Thursday, September 20, 2007

18


Fui ver estes senhores ao Coliseu do Porto, dia 18. (Massive Attack)
Um daqueles concertos fetiche, a minha vida não estaria completa sem os ver ao vivo.

Actuação demasiado "clean", continuo a achar que tocam muito bem, mas falta-lhes improviso e conectarem com o público nas actuações ao vivo.

Alas, pese embora os 40º de febre, foi o momento alto da semana.


Descobri uma banda Portuguesa excelente, vai editar um novo álbum no próximo mês, até lá podem espreitar os

The All Star Project

Muito bom, fiquei fã.


Saturday, September 15, 2007

11 garrafões de mim...


Hoje acordei ressacado, com o sabor amargo da vingança colado ao céu da boca, por muito esforço que fizesse não conseguia descolar a língua, pronunciar qualquer som.
Descobri que o que me arrasta da cama, pelas manhãs submersas, pelas madrugadas que acordo depois de horas insuficientes de sono, é incomparavelmente mais forte que o mais forte sentimento de vingança que me mova.
Por isso não me levantei à hora certa, não consegui encontrar um ritmo, não conseguia abrir os olhos que permaneciam colados não querendo ver o dia a nascer...
Arrastei-me para o banho onde me demorei mais do que o que devia, vagarosamente escovei os dentes e dei um jeito ao cabelo, olhando como se nunca as tivesse visto para as minhas olheiras, para o meu rosto cansado.
Saí de casa tardíssimo, sem me preocupar muito com o tempo, incomodava-me todo o excesso de ar, todo o excesso de luz e de espaço que me separava do meu objectivo final.
Tomei um café vagaroso, demorando-me a acender um cigarro. O seu sabor acre e forte, mesmo esse, não me conseguiu arrancar nenhum som, não me pacificou, não me soube bem.
Acelerei para lá, pedindo sangue. Por vezes a melhor recompensa que se tem na vingança não é a morte do adversário mas sentir o sabor da sua carne entre os nossos dentes, sobre a nossa lingua, sentir o sabor do sangue ainda quente a escorregar pela nossa garganta humedecida pelo excesso de saliva.
No ar estava aquele cheiro metálico que se eleva dos campos de batalha, aquele silêncio perturbador antes do primeiro grito de guerra. Não fazia nada excepto preparar-me para esse instante perfeito em que cravaria na carne de todos os que me fizeram mal, uma lança afiada, uma lança afiada pelo meu ódio, uma lança vagarosamente esculpida nos dias em que sofria, em que não dava conta da sua passagem entretido que estava a construir esse fio de vida que apenas significava morte. Era uma lança comprida, uma lança comprida pelo tempo, pelo alcance do sentimento, uma lança que de um lado dizia "sucesso", dizendo do outro lado "dor".
Entrei no espaço sabendo ao que ia, avançava destemido com toda a confiança que o meu escudo e o meu pouco medo da morte me davam.
E de súbito não estavam lá.
Não estavam lá.
Não estava lá quem me tinha ferido, não estava lá quem me tinha matado, não estavam lá os assassinos, os perversos, os cretinos, não estavam lá as pessoas, os heróis da mediocridade, os hipócritas, os falsos, os vendidos...
Mas de repente dei conta...
Eu também não estava lá...
Estava um desconhecido armado, desejando sangue e o término das coisas... procurava um ponto final vermelho para uma história trágica, procurava fechar aquele selo no calor da batalha...
O que aquele desconhecido queria era matar-se não era matar.
E como todos os condenados à morte, prolongou os seus últimos momentos em vida...
Agora que o seu algoz faltava à sua própria execução, descobrira, que todo o seu esforço teria sido em vão.
Descobria que se não fosse tão cobarde como temia que fosse, o único destino a dar à lança seria a de a cravar no próprio peito, matando à partida um desconhecido que apenas conhecia o sabor da batalha e que nunca na vida descobriria como viver em paz.
A essas pessoas, desconhecidas, resta uma morte honrosa em batalha com que justificar os seus dias...
Ao próprio, ao conhecido de mim, falta a coragem para partir a lança no peito do desconhecido de mim...
E entre esses dois há esse confronto velado, como dois inimigos frente a frente, tão equilibrados que acordaram tacitamente em não se atacar por não quererem destruir o mundo em que vivem.
O desconhecido virou costas e saiu.
Hoje, pelo menos para ele, não haveria batalha a travar.
Saiu tão contrariado como o conhecido tinha entrado ali.
Saiu respirando rápido e destilando ódio. Há falta de pessoas para matar, esbracejava tentando atingir os seus próprios fantasmas. Passou o resto do dia mal, olhando de soslaio para o conhecido, avaliando a sua própria capacidade para inflingir dor e se esta bastava para acabar de vez com aquele cobarde que não lhe dava um destino merecido.
O conhecido sentou-se a um canto e esperou pela noite chorando, queria ter a capacidade para o libertar daquele destino guerreiro, queria matá-lo. Mas ao contrário do outro, não tinha ocupado os seus dias a esculpir lanças, nem a afiar uma espada que pudesse utilizar agora.
Só havia um destino, matar ou ser morto ali, por todas as batalhas perdidas reclamando vingança seja pela espada ou pela indiferença.
Mas ambos persistem em campos opostos... e na paz armada que se vive, o que sobra é uma intensa revolta que quer desfazer o mundo e quem lá vive.

Pergunto-me se quando decidiste quebrar as tuas próprias tréguas, quando um dos teus lados venceu, porque não aproveitas-te aquele ímpeto para matar um de mim?
Mas agora que penso...
Agora que penso nisso, e não sei se é a verdade, é apenas a minha resposta... não foi esse ímpeto que me dividiu em dois?

Thursday, September 06, 2007

A Essência

"... e descobriram que não podiam trabalhar por ele, teriam de trabalhar sempre COM ele..."


Enchem-se de gritos pela noitinha.
Mostram as medalhas enceradas das suas vitórias pessoais a quem só sabe responder com o desdém de um sentido de humor elevado.
Revoltam-se com isso e gritam ordens como impropérios.
Saraivada de uma chuva de verão, depois disso o silêncio e uma paisagem que transcorre ao longo de uma estrada sem carros.
Procuram-se aliados nos corredores e conspira-se. Se um clama por aquela ajuda divina sabendo que não vem, os outros todos esgotam-se em estratégias conspirativas e punhaladas nas costas.
Contra toda uma muralha de pragmatismo, vagas sucessivas de nomes, palavras gritadas, ordens e insinuações. E um sorriso brilhante com os olhos clarinhos da cor de um mar tropical.
Quando a vara não chega aliciam com promessas e doces comprados numa espelunca rançosa ao virar da esquina, falam do que não sabem ou erguem-se sobre a ponta dos pés procurando ser notados na sua magnífica insignificância,... mas parem... têm medalhas bem à frente no peito, e não se encerram em casa, antes passeiam na rua com todos os seus traumas e cicatrizes esquecendo todos aqueles esqueletos de culpa e remorso que deixaram em casa.
Chamam-lhe de exemplo e oferecem-no a cada gesto sem perceberem que a maioria já viveu muito mais do que aquilo e que mesmo aqueles que não viveram estão demasiados interessados nas suas batalhas pessoais para se importarem com recordações de batalhas passadas de uma guerra que não tiveram.
Falam de coragem, excepto daquela que lhes falta para abrirem a porra dos olhos e verem que o essencial não se muda, o essencial permanece muito para além da ferrugem que já começa a corroer os bordos de medalhas antigas.
Tens o momento, e tudo aquilo que te falta para atingir o próximo. E não se trata da suprema arrogância com que me fitas, nem do teu suposto pudor que te acolhe quando o rubor aparece na tua cara quando vestes os calções curtinhos e utilizas a mão para tapar tudo aquilo que não queres que se veja.
Não me mudas nem por um segundo e pedes-me que te mude por completo num só toque, queres de mim milagres quando eu só sei oferecer truques de algibeira, não, o que te move é tão diferente de mim como a noite é diferente do dia, e não, nunca precisei da tua autorização para saber como sorrir.
Há quem me diga, no outro universo que fica do outro lado da rua, que a verdadeira natureza de uma pessoa nunca se altera. Eu acrescento, mas a essência evolui.
Evolui quando lutam comigo num campo de batalha pequenino e se surpreendem por terem perdido estrondosamente e eu que nem sequer tive que apresentar um peão no campo de batalha.
O meu jogo faz-se de armadilhas e embuste, de dissimulação e engano, e como tal sou estratega, venço batalhas escavando poços quantas das vezes para me enterrar a mim próprio.
Fervem por sangue e querem pintar todos os machados e lanças de vermelho vivo, e eu que nem um escudo apresento.
Por tanto quererem lutar, olham sempre para baixo, olham sempre para o chão, se apenas se dessem ao trabalho de olhar para cima conseguiriam ver-me tão claro e transparente quanto a água que corre aos seus pés, mas não o fazem, mas nunca o fazem.
Por tanto quererem vencer, nunca se apercebem do fácil que seria e enredam-se irremediavelmente em todos os meus fios sem perceberem que quanto mais lutam mais eu me afasto de mim.
Quando encontram o meu fantasma, julgando conhecer-me já perderam a guerra julgando ter ganho a batalha.
Não lhes tirem a satisfação da vitória, nem a mim todo a bendita espessura deste manto com que cubro o que sou dos olhos do mundo.

Tuesday, September 04, 2007

Departure Lounge


Ele não é um nome, é um número.
Não chega a ser uma pessoa, ele é um facto. É um acontecimento fortuito, um produto do acaso.
Ele não chega a ser, mas persiste.
Dizem que não fala nada de interesse, que insiste em dar trabalho por se agarrar demais à vida, dizem que o seu tempo já passou, que ele não é deste mundo.
Dizem que lhe falta originalidade, criatividade, bom senso, dizem que só está bem quando bebe, ou quando fuma, ou quando anda, se senta simetricamente e faz as coisas certas pela família de bem.
Dizem que cada nódoa negra é culpa de outrem, diz que não viram, que são doentes e perversos, que lhe querem mal, que não o suportam nos dias, que não o conseguem ouvir durante as noites.
Mas sobretudo, dizem que a cabeça lhes dói quando acordam, e não se vão levantar...
"Deixá-lo ir"
Enganado
"Vai, mas não voltes"
Perde-te no caminho, morre, pára de vez.
Morre.
Isto é um assalto.


Ela permanece calada quando ele lhe toca.
E quando vem trazer de mansinho, o copo de água que lhe pediu.
Ela não tem nada que seja seu, e no entanto persiste, indivisivel.
Ele pediu-lhe para lhe roubar o corpo aos pedacinhos, ela assentiu.
Contando que demoraria toda uma vida, protelou, até que o fez um dia e descobriu, que em uma hora apenas já possuia todo o seu corpo, e a aridez que entrevia entre os poros se assemelhava a um deserto de ideias que nada faria supor.
Desiludiu-se pensou, de facto, nada lhe interessava para além do corpo que segurava com as mãos sobrando-lhe espaço para levar qualquer coisa à boca, sería um cigarro talvez.
Bocejava.
Nada daquilo lhe interessava para além da rotina de a ter entre os dedos, insignificantemente entrelaçada. Pensava que romperia qualquer vinculo que fosse com um simples afastar dos seus dedos, que ela lhe escaparia por entre eles até ao chão, partindo-se em todos os bocadinhos que ele um dia foi buscar, todos os bocadinhos que se varrem para baixo do tapete da memória, e que se esquecem ao final do dia sentado à beira mar.
Ela surpreendeu-o quando lhe disse "não te quero ver aqui" depois da noite.
Se soubesse que aquela teria sido a última, ter-se-ia comportado melhor.
Se soubesse que aquela teria sido a última, teria aproveitado mais.
Assim, apenas acordou ao lado dela como um desconhecido acorda numa ilha deserta.
Deu-lhe meia hora para aprender a fazer fogo, pescar peixes com um pauzinho afiado e descascar cocos com uma pedra afiada.
Depois disso lançou-o ao mar, e disse-lhe "não te quero ver aqui" jamais.
Ele engoliu as primeiras gotas de água pela manhã e souberam-lhe a sal.
Soube que estava no meio do mar e que tinha que aprender a nadar.
Enquanto aprendia a nadar, esqueceu-se de como se fazia fogo, de como se pescavam peixes e se abriam cocos.
Quando a boca lhe soube a terra, deitou-se de costas, para descobrir que aquele sol queima mais do que esperaria e lembrou-se dela.
Durante 100 anos, não vais poder voltar, disse-lhe o mar.
Durante os teus 100 anos terás de aprender a pescar, caçar, fazer fogo, e abrir a fruta com pedras.
Quando te cortares, sangrarás por 100 anos.
Depois dos 100 anos curarás as tuas feridas com sal.
Por cada ano, 100 cicatrizes.
Por cada ano tirar-te-ei 100 dias de vida.
Até o teu corpo doer e te pedir paz.
Eu dar-te-ei 100 anos.
E nunca, mas nunca, poderás voltar.
Mas tens uma ilha... e duas mãos para usar.


" Well I never came from no ghetto
But it wasn't nowhere near here
Well-spoken girls in stalletoes
Aren't something to fear"
Arctic Monkeys, Cigarette Smoker Fiona

Saturday, September 01, 2007

Indícios.

Quando encontro pessoas conhecidas na rua, pessoas que tenho que forçosamente cumprimentar, quando por mais do que uma vez me perguntam indicações, e pior, muito pior do que isso, eu as sei dar detalhadamente e em pormenor, tudo isso me indica que o meu tempo aqui já passou.