Thursday, June 22, 2006

7 cm

Contigo construí uma casa, numa praia deserta, numa ilha perdida...
Deixei-te repousar enquanto a erguia sobre os meus sonhos e esperanças
(ah, como esperava que esses fossem
os alicerces fortes sobre os quais
permanecería imutável
para sempre jovem por ti!)
Embelezei-a depois, com as contas de vidro que procurávamos
Na praia dos dias
Revesti as paredes de conchas e corais
Que juntos procurávamos no fundo daquele mar
Que pensamos ser só nosso...
Veio então o dia em que cheguei,
Como habitualmente fazia,
A uma casa vazia...
E sem saber quem se perdeu
Se eu ou tu, ou o destino,
Vi como numa ilha deserta
O sol desapareceu para não voltar.
Sentado no alpendre onde dormíamos as tardes bucólicas
Saboreio cigarros à espera do fim
Já não durmo
Apenas caio aos pés do cansaço
Para me despertarem fantasmas
De ti...
E os alicerces partidos corroídos e cobertos pela poeira dos dias que passam
Já não sustentam aquilo que
Apenas é
Ruína de mim
O futuro ainda está aqui, entre conchas e contas de vidro verdes
Perdido de mim
Sou agora o fantasma da ilha
Que se assombra a sí mesmo
Alma penada, errante dos dias, errante das horas que conta
Num relógio partido.
O Adeus
(se é que o houve)
Lembra estilhaços de vidro
E pecados comuns.
Sobra apenas o dia em que cheguei ali...
E não te vi
Perdido, de ti e de mim...
E uma noite cai sem prometer
Um novo dia
Foi tudo uma mentira
E eu escondi-me dela
Fazendo uma casa
Perdida
Numa ilha qualquer.

Coimbra, 26/06/2006

Wednesday, June 21, 2006

Constant Air Supply...


"...You'd have been better to stay round our Way
Thinking about things but not actually doing things"



Houve um dia uma gaivota estranha que pousou num candeeiro qualquer, e grasnou, com a sua natural voz estridente e agudizada, abriu o bico numa expressão de tédio e agitou as asas quase como a espantar o marasmo que se apoderava daquela praia ao final de um dia cinzento.
Soprava uma nortada daquelas que só era possível ali, naquela praia, naquele local, um vento agreste e cortante, prevísivel no seu sentido mas imprevisivel nas suas modulações. O ar era frio e imenso, quase demais para aqueles pulmões... o cigarro ardeu demasiado depressa apesar de compactado por 4 pancadas secas no dorso de uma mão cicatrizada, deu para 3 inalações profundas travadas bem lá no fundo, e expiradas lentamente para se confundirem com o sabor de café que se tomou ainda agora, alí, à bocadinho...
Olhou para aquele mar agreste e frio e acompanhou aquela bandeira vermelha ondulante que servia de aviso aos mais distraídos. Recordou-se duma história do seu puto e sorriu, enquanto deixava o seu olhar deslizar descuidadamente para um céu cinzento, precisamente no mesmo instante em que começou a chover. Sentiu os primeiros salpicos na face, para depois deixar o seu cabelo e tronco apanhar com o resto da bátega de água que se avisinhava. O seu cabelo negro, colou depressa com aquela chuva, escorrendo pelo seu crânio, em fios de água que se extendiam pelas costas e sabiam bem, nele havia um calor estranho, primitivo até, que aquela água mitigava.
Fechou os olhos nos momentos em que a água parecia toldar a sua visão, limpando a sua cara com uma manga da sua Sweat-shirt, empapada, estava vestido de preto e um verde que se tornou escuro com a água acumulada.
Deitou um punhado de areia ao vento, enquanto revia as contas mentalmente e sorria, pensava nas suas seis esferas e sorriu abertamente, rindo claramente agora, encharcado. Sonhar é bom, não é? E mais uma vez encaminhou o seu olhar para um céu que parecia vir abaixo com tanta água, e agitou-se... Pouco depois, sentou-ne no seu banco de madeira preferido começando a sentir frio, chovia menos agora, pelo que ele puxou de um maço encharcado e tentou arriscar uma ténue chama do seu isqueiro, ao fim de algumas tentativas, acabou por acender e puxar por aquela ténue faísca que tinha ficado na ponta.
6 esferas não é? Que gravitam em seu redor com uma rapidez constante como se do seu pequeno sistema solar se tratasse, o seu pequeno universo finito no alcance, infinito nos propósitos... Agora já não chovia, pelo que ele acabou o seu cigarro rapidamente, encontrando o seu leitor de Mp3 no fundo do seu saco, sabia o que queria ouvir, por isso não se demorou muito a achar a lista conveniente... enfiou os auscultadores nos primeiros acordes de uma música que conhecia de cor e que ia progressivamente crescendo em volume, cantou os seus versos preferidos abanando a cabeça com aquele ritmo alucinante que saía dali, desejando que eles viessem cá no próximo Verão, as faixas iam passando enquanto ele continuava o seu ritual, e deixava o seu corpo secar com aquele vento cortante que vinha do norte, o seu norte, o seu destino...
Precisava de um abraço conhecido, que o ajudasse com aquele frio, mas sabia que isso não iria acontecer, por isso agitou-se mais um pouco, descontraiu e voltou a olhar o mar, e o horizonte onde dalí a um par de horas o sol iría submergir.
A sua memória recapitulava o caminho que o tinha levado até alí, e os pequenos episódios quotidianos que pareciam parte de um grande plano elaborado a que alguns chamam destino, sorriu novamente e lembrou-se do que um dia escrevera naquela areia, de como a sua história se fundia naquela praia...
Havia uma calma no seu olhar enquanto caminhava de volta ao carro, e um sorriso estampado, havia um homem perdido, por não se encontrar, por isso é tão fácil falar de alguém que não somos...
Não há nenhuma prova a dar, nenhuma palavra a mais numa caixa de madeira, apenas um homem reencontrado, com a calma e o sorriso de quem encontrou uma coisa muito sua... a sua vida... e um destino, escrito pelo seu punho, por uma mão cicatrizada que se entrelaça com a tua, nas voltas de um destino estranho...

Tuesday, June 20, 2006

British rock!

"Now then Mardy Bum
I see your frown
And it's like looking down the barrel of a gun
And it goes off
And out come all these words
Oh there's a very pleasant side to you
A side I much prefer

It's one that laughs and jokes around
Remember cuddles in the kitchen
Yeah, to get things off the ground
And it was up, up and away
Oh, but it's right hard to remember
That on a day like today when you're all argumentative
And you've got the face on

Well now then Mardy Bum
Oh I'm in trouble again, aren't I?
I thought as much
Cause you turned over there
Pulling that silent disappointment face
The one that I can't bear

Can't we laugh and joke around
Remember cuddles in the kitchen
Yeah, to get things off the ground
And it was up, up and away
Oh, but it's right hard to remember
That on a day like today when you're all argumentative
And you've got the face on

Yeah I'm sorry I was late
Well I missed the train
And then the traffic was a state
And I can't be arsed to carry on in this debate
That reoccurs, oh when you say I don't care
Well of course I do, yeah I clearly do!

So laugh and joke around
Remember cuddles in the kitchen
Yeah, to get things off the ground
And it was up, up and away
Still it's right hard to remember
That on a day like today when you're all argumentative
And you've got the face on"

Friday, June 16, 2006

16 de Julho de 2006, sexta feira, sem titulo



A minha vida coube toda em 3 caixas de madeira
E ainda sobrou espaço...
Um espaço infinito para preencher com a pequenez dos meus sonhos e esperanças...
São 3 caixas de madeira simétricas e escuras, pequenas demais...
São urnas seladas e cheias com a rapidez metódica de quem pode acobardar-se se parar...
Um caixão para os sonhos...
Um caixão para o passado...
Um caixão para o amor...
E antes da terra cair sobre eles, já caíu sobre mim...
Apenas uma lágrima caíu neste enterro e nenhuma oração foi proferida.
Cantou-se uma única canção, e depois calaram-se as árvores, o mar, o vento e a lua.
Há 4 velas a arder e um cheiro a incenso no ar.
As minhas mãos secaram no papel e cortaram-se nos ângulos.
Esta é a crónica de um enterro, sem renovação.
São apenas 3 caixas simétricas de madeira escura, fechadas.
Estou dentro de cada uma e cada uma está dentro de mim.
Flatline e silêncio.

Thursday, June 15, 2006

Flesh

Hoje senti como as minhas emoções se propagavam à velocidade da luz, inflectindo a cada mudança exterior, excedendo-se a cada palavra, preso em cada sonho, em cada sorriso, preso a esta teia que teci no meio do meu low profile, e em que cada fio conecta cada alma errante que se cruza comigo e me ensina e me dá e partilha...
Uma semana intensa, tão intensa como o meu espaço, como a minha carne, como os meus ossos, como os meus dentes e sangue, como os meus pulmões, como o meu crânio e cérebro.
Olhei como cada sorriso se impunha por entre os espaços da teia, como me senti metido numa liquidificadora e me transformei numa massa pastosa mas que mesmo assim conseguia atravessar livremente a teia e divagar entre sonho e realidade, entre calor e o frio, entre a noite e o dia, sem nunca achar o centro, o meio termo.
Esta é a minha carne trespassada, que calmamente se liga, calmamente se inicia, este é o meu olhar límpido e a minha claridade sombria, este é o sangue que corre em mim e por algum lugar sombrio se escapa, estes são os ossos quebrados, esta é a minha cabeça no teu peito...
Esta é a minha liberdade amarrada, os meus sonhos centrifugados e dispersos, a minha energia secreta, o meu caminho, a minha tentativa, o meu toque educado e o meu coração que mortal, aguardando a sua paragem, nunca dissocia sentimento e gesto de contracção...
O meu toque é a minha alma, apertaram-me a mão e sentiram os contornos de 5 dedos simétricos, individuais, um pouco encurvados, sentiram a pele quente e macia, o contorno de veias superficiais e alguns pelos sedosos. sentiram profundamente a contracção muscular e os contornos ósseos... e tocam-me através da teia, e eu sorrio, tocaram-me a mim, e não vacilam, e não se esquecem...
Esta é a minha carne em escara, cicatriz e seda, avisada dos seus contornos próprios e defeitos, de uma cicatriz passada, de uma história que se conta entre a névoa dispersa de 3 cigarros, estes são os meus pontos de origem e fim...
A minha carne e a minha alma são unas.
E há 3 marcas escuras que crescem como sombras projectadas sobre o meu polegar esquerdo, as 3 ultimas linhas da minha teia, cada uma tem um sabor diferente, com a sua intensidade diferenciada, cada uma segue até aqui, ao centro revertido.
Lentamente o seu processo fisiológico de renovação, o seu processo lento e irreversível, o sangue, o oxigénio e o equilibrio das bases... toco no meu djambé com estas mãos, enquanto me deito ao sol e fumo mais um cigarro, acesso e lentamente carregado sobre mim. Sincronismo com um som de fundo que reconheço, sincronismo com o movimento de fundo que consigo intuir, sincronismo com um toque que pressinto à distância... e o meu corpo sente o toque a teia vibra e eu desperto... sorrio... e deito-me querendo mimo, ouvindo aquela canção que faz perdurar a vibração.
O meu coração bate, ainda assim, vibrante, o meu sangue acelera, o meu cérebro dispara e atravesso de novo a teia...
Hoje encontraram-se alma e carne em choque directo entre queda e ascensão, trespassado na teia, ligado a cada vibração, hoje sorri e chorei, hoje cai e levantei-me, hoje sonhei e morri, hoje foi apenas mais um dia... provavelmente menos um...
Hoje escrevi um texto chamado "flesh".
Hoje sou eu, amanhã não o serei...
E a teia perdura e vibra ainda, ligada, expiro uma névoa branca e apago o que resta de mais um cigarro, a canção é a getaway car, não sei se caio se flutuo...

Flatline

Monday, June 12, 2006

A do momento...

Opiniões pessoais acerca das bandas do momento, aquelas que têm vindo a derreter o leitor de cd's do meu carro:

Audioslave- para os amantes de um som orgânico, brutal, quase sangrento a vir de uma guitarra extremamente dotada, um baixo que acompanha bem e uma bateria que é a alma hardcore das canções. Letras que encaixam bem numa voz que alterna entre uma melodia que se funde com as notas musicais, e um grito possante, quase agressivo. A união extremamente fundente, entre som, letra e voz, orgãnica quase carnal, muito bom. recomendo What you are, I am the highway, Like a stone, Shadow on the sun e Last Remaining.

The Killers- um regresso já bastante esperado do verdadeiro rock, grande espirito, batidas perfeitas num cd, hot fuss, que praticamente é só singles. Alternância entre o orgânico e batidas electrónicas sem perder aquele espirito quase punk, agressivo brutal intenso. Não consigo escolher uma música, mas experimentem Mr Brightside, On top, Somebody told me e depois viciem-se, lol

Lcd Sound System- uma das melhores bandas actuais para quem gosta de uma electrónica não purista mas mesmo assim alternativa, recomendo Everybody makes Mistakes

Artic Monkeys- união perfeita entre um ritmo alucinante uma voz possante e um som brutal, ouçam o cd todo, são simplesmente soberbos, daquelas bandas que devem ser brutais em palco.

Sigur Rós- chill'out musculado, possante com uma voz divinal, para noites calmas e em boa companhia;)

As restantes vão alternando, mas aconselho vivamente:
Massive attack
The Strokes
Tool
Franz Ferndinand
Gotan Project
and so on... mais sugestões aceitam-se!

Saturday, June 10, 2006

Infra-red


Remember Rio?


Tenho os meus comprimidos cor de rosa e o meu carro de arco-iris, tenho os jogos do costume acostumados por uma paciência (quase) infinita, entre os finos do coffe café e aquele cigarro aceso e aquele sabor delicodoce de uma névoa branca pastosa e leitosa, e aquele grande cd dos The Killers que vai rodar até derreter, e aquela grande onda e grande energia, e aquela esperança acessa contada em centimos e euros em espiral, aquele delinear e o deleite de prever e atrever a sonhar manda vir o porshe, ou o meu bm série um...
Som chillout entrecortado pelo habitual sinal de mensagem da nokia, o comprimido faz o seu efeito e o mundo diluído, hoje não conduzo mais.
Apareces tu, com a tua voz doce, linda, e a tua reserva quase angustiante, calo-me porque já nada tenho para dizer excepto o conveniente e habitual... outra situação haverá, aparecerás outro dia, talvez, entre o meu low profile e os remates ao poste (não é hugo)?
Grande noite, grande desfile, quero aquelas fotos.
Curtir um som, e as minhas habituais bebidas, as companhias perfeitas, o riso e os abraços colectivos, as férias, o chill'out...a noite vem outra vez, como um novo dia, com esta esperança e sorriso, com os sonhos crescendo...and i'm coming out in infra-red e vejo as noites como os dias, em tons pardos e indefinidos, pelos reencontros impossíveis e que se tornam possíveis, pelas estranhas e brilhantes coincidências, os imprevistos que não acontecem, apenas acontecem surpresas e são tão boas, não vou dormir, eu quero sonhar...

sorrir é possível de novo...
mas n era impossível?
porque aconteceu?
que mais pode acontecer?

The sky is the limit and i'm Mr Brigtside!

Saturday, June 03, 2006

Listening to the killers: Mr Brightside

Já tive medo...

...de vampiros, acho que tudo começou com uma escapadela nocturna da cama para ver aqueles filmes para adultos que davam depois da meia-noite (lol não eram porno), foi aí que ganhei este hábito estúpido de dormir sempre com os lençois embrulhados à volta do pescoço com medo que a meio da noite fosse mordido
...de desaparecer assim de um momento para o outro, de repente começar a falar para as pessoas e ninguem me responder, de se desviarem de mim na rua mas n me cumprimentarem, de me passarem à frente nas filas
... de morrer
... de viver
... de desiludir
... de estar em sitios muito altos
... de improvisar
... das consequências
... de pessoas
... do mar
... de Lisboa
... do presente, do passado e do futuro
... de ti
... de mim
... do olhar do meu pai
... dos virus e do spyware no meu pc
... da minha chefe
... da água
... de não aparecer nas fotografias
... de muitas pessoas juntas no mesmo sítio
... da previsibilidade e da imprevisibilidade
... do escuro
... de não ter força que chegasse
... de ter força a mais
... de mentir
... de dizer a verdade
... do meu leitor de mp3
... da droga
... dos assaltantes
... de estar sozinho
... de estar acompanhado
... das despedidas
... de falhar
... das pipocas
... dos cães


listening to gotan project: vuelvo al sur