Friday, April 13, 2007

Passeio Nocturno


Já experimentaram sair à noite com a impressão da cidade ser só vossa?
Passarem nas ruas que conhecem do dia, sempre tão cheias de vida, de luz, despidas de tudo isso para se mostrarem completamente nuas?
Já escrevi sobre isso aqui, como sempre costumo fazer faço-o através de símbolos, essas pequenas chaves que bem utilizadas vão destrancando as portas do nosso labirinto até ao nosso interior. Faço-o quando digo que despidas da luz e da vida, as sombras brincam com a nossa percepção do espaço, sítios onde já passamos inúmeras vezes parecem-nos completamente desconhecidos pois vão ganhando uma profundidade muito maior com as sombras, por outro lado há algo que se escapa sempre pelo canto do olho, como se as ruas sem vida se enchessem de fantasmas (quantas vezes os nossos) que podemos pressentir se levarmos a alma aberta para isso.
Por outro lado parece que os prédios respiram pesadamente sobre nós. Mais uma vez, se formos preparados para isso conseguimos sentir subtilmente como a temperatura do ar varia consoante a casa que ladeia o nosso caminho se acha ou não habitada. Ou então são os cheiros, todo um manancial de odores que parecem contar a história daquelas paredes. É como se as casas quisessem falar connosco, quisessem que nós parassemos por um instante e se as conseguissemos escutar contariam as histórias que quem lá vive ou viveu.
Se é bonito? Não sei, de certa maneira é como o resto da nossa vida: complexa. Não se faz só de emoções e diálogos, faz-se sobretudo de paixão, da nossa paixão em vivê-la, em senti-la completamente, sem qualquer noção sobre o bem e o mal. Encontramos prostitutas, ressacados, traficantes, proxenetas e pederastas, homens do lixo, da Vamp e dos albergues, não é seguro, não é seguramente fácil, é até assustador, mas mesmo assim eu faço.
Porquê? Por ser louco sobretudo. E por querer falar com as casas, e comigo mesmo, e sentir uma liberdade inusitada, quase selvagem, como se toda a cidade fosse minha, e eu fosse dela.
Já o fiz nas diferentes cidades em que vivi (que são 4), mas nenhuma me encanta tanto como o Porto. É sujo, degradado, extremamente perigoso, repleto de "bichos" da noite mas tem uma personalidade como nenhuma cidade no mundo, e não o sei explicar de outro modo.
As noites fazem-me bem. Aclaram-me o pensamento e servem, muitas vezes, para virar a página na história da minha vida. Por vezes as memórias acompanham-me mas na maior parte das vezes caminho só.
De resto, caso se cruzem comigo uma noite, sou o que sou, um tipo que saiu aquela noite para um passeio solitário, aquele tipo de pessoas que vos obrigam a atravessar a rua com medo quando os avistam ao longe.

\Radiohead, Ok Computer

4 Crossroads:

Blogger Different said...

Como te entendo :) Qualquer dia "travisto-me" de homem para o poder fazer.

9:32 AM  
Blogger Daniel C. said...

Na, isto são coisas de louco.
E tenho a sorte de nunca ter tido problemas de maior, desconfio que do alto do meu 1,68mt e com os meus 55 kilitos não afasto ninguém...

É libertador de facto, mas deve haver formas mais normais para o fazer, sem necessidade de vestires a "pele do inimigo" ;)

Bjinho

6:34 PM  
Blogger aquelabruxa said...

e as manhãs silenciosas e cristalinas? são de uma pureza...

3:10 PM  
Blogger Daniel C. said...

Nhé, isto são só as minhas tendências "noir"... Tipo blog.

;)

Bjinho

11:37 PM  

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