Friday, March 11, 2011

frances farmer will have her revenge on Seattle

Havemos de chegar a algum lado não é?
Mais não seja quando o telemóvel tocar discretamente a um canto da sala e nos desperte a ambos para a realidade dura que nos espera lá fora
a troca terminou, é tempo de dizer adeus
de fazer a conta ao que ganhamos e ao que perdemos com isto
de levar connosco um cheiro entranhado na roupa e nas mãos, e a alma suja por tão baixo cairmos
havemos de fazer um balanço, e claro, chegaremos a qualquer sítio...
mesmo que nos surpreendamos com o destino
mesmo que acreditemos que na verdade merecíamos estar noutro lado qualquer, o que sobra ao fim do dia é o local onde estamos e não aquele onde desejaríamos estar
à margem anotaremos promessas, e sonhos, e coisas
uma data de tralha inútil que cai como aparas de madeira da mesa polida dos dias
não nos servirá de nada, ou alterará o balanço
e é todavia, na margem das páginas que encontramos um sentido oculto qualquer que nos permite aguentar os dias
chamamos-lhe cada dia um nome diferente, é feito da mesma matéria dos sonhos e é tão intangível como eles
é aquilo que nos cansa e nos permite passar a noite sem pensar em mais nada que não em dormir
é aquilo que nos conduz à loucura, ao impulso, à vela ardendo sobre um móvel barato
e nós deitados sob a sua chama tremeluzente perguntando insistentemente sobre de que maneira chegamos ali
não há resposta, só uma acção indiferente e mais uma coisa impossível, ardendo ao lado da vela, velando por nós, esperando que mais uma coisa apareça e nos canse, e nos remeta de novo para a cama sem outro sonho ligado que não memórias distantes, disformes, distópicas de um futuro que apenas arriscamos a sonhar, faltando em nós coragem, ou um balanço positivo que seja, para o deixarmos tomar conta dos dias, sem este cheiro entranhado nas mãos que nos dá a volta ao estômago e não nos deixa dormir...
amanhã é sexta mas podia ser outro dia qualquer, as pálpebras pesadas insistem em lembrar-me da noite cerrada que ainda me espera quando me obrigo a acordar
vou trocar piadas a troco de nada
receber uma medalha, por outro trabalho bem feito
e à minha volta, como uma nuvem, persiste um miasma
o teu cheiro colado ao meu corpo
a memória da tua pele sobre a minha
e tudo isto me cansa se não passasse sobre os dias contabilizando, como contas de vidro, algo porque trocar mais um pouco de ar, mais um pouco de espaço, mais  um pouco de mim
algo que se escapa como areia por entre os dedos, como nevoeiro perante o sol
como uma história que contamos
sem poder terminar, como desejaríamos, como o mais reles e pobre conto de fadas.

0 Crossroads:

Post a Comment

<< Home