Saturday, November 13, 2010

G.F.

As pessoas bonitas têm 2 nomes próprios.
Quando os chamamos, invariavelmente, temos de repetir um após o outro.

As pessoas bonitas, com 2 nomes próprios, podem e devem dizer vacuidades. Os lugares comuns adquirem sempre um pó transcendental quando são entoados por pessoas com 2 nomes próprios. Também ajuda que ninguém lhes corte o discurso a meio, ou que ninguém vá contra eles num corredor estreito porque não o viram passar.
As pessoas bonitas, com 2 nomes próprios, sorriem sempre nas fotografias. E usam gel às vezes. E seguramente não têm dúvidas ou não as apoquenta a multiplicação de factores que um simples encontro provoca.
Das pessoas bonitas, com 2 nomes próprios, não são esperados actos de contrição, não são lembrados em horas de aperto, não os procuramos quando queremos falar. Às pessoas bonitas, com 2 nomes próprios, pedimos sorrisos e uma vaga ao seu lado.
As pessoas bonitas, tem sempre 2 nomes próprios, não têm raiva, não têm medo, não têm dor, não têm ódio, têm convites aos fins de semana, e montes de fotos em pilhas espalhadas no corredor.

As pessoas bonitas, com 2 nomes próprios...



:)

humpf

:)

Friday, November 05, 2010

The movie on your eyelids

Podemos os dois andar a procurar a mesma coisa, um pouco de calor no final de um dia frio, ou uma lareira onde queimar, abraçados, as tralhas que vamos coleccionando dos dias.

Podíamos encontrar o que procuramos naquele fim de dia, frio como não podia deixar de ser. Podíamos encontrar alguma coisa ali, mais do que o meu ombro duro onde encostavas a cabeça podias pedir, ou simplesmente deixar, que te acariciasse o cabelo com a ponta dos meus dedos, podias deixar que o tempo passasse sobre nós... podias simplesmente deixar que o amanhã viesse para te encontrar no mesmo lugar, abraçada a mim... e eu podia, claro, da minha parte, rasgar o véu que nos separa e convidar-te para ficar... pois se todo o meu corpo pede a tua vida, não estranhas que as palavras se atropelem para sair, tingindo o céu da boca com um sabor mais amargo do que este cigarro que seguro na mão?

Podíamos, pois claro, os dias são cheios de possibilidades, mas não para nós. Vê-mo-las nos outros, passando de acaso em acaso até encontrarem o momento certo. Mas se tu não o dizes, digo-o eu, e porque não? Se as nossas ironias se fazem de punhos fechados e esperas inúteis, se as nossas ironias se cristalizam em frente a edifícios antigos, ganhando a cor cinzenta das estátuas e o inevitável pó que as acompanha, se as nossas ironias existem, porque não existirão respostas?

E a resposta é essa. A resposta é ambos sabermos, tão bem como nos conhecemos, que no fundo, no fundo, não procuramos calor, procuramos um eterno sonho perdido na parte de trás da nossa mente, procuramos a imagem por detrás dos nossos olhos e com isto, nunca saberemos ver quem temos à nossa frente.

Brinco contigo, mas é só de raiva. Raiva por me saber vencido por uma ideia, raiva por te deixar perder por outra. Rio-me um pouco. Afinal, ao final do dia, ainda conservamos o calor, no meu ombro ainda está impresso o teu perfil e no teu cabelo ainda persiste o meu cheiro, mas na altura em que nos despedimos, meu amor, vamos, cada um para seu lado, procurar uma data de moinhos para combater.


Preferimos assim, e está muito certo, sabemos excessivamente bem o que queremos e não nos contentamos com menos.
O teu cavaleiro branco chegará numa noite azul, e a tua história de vida não terá mais que um ponto final.
Para mim, que quero uma ideia, tudo isso me parece estranho, um pouco absurdo talvez.
Mas no fim do dia, estando ambos sozinhos, percebo, tão bem como tu, que nos apaixonamos demais pela nossa ideia de amor... tanto mesmo que em nós não restou mais espaço para acolher o outro, ao final de um dia frio, num Inverno qualquer.

Wednesday, November 03, 2010

Corda

Andamos todos, cada um à sua medida, a tentar evadir uma enorme parede de tijolos que há-de amparar a nossa queda.

Seja porque apenas queremos permanecer no ar, seja porque de alguma maneira conhecemos pessoas e acreditamos que elas nos poderão dar asas para voar, o que nos sustenta é essa leveza na queda, ou a insustentabilidade das forças, ou todas as outras coisas que se vão espalhando no caminho e nos olham, na sua ausência de alma, para o trajecto possível e o inevitável fim de todas as coisas.

São lugares comuns, como passadeiras que unem os 2 lados de uma mesma rua, são os lugares comuns que ainda nos prendem. Dizemos uma fórmula que aprendemos em segredo e acreditamos nela com tanta força que sustentamos o embate e crescemos sobre ele, atrás dele um outro, e ainda sobre este crescemos, crescemos quando já perdemos as forças, crescemos quando o nosso corpo dorido já não suporta mais dor.

E por muito fraco que seja, por muito inalcançável que seja, por muito errado que seja (chamemos as coisas pelos nomes, porque não?) ao final do dia, se nos é permitido falar, se nos é permitido pedir, apenas queremos um lugar seguro onde pousar...
Não queremos perguntas, nem explicações, não queremos soluções, não nos contentamos com nada, queremos algo a que possamos chamar de paz, algo a que possamos chamar de nosso, algo que possamos tratar por mundo, algo que possamos cuidar e preservar, algo que una o nosso corpo e nos levante muralhas, algo que nos separe...
Algo que seja, simplesmente, uma pausa merecida num eterno combate.

Porque ninguém aprende a viver com medo, sobrevive-se a ele, como animais encurralados que somos, prontos a morder a mão que se aproxima, prontos a saltar sobre a presa, mas sempre, sempre incapazes de viver sobre palavras andando sobre elas, com os nossos pés descalços e as nossas mãos estendidas procurando uma nesga de sol.