Tuesday, August 23, 2011

Marta

não é no meu colo
não é de onde vim
não é do que trago na mão
não é nada de mim em nada do que faço

no fundo não te trago nada, apenas descrença
descrença a mãos cheias a envenenar-me a alma
por isso são apenas mãos que te tocam, não tem nada de mágico nelas, não tem qualquer tipo de salvação, perdem-se no ar, entre o espaço que nos separa, ficam paradas ou desenham figuras, fazem um pouco de tudo, mas não fazem nada daquilo que lhes peço
destinam-se apenas a calcorrear caminhos, destinam-se apenas a sujar-se de poeira, não se destinam a nada
destinam-se a encontrar o próximo segundo de existência, a colaborar nesta farsa
destinam-se apenas ao instante seguinte e nada mais
não lhe importam consequências
tens menos vida do que elas, e já sabes um pouco mais da vida, fazes algo mais com elas
se pudesse dar-te energia, se pudesse arrancar-te do chão, se pudesse fazer dos teus dias algo mais do que um combate perdido, encontrarias a meio caminho as minhas, será que me devolverias ao chão?

será que se pudesses me amarrarias ao chão?

será que na verdade o desejarias se por milagre, as pudesses levantar, se na verdade o pudesses saber, se na verdade as encontrarias
ou na verdade apenas tens um peso em cada uma delas e te encontras amarrada ao chão
amarrada ao ruído constante que trazes contigo, aos fios que de ti pendem amarrados com fitas cor de rosa
dizem-te que és menina mas não viverás tempo suficiente para saber o que é ser mulher
e desconfia se te disserem que precisas de tempo
se servir de alguma coisa, estou aqui eu para provar que é mentira
não são os anos que fazem de ti pessoa
é esse abraço que trocas com a tua mãe, esse vinculo indissociável que te prende a ela, mais forte que qualquer abraço
é nessa saliva que vertes sem te poder conter sobre o ombro da tua mãe
o que estamos ambos, tu e eu a fazer aqui?

passamos há muito o nosso tempo limite, a nossa data de validade expirou e apenas queremos voltar ao tempo que conhecemos, ou que imaginamos feliz
queremos terminar por aqui
como terminam os 15 minutos de fama com que engano o presente, a troco de algo
queremos terminar por aqui
e ligam-nos aos 2 à vida, por um cordão umbilical difícil de discernir
queremos cortá-lo sem ter ferramentas para tal
queremos desligar da corrente, queremos parar

e ambos temos a certeza
que o nosso coração parará, porque simplesmente
ele já bateu demais.

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