Friday, April 06, 2007

Caixa

Blame it on the black star...


Não é mais que um passo.
Uma última fronteira que ultrapassamos, com apenas um passo, sabendo que toda a nossa estranheza reside em todos os milhares de pequenos passos que nos levaram lá.
E parecia estranho esse destino, estranho nos momentos em que ainda andávamos despreocupados com ele, tão certos do que temos, tão cheios do que temos, tão reais como a caixa de madeira que seguras com as mãos, sabendo de cor todos os passos que levaram tu e ela, a estarem juntos naquela noite, mesmo desejando tu, estar num outro lado.
Quando a minha pele desliza alisando o seu interior não se fere nas farpas que dela escapam, ferem-se nas esquinas da memória, da memória que prende igualmente coisas e pessoas que lhe vão preencher o fundo.
Um dia, em que as fronteiras estavam longe, pensaste que nesta caixa não haveria espaço para todos os teus sonhos, que eles se escapariam entre as frestas e os espaços, que se acabariam por se impor inevitáveis. Agora que a fechas, surpreende-te que ainda vejas o seu fundo castanho, desejando por algo mais que o preencha.
O vazio que deixas nessa caixa entre folhas, entre coisas, entre fragmentos esparsos de uma vida que não voltará jamais ocupa-se de algo maior. E intuitivamente sabes que mais importante do que o que depositas é esse espaço entre coisas, esse universo infinito que se ocupa de um silêncio que procuras não ouvir com o volume no máximo, que se ocupa dessa alma indefinida que te abandona, desse outro eu que te olha, do outro lado do espelho, no fundo de uma caixa quase vazia.
Há quem diga que o silêncio não se ouve, pois aqui está ele gritando, a cada segundo.
Haverá quem diga que o fumo não se agarra, e ele aqui está desenhando as formas dos meus próprios fantasmas.
Há todo esse espaço, entre coisas vazias que se agarram às formas teimosas, teimosas como eu enquanto colo vagarosamente a tampa e as deixo repousar.
E não há quem me desminta que conversarão entre si, quando não olho. Serão as únicas que falarão de mim, quando não estiver...


\even in his youth, Nirvana the list is growing...

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