Thursday, March 03, 2011

interflora

she stole the keys to my house...
and then she locked herself out...

irónico, não é?
que nos encontremos sentados numa sala, a jantar
estou cansado, consegues ver isso em mim?
será da semana passada, o certo é que vou mastigando sem grande prazer e empurrando com um pouco de vinho a conversa que fazes questão de manter ligada a noite toda, como um rádio ligado à corrente
a seguir dizes-me que vamos a um bar que conheces, um que fica por cima do mondego
expões o programa em frente ao espelho enquanto te maquilhas e colocas um vestido curto
desta vez fizeste questão de convidar um amigo teu
um daqueles que habitualmente detesto, um arrogante com o ar de quem leu um ou dois livros a mais e me enerva com as citações inoportunas de kafka ou baudelaire
suspiro
as nossas noites fazem-se sempre deste caminho e não de outro
como uma linha que me divide em dois
depois destas noites raramente durmo
fico acordado ao teu lado a olhar o tecto branco sobre nós
cada falha enche-se lentamente como um lago, e deixo cair sobre ele, a conta-gotas, pequenos pedaços de mim
fico a imaginar que do outro lado não se encontra mais água... mas todo um caminho até ao céu...
de certa forma não me gasto, apenas me reúno com as estrelas
sou um pó que se incendeia numa fracção de segundo, que se volatiliza, que se transforma em luz
e que após uma viagem longa vai banhar o teu corpo nú
portanto não sonho verdadeiramente em regressar, o regresso está-me tão vedado como todo o espaço infinito que se abre entre nós
verdadeiramente sonho em terminar em luz, como uma vela, terminar em ti
e conforta-me pensar assim...
muito mais do que me conforta aquele apartamento frio em que me acolhes por uma noite com a mesma indiferença que dedicarias a uma partícula de pó
muito mais do que esta cama que partilhas comigo, ou aquele copo que me pagas-te no bar sobre o mondego
estamos todos um pouco sozinhos, fazes questão de notar, quando me despedes na manhã seguinte
e procuramos sempre algo de nós... terminando num beijo

julgamos que nos aquecemos assim, nesta paixão
mas só de noite, sozinhos, quando rodamos na cama e à nossa frente não estás tu, mas uma parede em branco é que julgamos saber
que o que verdadeiramente ilumina os nossos dias
são os nossos sonhos lançados à corrente do infinito...

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