Saturday, April 28, 2007

Já sou uma pessoa crescida!


Eu gosto particularmente de crescer.
No meu percurso pessoal, crescer, é muito simplesmente contrariar aquilo que anteriormente tomava como certo.
O que não deixa de ser interessante!
E provavelmente irónico.
Culpa das hormonas ou da previsível força da gravidade não fui homem para botar muito corpo, coisa que seria extremamente limitadora caso eu tivesse nascido nos tempos dos meus bisavós e passasse os meus dias na sempre saudável lida do campo, mas que nos dias que correm não me causa muito transtorno. Quer-se dizer, e agora vou cometer uma inconfidência, certo dia uma amiga minha no dia de ratear a beleza dos nossos colegas de curso presenteou-me com um honroso lugar no top 5, mas não sem antes acrescentar que se tivesse mais 10 cm em cima de mim passaria sem grande dificuldade para o segundo posto.
Adiante, admitindo a minha parca estrutura, em vez de crescer para cima ou para os lados interessou-me crescer cá dentro, nesse sempre moroso e interessante processo de desenvolvimento/descobrimento pessoal.
E se há verdade neste processo é que foi feito em grande parte de contradições.
Deixar na minha mudança de pele, uma grande parte das minhas convicções moralistas, por uma mais interessante capa de anarquismo de esquerda. Como ter cá dentro um Paulo Portas que se transforma em Miguel Portas, passe o exagero.
E se há coisa que aprendi, é que não aprendi coisa nenhuma, o certo é que me esqueci de grande parte das coisas que sabia para encarnar numa pessoa mais vazia de ideias, mas mais flexível na hora de agir e pensar.
Surpreende-me por isso as pessoas com escrúpulos. Daquele tipo de pessoas que opinam terrivelmente sobre as acções dos outros, classificando-as de acordo com a sua escala de valores, de modo a produzir uma hierarquia de conhecimentos e amigos.
Outro género de pessoas que me surpreende, são aquelas que por muito que lhes digam o contrário permanecem na sua linha de acção ignorando as consequências. Há que lhes dar valor por isso, permanecem geralmente na nossa ideia colectiva como seres orgulhosos e destemidos, destinados a grandes feitos. A mim provoca-me curiosidade a sua personalidade atípica e a total ausência de dúvida, acreditam piamente nas suas acções, tão piamente que não questionam, e muito menos duvidam que aquela era o melhor modo de agir. Nessas pessoas o caminho (o The Way) apenas se faz numa direcção, sempre em frente, inquestionável.
Outros vivem na dualidade entre personalidades opostas e contraditórias que subsistem lado a lado numa esquizofrenia de acção e personalidade. São os mais interessantes de todos, porque a sua liberdade reside nessa completa ou aparente ausência de lógica condutora, e sua flexibilidade é assombrosa, conseguem perfeitamente manipular uma escala de valores ou princípios de forma a enquadrar a sua acção. Geralmente terminam sendo também exemplares do que aqui foi escrito no parágrafo anterior, ou se forem muito esquizofrénicos, tendem a ser exemplares do primeiro tipo.
Eu já vi pessoas muito boas, e pessoas muito más. Para mim é que não eram boas nem más, porque já vi os primeiros a fazerem coisas muito más e os segundos fazerem coisas terrivelmente boas. O que não deixa de ser estranho. Paralelamente, como sou uma pessoa estranha, dou por mim a questionar incessantemente as minhas acções passadas, deve ter a ver com aquela coisa de eu já não ter muitas certezas ou certezas nenhumas. Outra coisa que tenho é que tendencialmente sou muito mais duro comigo mesmo do que com os outros. Deve ser por isso que tenho dúvidas, o que por outro lado me dá a certeza de ser um péssimo gestor, porque esses nunca têm dúvidas e raramente se enganam.
Deve ser por isso que eu gosto de crescer, continuo a pensar que quanto mais velho sou mais certezas inabaláveis terei.
O que é mesmo estranho é que se passa exactamente o oposto.
Por isso a minha certeza é que duvido que alguma vez tenha certezas.
Confusos?

9 Crossroads:

Anonymous Anonymous said...

nan..nada mesmo.(baixote)

6:42 PM  
Blogger Daniel C. said...

Olá,

obrigado pela visita e pelo comentário :)

acho que me tenho que esforçar mais então, é o dilema da minha vida, o mesmo acontece quando tento chegar a uma prateleira mais alta, o que vale é que tenho sempre um escadote à mão.
Quem me conhece diz que posso ser mais lento mas que chego lá na mesma ;)

Bjinho

8:39 PM  
Anonymous Anonymous said...

então já tás no bom caminho, interessa é lá chegar.
bjinho pra ti também. (baixote giro, quase em 2º)

10:02 PM  
Blogger Eme said...

ohpah.. eu sou daquelas que pensa que o tamanho não interessa.. mas só nalguns casos, claro. Coooofff
A sério.. há gigantes que batem da ombreira da minha porta e que têm o cérebro do tamanho de uma ervilha. Enfim...

Olha também aderiste a esse coiso de ficar em silêncio na segunda feira? bolas.. amanhã nem posso falar!!

9:59 AM  
Blogger aquelabruxa said...

não, nada confusa... ;-)

1:16 PM  
Blogger M. said...

olha outa bruxaaaaaaaaaaa!!muito gotas tu de bruxas dani.. ou será que são elas que gotam de ti? hun?

wwowwwwwwwwwwwwwwwwww

4:16 PM  
Blogger Daniel C. said...

Aquela Bruxa,

É um facto: não consigo mesmo confundir ninguém ;)
Está-me no sangue
Bjinhos


Morgaine,
looool
Eu não sou pequenino, sou condensado ;)
E sim parece que aderi, vou-me calar porque já estou farto de falar das coisas erradas deste mundo. Se uma coisa não funciona é melhor mudar de estratégia...
Em relação ás bruxas pareço ser um amuleto wicca, eheh, e eu adoro bruxas! Tanto que a minha relação com elas é sempre especial, já me lançaram feitiços vários e algumas maldições, mas nc me deixaram de atrair ;) ah, e são excelentes visitas no meu blog tb!

Bjinhos

6:52 PM  
Blogger nelio said...

é curioso pensar que com a tua idade estava precisamente no mesmo sítio. é preciso desconstruir toda a carga que nos foi impingida pela educação e pela formatação social, para depois construirmos de novo por nós próprios. hoje em dia, umm pouco mais velhinho, já tenho algumas certezas (poucas, de resto) e nalgumas tornei-me fortemente (arrgh!) moralista. duas ou três que considero fundamentais. o problema é passar por esta vida sem questionar e aceitar todas as balelas que nos contaram como dados adquiridos. gostei muito do teu blog, vou-me linkar.
1 abraço

2:17 PM  
Blogger Daniel C. said...

É esse tipo de experiência que ainda me vai arrastando na minha desconstrução.
Se o politicamente correcto de agora é estar nessa área cinzenta, onde parece difícil ou estranho falar de certo ou errado, resta perguntar. E perguntar ainda consegue ser bastante melhor do que "aceitar todas as balelas que nos contaram como dados adquiridos"...
Gostei particularmente do teu comentário, obrigado pelo elogio, pelo comentário e pelo link, espero estar à altura!

Abraço

3:06 AM  

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