All Sparks
Há uma pessoa sábia (com a qual espero continuar a aprender, por muitos anos e em muitos sítios), que me ensinou umas quantas coisas.
Há, no entanto, lições, que ninguém nos pode ensinar, nem ninguém nos vai poder contar como vai ser, há certas coisas pelas quais tens de passar para poderes dizer que esta ou aquela realidade faz parte de ti, e que a integrarás nas tuas palavras, nas tuas acções. Há objectivos que ninguém vai ser capaz de ter mostrar, por muito "self-evident" que possam parecer, és cego antes de ver. És apenas isso, cego.
A primeira coisa que essa pessoa sábia me mostrou, é ver, para além daquela visão egocêntrica que temos do mundo, que os dramas e os sucessos tão infinitos e poderosos apenas cabem dentro dos limites de ti próprio.
A segunda lição que essa pessoa sábia me mostrou, é tão só perder os rótulos que sistematicamente colocamos para o mundo fazer sentido, e aceitar, "bem" e "mal" como meras consequências, ou menos do que isso, como meros caminhos que nos conduzirão mais perto daquilo que desejamos ser. "Não existem vitimas, existem co-criadores"
A terceira lição, e talvez a mais importante, pelo menos para mim, é que a "felicidade" seja lá o que isso for não existe cá fora, mas sim dentro de nós.
Na faculdade, acho que isto se passou no 2º ano creio eu, houve uma professora que nos pediu que escrevêssemos qualquer frase ou palavra ou desenho numa folha de papel, as quais depois de misturadas seriam distribuidas aleatoriamente pelos alunos. Cada um tinha que ler ou mostrar o conteúdo do que tinha recebido para toda a turma, e reflectir sobre o que tinha visto. Como é óbvio as folhas eram anónimas. Posteriormente a pessoa que tinha sido responsável pelo conteúdo desse papel relataria à turma as suas verdadeiras intenções em relação áquele conteúdo. Foi das coisas mais relevantes na minha "academia", para além da Regência, da dinâmica de grupos, do grunho, da cabra de Pediatria, das francesinhas a meio da tarde, dos gráficos de Maitland, da "fracção de ejaculação" e de tantas outras coisas.
Eu escrevi o poema "Viagem" de Miguel Torga, o meu poema preferido, que sei de cor desde a primeira vez que o li, mas antes de falar sobre o que esse poema significa para mim convém falar antes sobre o que a maioria dos meus colegas escreveu. Seriam 20 ou 30 os "carpe diens" que foram surgindo antes que chegasse a minha vez. Todos falaram mais ou menos na mesma temática de capturar o momento, vivê-lo, aproveitá-lo sofregamente, todos reflectiram sobre o "objectivo", sobre a "felicidade", "naturalidade", "essência", "verdade". Quando chegou a minha vez, quem leu o que escrevi, pensou que me referia ao mesmo, por outras palavras... "em qualquer aventura o que importa é partir não é chegar" dizem os 2 últimos versos desse poema, e foi disso que eu falei. Durante 5 minutos discursei sobre como era estranho para mim esse positivismo lógico de quem quer ter num segundo um motivo para viver e simultaneamente um objectivo de vida, de como para mim a vida era um absurdo de momentos desconexos que nós articulávamos com medo da aleatoriedade dos sentimentos, das palavras, das consequências. Para mim, os corvos não são todos negros. De como o único momento importante seria o da partida, e o menos importante o destino, pois todos sabiamos qual era, e este seria comum a todos nós. Disse: "a vida não tem que ter sentido, a vida acontece, o resto é absurdo" entre outras coisas.
De então para hoje, algures, perdi essa noção.
Não estou certo qual das duas estará correcta, por preferência escolhi a segunda.
Há quem diga que a felicidade é algo condicional, como a certeza que o céu se sucederá a uma vida moralmente correcta. Não conhecia outra versão dos factos antes de conhecer essa pessoa sábia, é portanto natural escolher o que nos é próximo. Se a felicidade é condicional, depende de algo, ninguém é feliz naturalmente, depende da chuva e do sol, das pessoas, do dinheiro, do sexo e de tantas outras coisas. Posso então dizer que sou feliz por causa de alguém, dou-lhe esse poder, e se todos os outros factores falharem ainda continuarei a ser feliz? Ou ainda, se a pessoa com poder decidir que o vai usar de modo diferente ao pretendido, a nossa felicidade terminará? E ainda, se essa pessa com poder, se tornar infeliz, como poderá exercer esse poder?
Porque se há verdade absoluta, é que todos andamos por cá a tentar ser feliz.
E se, imaginemos, só se, a nossa felicidade não for condicional, mas sim emanar de nós mesmos? Não teremos nós o poder para subtilmente influenciar o que nos rodeia, para se sintonizarem com o que sentimos? Ou mesmo que não tenhamos, ser feliz per si não será a maneira menos hipócrita de o ser?
Porque uma felicidade condicional não é mais do que uma forma de dependência egocêntrica.
Haver uma outra forma de pensar poderá significar maior Liberté (ver o post abaixo), mas ainda não sei a que escolher.
"Freedom is the freedom to say that two plus two make four. If that is granted, all else follows" George Orwell, 1984
Vai fechar o ano daqui a pouco. Se o tempo é de balanço e de recolher dividendos, apenas posso dizer que a minha felicidade condicional é uma merda, pouca coisa me foi favorável este ano, para além dos vários "dramas" que fui vivendo. A outra felicidade, por outro lado, nunca esteve tão bem.
Escrevi há uns dias que quantas menos mentiras me contam mais mergulho na ilusão. A minha ressaca de mentiras é uma trip acordada, portanto. Não confio em mim para destrinçar entre realidade ou ficção aquilo que acontece ou aquilo que apenas é sonhado por mim. As duas realidades são muitas vezes indistintas, porque na verdade o mundo só existe fantasiado na minha mente, e quanto mais me aproximo da sua realidade concreta mais se assemelha a um sonho acordado.
Vivi 23 anos aqui, e outros tantos dentro de mim, estou por isso velho e cansado, com a idade própria daqueles que simplesmente anulam a esperança e mergulham na ficção que criaram para o mundo ordeiro, com sentido e consequência. A verdade não é essa porém.
No hay banda...
Não há entidade corpórea que viva esta vida, esta consequência, ou falta dela. O tempo e o silêncio encarregam-se do resto.
A verdade é que não sabes o que é o momento, não o vives, não o experiencías, o momento passou, já nasceste e vais morrer, a única consequência entre esses 2 pontos é que um justifica o outro.2+2 são 5, a verdade é esta, e trocamos o 5 por 4 por que desejamos que faça sentido, condicionalmente, como os triângulos com 3 lados, e os cubos com 6.
No meu triângulo recto, na hipotenusa cabe mais do que a raiz quadrada da soma entre os quadrados dos catetos, cabe o meu mundo inteiro e sobra espaço para a felicidade, as condições, a rectidão e a moral, e ainda sobra espaço, um espaço por preencher com qualquer coisa.
A pessoa sábia, disse também que tu não tens tanta força como quando descobres que não tens força nenhuma. Eu acrescentei que não és melhor ou pior por isso, somaram-te qualquer coisa (talvez nesse espaço que falta para completar a hipotenusa).
O mundo não faz sentido, nem tem que fazer, porque raios é que tem que fazer?
A morte não é absurda? O Rui Reininho não é absurdo? Os cones do trânsito não são absurdos?
No final tudo se resume a uma questão proabilística, coisa que eu nunca compreendi muito bem.
No final a pessoa sábia vê um um avatar mais luminoso, uma mente mais completa, uma realidade mais concreta.
Eu não vejo nada disso, mas também não sou uma pessoa sábia, tenho só uma enorme fome de aprender, se tivesse todas as respostas era feliz, condicionalmente como é próprio de mim, mas a ignorância é uma benção quando o mundo faz sentido e nada te vem dizer que é absurdo...
Ahhh... devia ter ficado com as primeiras impressões...
Ou então não.
Este post é dedicado à pessoa sábia, Tiago "Meireles" de seu nome.
P.S.- estou a escrever à uma hora e meia, 5 cigarros e uma cerveja, é um post grande, mas se se deram ao trabalho de vir aqui também o podem ler até ao fim. Mainada.
Há, no entanto, lições, que ninguém nos pode ensinar, nem ninguém nos vai poder contar como vai ser, há certas coisas pelas quais tens de passar para poderes dizer que esta ou aquela realidade faz parte de ti, e que a integrarás nas tuas palavras, nas tuas acções. Há objectivos que ninguém vai ser capaz de ter mostrar, por muito "self-evident" que possam parecer, és cego antes de ver. És apenas isso, cego.
A primeira coisa que essa pessoa sábia me mostrou, é ver, para além daquela visão egocêntrica que temos do mundo, que os dramas e os sucessos tão infinitos e poderosos apenas cabem dentro dos limites de ti próprio.
A segunda lição que essa pessoa sábia me mostrou, é tão só perder os rótulos que sistematicamente colocamos para o mundo fazer sentido, e aceitar, "bem" e "mal" como meras consequências, ou menos do que isso, como meros caminhos que nos conduzirão mais perto daquilo que desejamos ser. "Não existem vitimas, existem co-criadores"
A terceira lição, e talvez a mais importante, pelo menos para mim, é que a "felicidade" seja lá o que isso for não existe cá fora, mas sim dentro de nós.
Na faculdade, acho que isto se passou no 2º ano creio eu, houve uma professora que nos pediu que escrevêssemos qualquer frase ou palavra ou desenho numa folha de papel, as quais depois de misturadas seriam distribuidas aleatoriamente pelos alunos. Cada um tinha que ler ou mostrar o conteúdo do que tinha recebido para toda a turma, e reflectir sobre o que tinha visto. Como é óbvio as folhas eram anónimas. Posteriormente a pessoa que tinha sido responsável pelo conteúdo desse papel relataria à turma as suas verdadeiras intenções em relação áquele conteúdo. Foi das coisas mais relevantes na minha "academia", para além da Regência, da dinâmica de grupos, do grunho, da cabra de Pediatria, das francesinhas a meio da tarde, dos gráficos de Maitland, da "fracção de ejaculação" e de tantas outras coisas.
Eu escrevi o poema "Viagem" de Miguel Torga, o meu poema preferido, que sei de cor desde a primeira vez que o li, mas antes de falar sobre o que esse poema significa para mim convém falar antes sobre o que a maioria dos meus colegas escreveu. Seriam 20 ou 30 os "carpe diens" que foram surgindo antes que chegasse a minha vez. Todos falaram mais ou menos na mesma temática de capturar o momento, vivê-lo, aproveitá-lo sofregamente, todos reflectiram sobre o "objectivo", sobre a "felicidade", "naturalidade", "essência", "verdade". Quando chegou a minha vez, quem leu o que escrevi, pensou que me referia ao mesmo, por outras palavras... "em qualquer aventura o que importa é partir não é chegar" dizem os 2 últimos versos desse poema, e foi disso que eu falei. Durante 5 minutos discursei sobre como era estranho para mim esse positivismo lógico de quem quer ter num segundo um motivo para viver e simultaneamente um objectivo de vida, de como para mim a vida era um absurdo de momentos desconexos que nós articulávamos com medo da aleatoriedade dos sentimentos, das palavras, das consequências. Para mim, os corvos não são todos negros. De como o único momento importante seria o da partida, e o menos importante o destino, pois todos sabiamos qual era, e este seria comum a todos nós. Disse: "a vida não tem que ter sentido, a vida acontece, o resto é absurdo" entre outras coisas.
De então para hoje, algures, perdi essa noção.
Não estou certo qual das duas estará correcta, por preferência escolhi a segunda.
Há quem diga que a felicidade é algo condicional, como a certeza que o céu se sucederá a uma vida moralmente correcta. Não conhecia outra versão dos factos antes de conhecer essa pessoa sábia, é portanto natural escolher o que nos é próximo. Se a felicidade é condicional, depende de algo, ninguém é feliz naturalmente, depende da chuva e do sol, das pessoas, do dinheiro, do sexo e de tantas outras coisas. Posso então dizer que sou feliz por causa de alguém, dou-lhe esse poder, e se todos os outros factores falharem ainda continuarei a ser feliz? Ou ainda, se a pessoa com poder decidir que o vai usar de modo diferente ao pretendido, a nossa felicidade terminará? E ainda, se essa pessa com poder, se tornar infeliz, como poderá exercer esse poder?
Porque se há verdade absoluta, é que todos andamos por cá a tentar ser feliz.
E se, imaginemos, só se, a nossa felicidade não for condicional, mas sim emanar de nós mesmos? Não teremos nós o poder para subtilmente influenciar o que nos rodeia, para se sintonizarem com o que sentimos? Ou mesmo que não tenhamos, ser feliz per si não será a maneira menos hipócrita de o ser?
Porque uma felicidade condicional não é mais do que uma forma de dependência egocêntrica.
Haver uma outra forma de pensar poderá significar maior Liberté (ver o post abaixo), mas ainda não sei a que escolher.
"Freedom is the freedom to say that two plus two make four. If that is granted, all else follows" George Orwell, 1984
Vai fechar o ano daqui a pouco. Se o tempo é de balanço e de recolher dividendos, apenas posso dizer que a minha felicidade condicional é uma merda, pouca coisa me foi favorável este ano, para além dos vários "dramas" que fui vivendo. A outra felicidade, por outro lado, nunca esteve tão bem.
Escrevi há uns dias que quantas menos mentiras me contam mais mergulho na ilusão. A minha ressaca de mentiras é uma trip acordada, portanto. Não confio em mim para destrinçar entre realidade ou ficção aquilo que acontece ou aquilo que apenas é sonhado por mim. As duas realidades são muitas vezes indistintas, porque na verdade o mundo só existe fantasiado na minha mente, e quanto mais me aproximo da sua realidade concreta mais se assemelha a um sonho acordado.
Vivi 23 anos aqui, e outros tantos dentro de mim, estou por isso velho e cansado, com a idade própria daqueles que simplesmente anulam a esperança e mergulham na ficção que criaram para o mundo ordeiro, com sentido e consequência. A verdade não é essa porém.
No hay banda...
Não há entidade corpórea que viva esta vida, esta consequência, ou falta dela. O tempo e o silêncio encarregam-se do resto.
A verdade é que não sabes o que é o momento, não o vives, não o experiencías, o momento passou, já nasceste e vais morrer, a única consequência entre esses 2 pontos é que um justifica o outro.2+2 são 5, a verdade é esta, e trocamos o 5 por 4 por que desejamos que faça sentido, condicionalmente, como os triângulos com 3 lados, e os cubos com 6.
No meu triângulo recto, na hipotenusa cabe mais do que a raiz quadrada da soma entre os quadrados dos catetos, cabe o meu mundo inteiro e sobra espaço para a felicidade, as condições, a rectidão e a moral, e ainda sobra espaço, um espaço por preencher com qualquer coisa.
A pessoa sábia, disse também que tu não tens tanta força como quando descobres que não tens força nenhuma. Eu acrescentei que não és melhor ou pior por isso, somaram-te qualquer coisa (talvez nesse espaço que falta para completar a hipotenusa).
O mundo não faz sentido, nem tem que fazer, porque raios é que tem que fazer?
A morte não é absurda? O Rui Reininho não é absurdo? Os cones do trânsito não são absurdos?
No final tudo se resume a uma questão proabilística, coisa que eu nunca compreendi muito bem.
No final a pessoa sábia vê um um avatar mais luminoso, uma mente mais completa, uma realidade mais concreta.
Eu não vejo nada disso, mas também não sou uma pessoa sábia, tenho só uma enorme fome de aprender, se tivesse todas as respostas era feliz, condicionalmente como é próprio de mim, mas a ignorância é uma benção quando o mundo faz sentido e nada te vem dizer que é absurdo...
Ahhh... devia ter ficado com as primeiras impressões...
Ou então não.
Este post é dedicado à pessoa sábia, Tiago "Meireles" de seu nome.
P.S.- estou a escrever à uma hora e meia, 5 cigarros e uma cerveja, é um post grande, mas se se deram ao trabalho de vir aqui também o podem ler até ao fim. Mainada.
Correcção: o Rui Reininho é deliciosamente absurdo.
Lol, tenho de te dar razão :)
E é bem mais alto ao vivo do que parece na tv...
Carradas de Charme!
Perdoa-me as minhas limitaçoes no que a divagaçoes filosóficas diz respeito não me permitirem um comentario à altura, mas q arrisque registar apenas duas ou três coisinhas...
Primeiro q essa pessoa sábia tem toda a razao qd te diz q a felicidade emana de nós proprios, mt mais do pelas condiçoes q lhe impomos. Imputar essa procura a factos ou pessoas alheias mais não é do q uma soluçao confortavel, sofisma do destino, refúgio deliciosamente cómodo qd 2+2 nao dão 4.
Mais, continua a ter razão qd afirma q não descobres q tens tanta força a n ser qd n tens força alguma. Bem o tens provado. Agora junta estas duas premissas e completa a equaçao.
É q com absurdos ou sem eles, este mundo continua a ter algumas coisas pq vale a pena viver nele. Que o diga Rui Reininho... :)
gd abxo