Wednesday, April 25, 2007

O Centro




Haverá talvez a possibilidade de existência de um ponto equidistante ao resto de mim, onde o equilíbrio se faça pelas imensas forças que me fazem gravitar, ao redor de conceitos, de palavras, imagens e memórias, de todo um mundo de trajectórias que pretendo alterar apenas com a minha presença.
Há essa possibilidade, como muitas mais, essa vontade férrea de não naufragar quando a tempestade levanta, por esperar por esse mar chão que às vezes aparece, quando nas praias apenas procuro a luz do dia à sombridão da noite.
Não tenho escuna ou galeão, não procuro âncora, ou um lastro possível, o certo é que me atrai mais a luz azul dos relâmpagos a um horizonte claro de esperança.
Não percebem, quando gravitam como planetas em meu redor, que o meu mundo equidistante é possível mas não provável, que não me construo de sorrisos nem me encho de ar, que a velocidade com que transito é o que me faz estar parado em frente deles.
Essa possibilidade existe, como existe um céu por cima de nós e um chão por baixo, e algures no meio as regras que me colocarão de cabeça para cima, existe quando o atravesso correndo, onde posso contemplar os pedaços esparsos de mim, ao alcance de uma mão que se animasse a agarrá-los.
Mas atravessando-o desconheço como parar, sempre com medo, sempre intuindo que uma nova equidistância ocorrerá por vontade dessa força cósmica que rearranja as peças todas do meu mundo, sem uma ordem que lhe seja possível.
Talvez porque o centro é esse ponto de equilíbrio que não procuro para não me conformar às coisas, às pessoas, aos momentos que me aparecem, a todo um conjunto de coisas que raspando a sua superfície de verniz se acham tão ou mais desconexas do que eu.
Dizia um dia que a nossa vida oscilava entre equilíbrios, entre estados de alma que procuramos contrariar procurando o oposto... saciávamos a nossa sede de vida nesse desiquilíbrio constante, fazendo da nossa vontade contrariar o que temos, procurando algo mais, ou algo menos, apenas algo que sonhamos ser melhor para não escutar esse derradeiro silêncio conformado.
Procurando o amor e tendo a paixão, procurando paixão e tendo o amor...

Fui à praia nestes dias de sol.
E tudo me pareceu desenquadrado, fosse pela hora, ou pela companhia, estive nesse sitio de areia grossa onde tantas vezes lancei questões para me serem devolvidas. Estive querendo estar do outro lado, olhando o mesmo oceano ou outro diferente, mas que fosse visto por outros olhos que não os meus, que fosse com outra alma que se banhasse naquele azul cristalino e visse o seu reflexo sem temer. As horas dos dias tiraram-lhe a profundidade do luar, mas aquele mar que continua a ser meu, não se importa com isso, não se importa com as coisas que deslizam na sua superfície de vidro.
Estava lá numa das raias de um ponto equidistante.
E só soube olhar para o outro lado.
Procurando um outro centro.
Que eu desconheço.

1 Crossroads:

Blogger Eme said...

Também fui à praia hoje.Não estava sol mas o vento falava enquanto as ondas atiravam ao ar os salpicos de espuma branca. Esquece-se tudo, até a pureza do silêncio, quebrado apenas pelo som do mar, do vento e dos gritos de algumas gaivotas. São instantes mágicosmonde gozamos o simples prazer de pisar o chão, de contar os nossos passos, e por momentos,deixar o mundo para trás quando mergulhamos o olhar na cor das águas. Ali, somos nós o centro. os lados,por momentos, nem importam.

10:41 PM  

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