Saturday, December 30, 2006

100º

Centésimo poste do Alqueva à Amareleja.
Desde Março do corrente são já 100 "coisas" que despejei para aqui, nunca esperei vir a atingir esta marca tão depressa, mas como suspeitava, um dos meus múltiplos vícios é escrever o que explica uma produção tão rápida.
São os meus caminhos, para dentro e para fora de mim. Quantas vezes estranhos, cínicos, intimistas ou corrosivos, preocupou-me sempre mais o conteúdo do que a forma dos mesmos.
Obrigado ao visitantes, por virem cá e por vezes comentarem o que escrevia.

Como todas as coisas que começam, este blog está marcado para morrer. O dia já está definído, mas não será para já, nem eu vou revelar quando será.

E agora, daqui para a frente? Deixo-vos aqui a possibilidade de escolha, para que participem na definição do que este blog será daqui para a frente. A todos vocês, grandes amig@s e ilustres desconhecid@s :

A - Já te calavas...
B - Ya, vais no bom caminho...
C - Fala das coisas do mundo, pá!
D - Mais desses textos marados!
E - Caga no texto, vai ao iutube e linca prá qui!
F - Sugere umas cenas que a gente gosta dos teus gostos!
G - E anedotas, não sabes?

Z- nenhuma das anteriores, eu é que sei do que este blog precisa _______

Votem nos comentários.


Já agora, dos 99 postes precedentes:

http://alwaysonroad.blogspot.com/2006/12/room-101.html
(foto minha, inspirado no livro 1984)

http://alwaysonroad.blogspot.com/2006/12/black-rose.html
(como muitos titulos meus é o nome de uma música, neste caso dos Blind Zero, a alienação e alucinações de uma noite)

http://alwaysonroad.blogspot.com/2006/03/prudenceone-lovemy-redemption.html
(a minha definição de vitória, foto original)

http://alwaysonroad.blogspot.com/2006/06/7-cm.html
(original, o título representa a medida da folha que tinha para escrever)

http://alwaysonroad.blogspot.com/2006/07/pedra-de-toque.html
(o meu primeiro texto sobre "energia")

http://alwaysonroad.blogspot.com/2006/07/porque-sim.html
(a prova da minha bi-polaridade: cinética, pessoal e acústica)

http://alwaysonroad.blogspot.com/2006/08/theater.html
(uma lição de vida para mim, um texto que não se submete ao tempo físico mas ao pessoal)

http://alwaysonroad.blogspot.com/2006/09/mentira.html
(uma noção de destino)

http://alwaysonroad.blogspot.com/2006/10/abc.html
(tempo a mais...)

São os meus preferidos, escolham os vossos.

P.S. "as abelhas não fazem anos, fazem dias"
P.P.S. a votação vai durar 2 semanas.

Thursday, December 28, 2006

Um Dia Normal.

A um ditador é confirmada a sentença de morte por enforcamento, negando-lhe o seu recurso.
Recordo os julgamentos de Nuremberga onde a justiça dos vencedores percebeu, face ao horror que acontecera, que mais do que um julgamento célere e previsível, interessava que fosse justo e factual, mais não fosse do que para demonstrar sem margem para dúvida a loucura assassina indescritível do regime Nazi (e pelos vistos, nem isso ficou provado, face à recente onda de revisionismo histórico que nega o holocausto, coisa que me repugna). Hoje, mais de 60 anos depois, a justiça dos vencedores assemelha-se a um circo montado por uma família Chen esquizofrénica e bipolar, tipo colocarem os leões não dentro de jaulas, mas por entre o público: enquanto dão saltos engolem pessoas. Não dúvido da culpabilidade do dito ditador, mas enforcá-lo na praça pública depois de um julgamento fachada, por um tribunal empossado por um governo de transição fantoche, no meio de uma Bagdade imersa em tensões tribais pré-guerra-cívil é no mínimo estranho. Já para não falar da hipocrisia assassina dos "libertadores". Há em Haia um tribunal curioso, onde não se contempla a pena de morte, mas do qual se diz defender os direitos do homem. Porque não ver lá o Hussein, ou o militar americano que violou e matou uma rapariga iraquina de 14 anos? Claro que o mesmo país que libertou os iraquianos é o mesmo que não compactua com Haia, Quioto ou a convenção que restringe o uso e fabricação de minas anti-pessoais. Quantos milhares de vidas é preciso ceifar para pagar o preço de uma vida americana?

Há uma criança de seu nome Sara, 2 anos de idade, que morreu vitima de maus tratos. Não houve nada a fazer. Repetidamente a sua educadora, corajosa como há poucas, avisou para a fome, as nódoas negras constantes, os cortes, o isolamento e a infelicidade da Sara. Mas não havia nada a fazer. Caiu das escadas, diz-se, a mãe levou o cadáver ao centro de saúde para atestar o óbito. É que não havia mesmo nada a fazer. Como nada se podia fazer ao Daniel cego e com dificuldades motoras, enquanto o seu pai o empalava com uma vassoura tinha ele seis anos. Ou à Catarina que com 30 meses era queimada com cigarros, violada e espancada até à morte. Ou à Vanessa, queimada por um ferro e por água a ferver, que morreu de fome com 5 anos. Ou à Fátima, que sobreviveu com um ano às violações e espancamentos dos pais. Ou à Joana, que repousa sabe Deus onde, morta pelo espancamento dos pais aos 8. Ou ao Yuri que com 3 anos morreu com lesões internas causadas pelo brutal espancamento ministrado pelos pais porque não parava de chorar. Ou ainda à Angelina que com 2 anos foi violada e espancada até à morte por um Brasileiro ilegal. Não é imaginação minha, como costumo dizer por muito doente que a minha imaginação fosse duvido que chegasse ao horror destas histórias, é realidade, podem vê-la aqui: http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=225645&idselect=181&idCanal=181&p=0
Nunca houve nada a fazer, nada se podia fazer excepto contar a sua história e escrever o obituário, são os anjos de um dia normal, que morrem num dia normal. O dia especial será quando os casais homosexuais puderem adoptar crianças, haverá muita indignação (mas não a minha) mais indignação do que há hoje pela Sara, Daniel, Vanessa, Catarina, Joana, Fátima, Yuri, Angelina e tantos outros.

A ordem dos médicos insurge-se contra a circular emitida pelo governo que visa controlar a assiduídade dos médicos por meios electrónicos. O bastionário classifica a medida como, e cito, um "disparate sem nome e mais uma originalidade Portuguesa". Eu concordo. Por exemplo, num país de 5º mundo como a Bélgica, num Hospital Universitário cada funcionário tinha um cartão magnético que assinalava a hora de entrada e saída no mesmo, médicos incluídos, o que faz sentido num pais subdesenvolvido a anos luz do nosso. Então se eu vi, com estes olhos que a terra há-de comer, no Hospital de Santo António no Porto um médico com o dom da ubiquidade, conseguiu estar lá e ao mesmo tempo no seu consultório privado, com esta categoria de médicos que sentido faz controlar a assiduidade?

O Figo vai ter uma vida difícil na Arábia Saudita, diz Manuel José. Pois claro, para ajudar a aclimatar o jogador numa longa campanha de 6 meses, o clube pagará 1 milhão de euros por mês, vencimento que pagará o ar condicionado e umas pedrinhas de gelo para por na água. Um desterro, portanto.


E são algumas notícias, de um dia normal.


P.S.- Sou, como é bom de ver, um trotskista, populista, ressabiado, intriguista, anti-americano e por aí fora... Mas do que me orgulho mais, aquilo que me faz sentir verdadeiramente um Europeu de gema, é a suprema hipocrisia de que padeço.

Saturday, December 23, 2006

Merry Merry

Para os visitantes mais ou menos ocasionais, a "Gerência" deste tasco deseja um excelente Natal!

Por estranho que pareça dá-me para ser sentimental nestas datas, por isso, sniff, sniff, vou tomar 3 prozacs, rechear uma posta de bacalhau com um diazepan, enfrascar-me em açucar e terminar o natal a traçar um, olhar o céu estrelado da minha terreola, enfiar o nariz no cachecol porque de certeza que vão estar negativos, e dizer:

"Para o ano, quero ser muçulmano!"

De resto e mais uma vez, sejam felizes e curtam o Natal.
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SNIFF
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P.S.- Não resisto: já lá diz o povão, o Natal é quando o Homem quiser... e a mulher deixar!

Thursday, December 21, 2006

A Perfect Sonnet - Bright Eyes

Aqui fica a letra:

Lately I've been wishing I had one desire
something that would make me never want another
something that would make it so that nothing matters
all would be clear then

but I guess i'll have to settle for a few brief moments
and watch it all dissolve into a single second
try to write it down into a perfect sonnet
or one foolish line

'cause that's all that you'll get so you'll have to accept
you are here then you're gone
but i believe that lovers should be tied together
thrown into the ocean in the worst of weather
left there to drown left there to drown
in their innocence

but as for me i'm coming to the final chapter
i read all of the pages and there's still no answer
only all that was before i know must soon come after
that's the only way it can be

so I stand in the sun
and I breathe with my lungs
trying to spare me the weight of the truth
saying everything you've ever seen was just a mirror
spent your whole life sweating in an endless fever
now you're laying in a bathtub full of freezing water
wishing you were a ghost


but once you knew a girl and you named her lover
danced with her in kitchens through the greenest summer
autumn came, she disappeared
you can't remember where she said she was going to

but you know that she is gone 'cause she left you a song
that you don't want to sing
singing I believe that lovers should be chained together
thrown into a fire with their songs and letters
left there to burn
left there to burn
in their arrogance
but as for me i'm coming to my final failure
killed myself with changes trying to make things better
ended up becoming something other than what I had planned to be

now i believe that lovers should be draped in flowers
and layed entwined together on a bed of clover
left there to sleep
left there to dream of their happiness

Se quiserem ver e ouvir:

http://www.youtube.com/watch?v=isgrEY9nym0&mode=related&search=

Tuesday, December 19, 2006

Room 101


Já não sei, ou melhor, não sei se algum dia soube, se as direcções se aplicam quando não existe um destino comum.
Não me interpretem mal, já perdi a conta às vezes que me perdi por prazer em paisagens urbanas ou idílios rurais.
É mais aquela certeza de um destino concreto quando nos sentimos a mover.
São os silêncios, sabes? Os silêncios da alma quando sabemos que ninguém escuta, nem mesmo nós próprios, nem mesmo a nossa sombra.
Nem sequer se trata do medo... porque o segredo reside em ultrapassá-lo, quando já nada tens a perder, isso sim é um ponto sem retorno para o significado.
Não precisas de ver o aço ou a madeira, não vão ser vidros a cortar a tua pele, ou pedaços de couro a rasgar a tua carne, a subjugar a tua vontade... não, tu só és escravo de ti mesmo, e se não ris é porque desconheces a ironia.
É apenas a cadeira e uma mesa, numa habitação vazia, perto do céu que um dia julgaste mais próximo num refúgio perdido nesta cidade submersa.
É uma porta diante de ti, que esperas que abram.
E então reconheces o que sempre soubeste, porque duvidaste de que eles saberiam?
Não são armas, nem venenos, nem poções mágicas, ou instrumentos, se destilares uma gota do teu sangue achas essência que baste para te matar mil vezes.
Duvidas então que eles abram a jaula, confias, fazes parte do projecto.
Mas quando menos esperas, eles vão abrir a jaula, e formulas as palavras que desconhecias existirem dentro de ti.
Não te admires, não são grandes palavras, nem é, contrariamente ao que pensarias, o discurso que tinhas ensaiado. É claro que não os surpreendes, nem a eles, nem a ti.
São apenas 4 palavras, dificilmente são mais, e não ecoam, ou saem do quarto 101, se as escutas, escuta-las dentro de ti.
E então percebes, são as palavras que roubam o sentido à bala onde se inscreve o teu nome.
Porque não duvidas, sabes que ela te aguarda no fundo do corredor enquanto caminhas de costas para não ver o relâmpago.
Não sabes se tarda, ou se se apressa na manhã seguinte em que acordas ao som do que falavas.
Sabes que vem. Não sabes mais nada.
E não está ali no corpo que estragaram, ou na vida que te tiraram, não está no cadáver de ti que te fita no espelho, não se trata de dor, mas de indiferença.
Eles sabem, eles sempre souberam, apenas tu é que não.
Não é o que temias nas noites solitárias, ou nos caminhos intermináveis, ou nos olhares que se cruzavam com o teu, nunca foi isso.
É apenas o que carregavas, como um erro impresso em ti.
Não são palavras que te ferem, mas sim a sua ausência.
Não são emoções, mas a falta delas.
Não é a ironia, nem a revolta, tu morres pela esperança.
Quando essa luz branca se apaga e a realidade te cega...
Eles não matam a esperança, tu sim.

Tudo no quarto 101.

/me on massive attack

Friday, December 15, 2006

Escolhas de 2006

As minhas escolhas para a 2006ª volta ao sol depois do nascimento do Sr. de Barbas que controla isto tudo:

Para ouvir:
  • Nacionais: Linda Martini, EP e o CD "Olhos de Mongol"; Valete, "Serviço Público"; Blasted Mechanism "Avatara"
  • Internacionais: Massive Attack, "collected"; Artic Monkeys, "Whatever people say I am, that's what I'm not"; Franz Ferdinand, "you could have it so much better"; Gotan Project, "Inspiración-Espiración"; LCD sound system, homónimo; Placebo, "Meds"; The Killers, "Hot Fuss".

Para Ver:

  • Tarantino, "Kill Bill"; Shane Black, "Kiss Kiss, Bang Bang"; Guy Ritchie, "Snatch"; David Lynch "The Straight Story"; Woody Allen, "Small Time Crooks"; Olivier Hirschbiegel "Der Untergang".

Actuações ao vivo:

  • Destacadíssimo: Placebo, SBSR. Bloc Party, Bauhaus e Dj Kitten em Paredes de Coura.

Para Ler:

  • Nacional: Carlos Geadas, "Os Dias de um Homem Banal; José Rodrigues dos Santos, "Codex 632".
  • Internacional: George Orwell, "nineteen eighty-four"; Salman Rushdie; "Shalimar, o Palhaço"; Carlos Franz, "O lugar onde esteve o Paraíso"; João Carlos Silva, "Na roça com os Tachos"; Matilde Asensi, "Iacobus".

Para Saborear:

  • Chá de Menta sem açúcar; Licor de Amêndoa Amarga com 2 pedras de gelo e meio limão expremido; Café com sumo de maracujá e hortelã-pimenta. Bacardi straight.

Para Sair:

  • Maus Hábitos, Marroquino na Baixa, 1000agres.

Desporto:

  • Portugal-Holanda e Barça-Chelsea.
  • Golo do Lampard no jogo supra-citado.
  • Portugal-Geórgia em Râguebi.
  • Campeonato Mundial de Clubes de Hóquei em Patins.
  • Vanessa Fernandes.

Séries:

  • 24; Dr. House, Prison Break, Lost.

Humor:

  • A Revolta dos Pastéis de Nata (sobretudo a nata dos provérbios "30 por uma linha" e o programa com o Cid).

Animação:

  • Family Guy. Os Simpsons são eternos.

Não me lembro de mais categorias.

Peço às 3 ou 4 pessoas que aqui vêm, que deixem as suas sugestões e/ou comentários!

Tuesday, December 12, 2006

Economia...

A solução económica e cultural para o Pais:

"P- Dobrar ou não dobrar cinema é uma eterna discussão à volta do tema. Qual é a sua opinião?
R- Muito sinceramente não tenho opinião formada. Mas acho que há muitas pessoas a precisarem de trabalho em Portugal. Por isso, porque não?"
Luciana Abreu in JN do último Domingo.

É ideias como estas que o nosso país precisa para progredir, aliás, já vi dois episódios completos da floribella para me fazer mais inteligente.
Para além disso ofereci-me para dobrar a filmografia completa do Manoel de Oliveira, o que me deve garantir trabalho para os próximos 5 anos.
O quê? O Manoel de Oliveira é Português??? Quem diria...

Saturday, December 09, 2006

All Sparks

Há uma pessoa sábia (com a qual espero continuar a aprender, por muitos anos e em muitos sítios), que me ensinou umas quantas coisas.
Há, no entanto, lições, que ninguém nos pode ensinar, nem ninguém nos vai poder contar como vai ser, há certas coisas pelas quais tens de passar para poderes dizer que esta ou aquela realidade faz parte de ti, e que a integrarás nas tuas palavras, nas tuas acções. Há objectivos que ninguém vai ser capaz de ter mostrar, por muito "self-evident" que possam parecer, és cego antes de ver. És apenas isso, cego.
A primeira coisa que essa pessoa sábia me mostrou, é ver, para além daquela visão egocêntrica que temos do mundo, que os dramas e os sucessos tão infinitos e poderosos apenas cabem dentro dos limites de ti próprio.
A segunda lição que essa pessoa sábia me mostrou, é tão só perder os rótulos que sistematicamente colocamos para o mundo fazer sentido, e aceitar, "bem" e "mal" como meras consequências, ou menos do que isso, como meros caminhos que nos conduzirão mais perto daquilo que desejamos ser. "Não existem vitimas, existem co-criadores"
A terceira lição, e talvez a mais importante, pelo menos para mim, é que a "felicidade" seja lá o que isso for não existe cá fora, mas sim dentro de nós.
Na faculdade, acho que isto se passou no 2º ano creio eu, houve uma professora que nos pediu que escrevêssemos qualquer frase ou palavra ou desenho numa folha de papel, as quais depois de misturadas seriam distribuidas aleatoriamente pelos alunos. Cada um tinha que ler ou mostrar o conteúdo do que tinha recebido para toda a turma, e reflectir sobre o que tinha visto. Como é óbvio as folhas eram anónimas. Posteriormente a pessoa que tinha sido responsável pelo conteúdo desse papel relataria à turma as suas verdadeiras intenções em relação áquele conteúdo. Foi das coisas mais relevantes na minha "academia", para além da Regência, da dinâmica de grupos, do grunho, da cabra de Pediatria, das francesinhas a meio da tarde, dos gráficos de Maitland, da "fracção de ejaculação" e de tantas outras coisas.
Eu escrevi o poema "Viagem" de Miguel Torga, o meu poema preferido, que sei de cor desde a primeira vez que o li, mas antes de falar sobre o que esse poema significa para mim convém falar antes sobre o que a maioria dos meus colegas escreveu. Seriam 20 ou 30 os "carpe diens" que foram surgindo antes que chegasse a minha vez. Todos falaram mais ou menos na mesma temática de capturar o momento, vivê-lo, aproveitá-lo sofregamente, todos reflectiram sobre o "objectivo", sobre a "felicidade", "naturalidade", "essência", "verdade". Quando chegou a minha vez, quem leu o que escrevi, pensou que me referia ao mesmo, por outras palavras... "em qualquer aventura o que importa é partir não é chegar" dizem os 2 últimos versos desse poema, e foi disso que eu falei. Durante 5 minutos discursei sobre como era estranho para mim esse positivismo lógico de quem quer ter num segundo um motivo para viver e simultaneamente um objectivo de vida, de como para mim a vida era um absurdo de momentos desconexos que nós articulávamos com medo da aleatoriedade dos sentimentos, das palavras, das consequências. Para mim, os corvos não são todos negros. De como o único momento importante seria o da partida, e o menos importante o destino, pois todos sabiamos qual era, e este seria comum a todos nós. Disse: "a vida não tem que ter sentido, a vida acontece, o resto é absurdo" entre outras coisas.
De então para hoje, algures, perdi essa noção.
Não estou certo qual das duas estará correcta, por preferência escolhi a segunda.
Há quem diga que a felicidade é algo condicional, como a certeza que o céu se sucederá a uma vida moralmente correcta. Não conhecia outra versão dos factos antes de conhecer essa pessoa sábia, é portanto natural escolher o que nos é próximo. Se a felicidade é condicional, depende de algo, ninguém é feliz naturalmente, depende da chuva e do sol, das pessoas, do dinheiro, do sexo e de tantas outras coisas. Posso então dizer que sou feliz por causa de alguém, dou-lhe esse poder, e se todos os outros factores falharem ainda continuarei a ser feliz? Ou ainda, se a pessoa com poder decidir que o vai usar de modo diferente ao pretendido, a nossa felicidade terminará? E ainda, se essa pessa com poder, se tornar infeliz, como poderá exercer esse poder?
Porque se há verdade absoluta, é que todos andamos por cá a tentar ser feliz.
E se, imaginemos, só se, a nossa felicidade não for condicional, mas sim emanar de nós mesmos? Não teremos nós o poder para subtilmente influenciar o que nos rodeia, para se sintonizarem com o que sentimos? Ou mesmo que não tenhamos, ser feliz per si não será a maneira menos hipócrita de o ser?
Porque uma felicidade condicional não é mais do que uma forma de dependência egocêntrica.
Haver uma outra forma de pensar poderá significar maior Liberté (ver o post abaixo), mas ainda não sei a que escolher.

"Freedom is the freedom to say that two plus two make four. If that is granted, all else follows" George Orwell, 1984

Vai fechar o ano daqui a pouco. Se o tempo é de balanço e de recolher dividendos, apenas posso dizer que a minha felicidade condicional é uma merda, pouca coisa me foi favorável este ano, para além dos vários "dramas" que fui vivendo. A outra felicidade, por outro lado, nunca esteve tão bem.
Escrevi há uns dias que quantas menos mentiras me contam mais mergulho na ilusão. A minha ressaca de mentiras é uma trip acordada, portanto. Não confio em mim para destrinçar entre realidade ou ficção aquilo que acontece ou aquilo que apenas é sonhado por mim. As duas realidades são muitas vezes indistintas, porque na verdade o mundo só existe fantasiado na minha mente, e quanto mais me aproximo da sua realidade concreta mais se assemelha a um sonho acordado.
Vivi 23 anos aqui, e outros tantos dentro de mim, estou por isso velho e cansado, com a idade própria daqueles que simplesmente anulam a esperança e mergulham na ficção que criaram para o mundo ordeiro, com sentido e consequência. A verdade não é essa porém.
No hay banda...
Não há entidade corpórea que viva esta vida, esta consequência, ou falta dela. O tempo e o silêncio encarregam-se do resto.
A verdade é que não sabes o que é o momento, não o vives, não o experiencías, o momento passou, já nasceste e vais morrer, a única consequência entre esses 2 pontos é que um justifica o outro.2+2 são 5, a verdade é esta, e trocamos o 5 por 4 por que desejamos que faça sentido, condicionalmente, como os triângulos com 3 lados, e os cubos com 6.
No meu triângulo recto, na hipotenusa cabe mais do que a raiz quadrada da soma entre os quadrados dos catetos, cabe o meu mundo inteiro e sobra espaço para a felicidade, as condições, a rectidão e a moral, e ainda sobra espaço, um espaço por preencher com qualquer coisa.
A pessoa sábia, disse também que tu não tens tanta força como quando descobres que não tens força nenhuma. Eu acrescentei que não és melhor ou pior por isso, somaram-te qualquer coisa (talvez nesse espaço que falta para completar a hipotenusa).
O mundo não faz sentido, nem tem que fazer, porque raios é que tem que fazer?
A morte não é absurda? O Rui Reininho não é absurdo? Os cones do trânsito não são absurdos?
No final tudo se resume a uma questão proabilística, coisa que eu nunca compreendi muito bem.
No final a pessoa sábia vê um um avatar mais luminoso, uma mente mais completa, uma realidade mais concreta.
Eu não vejo nada disso, mas também não sou uma pessoa sábia, tenho só uma enorme fome de aprender, se tivesse todas as respostas era feliz, condicionalmente como é próprio de mim, mas a ignorância é uma benção quando o mundo faz sentido e nada te vem dizer que é absurdo...


Ahhh... devia ter ficado com as primeiras impressões...
Ou então não.


Este post é dedicado à pessoa sábia, Tiago "Meireles" de seu nome.


P.S.- estou a escrever à uma hora e meia, 5 cigarros e uma cerveja, é um post grande, mas se se deram ao trabalho de vir aqui também o podem ler até ao fim. Mainada.

Thursday, December 07, 2006

Be Your Own PET - Adventure

Não precisa de "text"

Wednesday, December 06, 2006

Modern Way

"Hoje preciso de um pois, preciso de um sim. O que é que queres de mim, hoje sinto-me assim."


Sinceramente, já não me lembro.

Não é nada de mais, a sério, mas no entanto parece ser a coisa mais difícil deste mundo, não porque fosse irrealizável, mas tão só porque não confio. Em cada acto, consequência, em cada acção reacção, porque não tenho direito a um parêntesis, que seja breve, pode durar apenas segundos, mas um verdadeiro intervalo entre representações?
E queria, queria reconhecer que sou frágil, por vezes.
Queria tão só esse instante sem medo, em que pudesse contar sem resposta sentimentos em vez de palavras, sem ter medo do medo, sem ter medo de mim. Queria esse instante seguro do tempo, como se o mundo se passasse tão longe dali que nada mais restasse do que apenas uma memória sem rosto.
Não são mais que segundos, segundos de verdade, sem a hipocrisia do orgulho, mas sobretudo sem medo. E se pedisse, pedia um abraço e um silêncio, um silêncio mútuo justificado em si mesmo, em que a ausência de palavras não fosse uma fórmula desconfortável, mas apenas uma outra forma de comunicarmos. E o teu olhar, o teu olhar sem medo, o teu olhar sem juros e represálias, o teu olhar seguro para olhar, um olhar que eu procurasse sem vacilar.
E a verdade por fim, não aquela que contamos a nós mesmos, mas aquela que rasga as nossas entranhas com ânsia por ver a luz, a verdade que não nos condena, a mesma verdade que compõe o que somos, que nos corre nas veias, que nos trespassa o olhar, aquela que descobrimos quando abandonamos as expectativas e os preconceitos, quando desistimos de procurar no outro um vislumbre de nós mesmos.
E queria-te diferente de mim, que fosses uma pessoa, que fosses tão só individual, que soubesse que existias não por causa da nossa descontinuidade corporal, mas sim por causa de me mostrares que és por ti, diferente de mim.
E não preciso que compreendas, nem preciso que respondas, nem sequer preciso que me toques e me despertes desse torpor intimista, não preciso que ouças, porque é mais provável que nada diga, aquilo que te quero mostrar não se enrola com palavras para uma mais fácil digestão. Quero que ouças o timbre da verdade enquanto quebra o silêncio entre nós, quero que vejas o que me atravessa o olhar, quero que sintas no teu paladar o fel e o sal do que sinto, quero que a tua pele se arrepie com os fantasmas que invoco, quero que sintas com o teu olfacto muito para além do "eternity CK" o meu cheiro a humano.
Eu apenas queria ser, sem medo, frágil, diferente, humano como tu.
Não sou deste tempo moderno. Um tempo com medo do silêncio, que preenche cada lacuna com palavras e ilusões, um tempo onde ser frágil é um pecado do ego e uma negociação colectiva regido pelas leis do mercado, um tempo onde o mundo que nos rodeia é tão só uma extensão de nós mesmos.
Sou, portanto, um despatriado do tempo.

Vou beber chá de menta perfumado com limão e canela, tenho um cd dos "the editors" para explorar e um original em Inglês de George Orwell "Nineteen Eighty-Four" para ler. O Benfica joga logo, se ganhar prometo a mim mesmo uma cerveja, talvez me traga mais próximo do tempo em que estou a viver.

Monday, December 04, 2006

Black Rose


Cansam-me os dias, as horas e os minutos. Gasto-me nas noites. Envelheço numa varanda debruçado sobre mim.

São luzes amarelas, são luzes pálidas e intermitentes que cintilam vencendo o negrume da noite e o véu de chuva e nevoeiro. As pessoas são pequeninas e vagueiam sem rumo. Os gatos só saem à noite, atravessando a rua rapidamente para depois se esconderem debaixo dos carros estacionados.

São as noites de outros tempos, a noite das memórias, a noite das histórias, uma noite de calor. São sombras inconstantes que habitam este mundo, que se perdem e transfiguram, que se incendeiam de raiva e de paixões, ou cintilam de esperança, ou se abandonam ao desespero.

São apenas noites, que se perdem, mas que não se sabem encontrar. São os rostos dos fantasmas que me tocam na pele e me arrepiam, são os túneis intermináveis e vertiginosos que me tragam, são os abismos que percorro sem saber se o verdadeiro caminho estará em cair.

É o nevoeiro sem fim e o cansaço que me vence, às vezes, à noite. Aos sons que se distanciam e que ecoam transmutados, a voz original perde-se nas suas paredes, na sua escuridão perversa, na sua distância do tempo.

Alternativas entre sonho, ficção e realidade, que se confundem e entrelaçam, numa mente confusa, numa mente cansada. Vejo rosas negras, e explosões de sal contra o negro da noite, e cavalos alados que voam como morcegos, vejo tanta coisa... sem saber se é verdade ou não...

Não sei, nem desconfio, quanto menos mentiras me contam mais mergulho na ficção.
Já não conto memórias, conto histórias onde cabem todos os príncipes e princesas deste mundo e do outro, onde há ogres, dragões, elfos e duendes, onde no final de cada arco-íris há sempre um pote com ouro. Não durará 1001 noites, nem lhe peço mais do que uma, a sedução das rosas negras compôs o bouquet prostrado no monumento ao soldado desconhecido.

A decisão mais difícil da minha vida, foi deixar-te partir, sem pedir que ficasses.

Sunday, December 03, 2006

Artic Monkeys - Fake Tales Of San Francisco

Hoje senti-me assim toda a noite!...
Who wants to kick me out?