Wednesday, June 21, 2006

Constant Air Supply...


"...You'd have been better to stay round our Way
Thinking about things but not actually doing things"



Houve um dia uma gaivota estranha que pousou num candeeiro qualquer, e grasnou, com a sua natural voz estridente e agudizada, abriu o bico numa expressão de tédio e agitou as asas quase como a espantar o marasmo que se apoderava daquela praia ao final de um dia cinzento.
Soprava uma nortada daquelas que só era possível ali, naquela praia, naquele local, um vento agreste e cortante, prevísivel no seu sentido mas imprevisivel nas suas modulações. O ar era frio e imenso, quase demais para aqueles pulmões... o cigarro ardeu demasiado depressa apesar de compactado por 4 pancadas secas no dorso de uma mão cicatrizada, deu para 3 inalações profundas travadas bem lá no fundo, e expiradas lentamente para se confundirem com o sabor de café que se tomou ainda agora, alí, à bocadinho...
Olhou para aquele mar agreste e frio e acompanhou aquela bandeira vermelha ondulante que servia de aviso aos mais distraídos. Recordou-se duma história do seu puto e sorriu, enquanto deixava o seu olhar deslizar descuidadamente para um céu cinzento, precisamente no mesmo instante em que começou a chover. Sentiu os primeiros salpicos na face, para depois deixar o seu cabelo e tronco apanhar com o resto da bátega de água que se avisinhava. O seu cabelo negro, colou depressa com aquela chuva, escorrendo pelo seu crânio, em fios de água que se extendiam pelas costas e sabiam bem, nele havia um calor estranho, primitivo até, que aquela água mitigava.
Fechou os olhos nos momentos em que a água parecia toldar a sua visão, limpando a sua cara com uma manga da sua Sweat-shirt, empapada, estava vestido de preto e um verde que se tornou escuro com a água acumulada.
Deitou um punhado de areia ao vento, enquanto revia as contas mentalmente e sorria, pensava nas suas seis esferas e sorriu abertamente, rindo claramente agora, encharcado. Sonhar é bom, não é? E mais uma vez encaminhou o seu olhar para um céu que parecia vir abaixo com tanta água, e agitou-se... Pouco depois, sentou-ne no seu banco de madeira preferido começando a sentir frio, chovia menos agora, pelo que ele puxou de um maço encharcado e tentou arriscar uma ténue chama do seu isqueiro, ao fim de algumas tentativas, acabou por acender e puxar por aquela ténue faísca que tinha ficado na ponta.
6 esferas não é? Que gravitam em seu redor com uma rapidez constante como se do seu pequeno sistema solar se tratasse, o seu pequeno universo finito no alcance, infinito nos propósitos... Agora já não chovia, pelo que ele acabou o seu cigarro rapidamente, encontrando o seu leitor de Mp3 no fundo do seu saco, sabia o que queria ouvir, por isso não se demorou muito a achar a lista conveniente... enfiou os auscultadores nos primeiros acordes de uma música que conhecia de cor e que ia progressivamente crescendo em volume, cantou os seus versos preferidos abanando a cabeça com aquele ritmo alucinante que saía dali, desejando que eles viessem cá no próximo Verão, as faixas iam passando enquanto ele continuava o seu ritual, e deixava o seu corpo secar com aquele vento cortante que vinha do norte, o seu norte, o seu destino...
Precisava de um abraço conhecido, que o ajudasse com aquele frio, mas sabia que isso não iria acontecer, por isso agitou-se mais um pouco, descontraiu e voltou a olhar o mar, e o horizonte onde dalí a um par de horas o sol iría submergir.
A sua memória recapitulava o caminho que o tinha levado até alí, e os pequenos episódios quotidianos que pareciam parte de um grande plano elaborado a que alguns chamam destino, sorriu novamente e lembrou-se do que um dia escrevera naquela areia, de como a sua história se fundia naquela praia...
Havia uma calma no seu olhar enquanto caminhava de volta ao carro, e um sorriso estampado, havia um homem perdido, por não se encontrar, por isso é tão fácil falar de alguém que não somos...
Não há nenhuma prova a dar, nenhuma palavra a mais numa caixa de madeira, apenas um homem reencontrado, com a calma e o sorriso de quem encontrou uma coisa muito sua... a sua vida... e um destino, escrito pelo seu punho, por uma mão cicatrizada que se entrelaça com a tua, nas voltas de um destino estranho...

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