Thursday, December 24, 2009

Damaged Good

"meu sonho tem boca
que o digam meus ossos
tem dois olhos...
sobre a nuca
e reza todos os dias
e em todas as horas
houve 1 tempo
sem mentira
sem
sem mentira"

Ocupo um espaço transparente entre 2 mundos complexos.
Um deles é aquele que quase todos vocês atravessam, o outro é aquele sobre o qual apenas poucos sonham.
Não sei de qual deles falo quando digo que numa rua qualquer, em qualquer mundo, me tenho que desviar de todos os acidentes de percurso que acontecem à minha frente como fragatas encalhadas por falta de farol.
A minha agilidade desenvolve-se de acordo com essas subtis variações de sentido que o futuro imediato me prepara entre passos nos limites incandescentes de uma estrela gigante... sim podemos dar-lhe uma cor, e chamar-lhe de estrela gigante azul.
E de repente lançam-me um anzol, algures de cima há quem mergulhe um pontão de chumbo atado a uma linha e esta atada a um fino filamento de metal curvo que se há-de enganchar na minha boca para me retirar do meu meio natural.
O pescador, um pouco duro de ouvido por sempre ter estado a pescar junto ao velho motor de diesel fumegante, ignora o maralhar das ondas que pressagia uma luta difícil para trazer o peixe a bordo. Contrariamente a um bom aviso, insiste na luta, sob condições que, para qualquer outro lobo do mar, estariam mais próximas do fracasso do que de uma empresa com sucesso capaz de trazer a comida até à mesa de quem fica em casa...

Adiante.

Um velho idiota, talvez não cego mas certamente surdo, ignora os sinais que o mar lhe dá e resolve, ainda assim, lançar o isco. Com tanta falta de aviso não o deveria surpreender que em vez de um peixe calibrado, preparado, e certamente saboroso, lhe saiu este peixe miúdo que pouco mais serve do que para servir de isco a outras presas melhores.
Mas ainda assim, depois de me arrancar o anzol com um alicate de pontas, ou por ser surdo ou por ser simplesmente idiota, o velho decide atirar-me para o fundo de um cesto praticamente vazio para a companhia de peixes com mais valia. Não me devolveu ao mar.

E naquele Natal, uma família pobre sem poder comprar um bacalhau mais graúdo, fez a sua ceia com um magro e pobre exemplar dessa espécie.

Do outro mundo o peixe apenas maldizia a sua sorte por não haver no mundo outros tantos idiotas, surdos ou simplesmente cegos que o condenem a um azar igual, por mais uns dias, em vez de o devolver liminarmente ao mar como o [insira o título aqui] que ele era.

/Violet colour

Tuesday, December 22, 2009

|Back|

Porque acabamos, de uma forma ou de outra, a voltar ao início de todos os caminhos.



The Way...


Voltou.