Tuesday, March 21, 2006

prudence/one love/my redemption


é bom saber que o caminho se encontra traçado desde a partida, e que as escolhas estão feitas pela previsibilidade dos sentimentos e que mesmo assim se desconhecem.
caminhos fáceis de traçar e percorrer, ditados pela mesma força, pelo mesmo orgulho de querer vencer e traçar a pulso o seu próprio caminho, o resto é posto de lado, sai fora de uma vontade perfeita. É fácil de ver como o caminho se traça e não se desvia, como se escolhem formas e conteúdos, vontades e decisões, para o resto ignorar...
e continua, no pálacio dos egos acarinhados, vaidades pessoais e escolhas de fim e pressuposto, mudanças que não atingem qualquer propósito, salvação que não se alcança, acomodar-se a perder, como acidentes de percurso ou destino que se traça paralelamente a um caminho escolhido apenas com a força de uma vontade...
e se a vontade falhar?
não falhará certamente, o orgulho é demais, a certeza de lutar, lutar sempre, lutar contra tudo, pelas certezas que não se abalam, pela autoconfiança de vencer...
já lá estive e sei, sei que no fim todos os vencedores se acham sozinhos no topo das suas conquistas e disfrutam do prazer e do privilégio de poderem escrever velhas histórias de mitos, que bardos conscienciosos irão cantar à lareira de um qualquer rei por um quinhão da sua ceia e um cálice de vinho perfumado de especiarias...
e no fim do livro que se escreve, das histórias de conquistas e de medalhas pessoais, surgem histórias de derrotas que se esquecem e não se contam, resultados de erros externos a um general vencedor.
histórias de derrotas que gelam corações e partem lanças, que escondem esqueletos no armário, e persistem como calafríos, nas solitárias noites nos velhos campos de batalha na velha tenda do general invicto e orgulhoso...
e eu vejo, vejo passos que marcam pegadas de sangue, vejo circulos que esconjuram velhas bruxas desdentadas com risos sarcásticos, e vejo um velho general que traça a cada golpe de espada limites invisiveis contra os velhos fantasmas de outros tempos, de outras batalhas...
eis um general que ganhou e exibe medalhas, como moedas num baú demasiado fundo, eis um general que se pavoneia e cuja capa de carmim se recobre do pó dos anos, eis o general cuja espada perdeu o brilho oxidada pelo sangue, eis o general cujas costas curvadas carregam tantas vitórias como derrotas...
vejo-o ai curvado sobre a escrivaninha, escrevendo, com a mesma força que sempre teve, manejando a pluma com a mesma perícia com que manejou a espada que lhe traçou o caminho, escreve um último capítulo e sorri orgulhoso...
e um fantasma que vem e suavemente coloca a mão no ombro do velho general e sussurra:
"tu nunca estiveste só, olha o caminho queimado, e as velhas árvores carcomidas, cujos ramos partiram com o peso dos enforcados, o sangue corre livre como o vinho que celebra as tuas conquistas, vê a tua força que agora desvanece...mas segue o teu caminho vacilante, tu sabes: tu nunca olharás para trás..."

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