoclip. Mas isso sou eu com um par de filmes a mais...
Acho que quando perdemos a confiança no nosso centro, nas nossas coisas sagradas, o que resta é uma grande cratera no centro de nós, fazendo um grande declive por onde todas as outras coisas deslizam acidentalmente... ui o drama ;)
Está tudo como deveria ser. Para contentamento de muitos (entre os quais não me incluo).
Mas afinal... quem é que foi que disse que cada um tem o que merece?
'cause I'm not the victim... I'm the crime.

Wednesday, July 05, 2006

Perfect Skin

Antes de continuar queria agradecer a todos aqueles que comentaram ou conversaram comigo para continuar este blog, este post é, também, dedicado a todos vocês. Obrigado.

Num dos últimos concertos a que fui, foi dita uma frase que se aplica a este post:

"esta música é sobre uma serpente e a sua pele..."

Este post, é sobretudo, sobre uma serpente e a sua pele.



As palavras caem de um céu que nada promete, congeladas, como flocos de neve dançando ao sabor de um vento gelado, pousam suavemente sobre mim, em camadas sucessivamente brancas, sucessivamente frias, sucessivamente perjorativas.
Nada me falta, excepto aquilo que nunca consegui por meios próprios.
O meu anjo da guarda foi dado, levando aquilo a que um dia chamei de sorte, para alguém que o mereça, nada resguarda esta fria neve que cai, e no entanto, não lamento tê-lo perdido, cumpriu a função que sempre desejei ter para ele, e continuará a cumpri-la como um bom anjo da guarda que é.
As palavras, dizia, caem suavemente sobre o meu rosto impávido, calmamente atravesso o seu significado superficial para me achar do outro lado, do lado futuro, do lado real e é com um prazer irracional que me vejo aqui, onde os artificialismos secam e mirram por falta de sustento, onde o que resta são significados puros e livres que aceito sem questionar... como foi dito, o meu anjo da guarda foi dado.
A decisão foi tomada muito antes dos jogos manipulativos que transportam o sucesso, não é fácil jogar um jogo do qual desconhecemos as regras, e ainda mais importante, o propósito. As guerras já não se travam, apenas se perdem, enquanto nos desfazemos nas arestas cortantes de uma questão colocada no princípio de tudo.
As palavras soam directas como uma fria imposição do real, como um previsível desfecho a situações que se arrastam mortalmente feridas ao longo de dias monótonos e cada vez mais iguais, as palavras não são nada, são apenas remates de um elaborado processo do qual nunca fiz parte.
Tão natural quanto perder a razão inicial, tudo o resto se arrasta até um fim prevísivel para aquelas coisas que perderam toda e qualquer justificação pessoal. As palavras, nada significam, hoje foram ditas, e por muito temidas que fossem, nada me espantou, nada me impressionou, excepto aqueles significados ocultos por trás de um sorriso.
Acendi um cigarro e fiz um telefonema rápido, olhei para aquela fachada escura e apaguei o cigarro calmamente, as palavras ecoavam ainda numa sala feita de espelhos e pintada a negro e bordeaux...
All you ever see
Flashes you and me...
Fitting the perfect skin to me...