Wednesday, December 06, 2006

Modern Way

"Hoje preciso de um pois, preciso de um sim. O que é que queres de mim, hoje sinto-me assim."


Sinceramente, já não me lembro.

Não é nada de mais, a sério, mas no entanto parece ser a coisa mais difícil deste mundo, não porque fosse irrealizável, mas tão só porque não confio. Em cada acto, consequência, em cada acção reacção, porque não tenho direito a um parêntesis, que seja breve, pode durar apenas segundos, mas um verdadeiro intervalo entre representações?
E queria, queria reconhecer que sou frágil, por vezes.
Queria tão só esse instante sem medo, em que pudesse contar sem resposta sentimentos em vez de palavras, sem ter medo do medo, sem ter medo de mim. Queria esse instante seguro do tempo, como se o mundo se passasse tão longe dali que nada mais restasse do que apenas uma memória sem rosto.
Não são mais que segundos, segundos de verdade, sem a hipocrisia do orgulho, mas sobretudo sem medo. E se pedisse, pedia um abraço e um silêncio, um silêncio mútuo justificado em si mesmo, em que a ausência de palavras não fosse uma fórmula desconfortável, mas apenas uma outra forma de comunicarmos. E o teu olhar, o teu olhar sem medo, o teu olhar sem juros e represálias, o teu olhar seguro para olhar, um olhar que eu procurasse sem vacilar.
E a verdade por fim, não aquela que contamos a nós mesmos, mas aquela que rasga as nossas entranhas com ânsia por ver a luz, a verdade que não nos condena, a mesma verdade que compõe o que somos, que nos corre nas veias, que nos trespassa o olhar, aquela que descobrimos quando abandonamos as expectativas e os preconceitos, quando desistimos de procurar no outro um vislumbre de nós mesmos.
E queria-te diferente de mim, que fosses uma pessoa, que fosses tão só individual, que soubesse que existias não por causa da nossa descontinuidade corporal, mas sim por causa de me mostrares que és por ti, diferente de mim.
E não preciso que compreendas, nem preciso que respondas, nem sequer preciso que me toques e me despertes desse torpor intimista, não preciso que ouças, porque é mais provável que nada diga, aquilo que te quero mostrar não se enrola com palavras para uma mais fácil digestão. Quero que ouças o timbre da verdade enquanto quebra o silêncio entre nós, quero que vejas o que me atravessa o olhar, quero que sintas no teu paladar o fel e o sal do que sinto, quero que a tua pele se arrepie com os fantasmas que invoco, quero que sintas com o teu olfacto muito para além do "eternity CK" o meu cheiro a humano.
Eu apenas queria ser, sem medo, frágil, diferente, humano como tu.
Não sou deste tempo moderno. Um tempo com medo do silêncio, que preenche cada lacuna com palavras e ilusões, um tempo onde ser frágil é um pecado do ego e uma negociação colectiva regido pelas leis do mercado, um tempo onde o mundo que nos rodeia é tão só uma extensão de nós mesmos.
Sou, portanto, um despatriado do tempo.

Vou beber chá de menta perfumado com limão e canela, tenho um cd dos "the editors" para explorar e um original em Inglês de George Orwell "Nineteen Eighty-Four" para ler. O Benfica joga logo, se ganhar prometo a mim mesmo uma cerveja, talvez me traga mais próximo do tempo em que estou a viver.

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