Wednesday, November 03, 2010

Corda

Andamos todos, cada um à sua medida, a tentar evadir uma enorme parede de tijolos que há-de amparar a nossa queda.

Seja porque apenas queremos permanecer no ar, seja porque de alguma maneira conhecemos pessoas e acreditamos que elas nos poderão dar asas para voar, o que nos sustenta é essa leveza na queda, ou a insustentabilidade das forças, ou todas as outras coisas que se vão espalhando no caminho e nos olham, na sua ausência de alma, para o trajecto possível e o inevitável fim de todas as coisas.

São lugares comuns, como passadeiras que unem os 2 lados de uma mesma rua, são os lugares comuns que ainda nos prendem. Dizemos uma fórmula que aprendemos em segredo e acreditamos nela com tanta força que sustentamos o embate e crescemos sobre ele, atrás dele um outro, e ainda sobre este crescemos, crescemos quando já perdemos as forças, crescemos quando o nosso corpo dorido já não suporta mais dor.

E por muito fraco que seja, por muito inalcançável que seja, por muito errado que seja (chamemos as coisas pelos nomes, porque não?) ao final do dia, se nos é permitido falar, se nos é permitido pedir, apenas queremos um lugar seguro onde pousar...
Não queremos perguntas, nem explicações, não queremos soluções, não nos contentamos com nada, queremos algo a que possamos chamar de paz, algo a que possamos chamar de nosso, algo que possamos tratar por mundo, algo que possamos cuidar e preservar, algo que una o nosso corpo e nos levante muralhas, algo que nos separe...
Algo que seja, simplesmente, uma pausa merecida num eterno combate.

Porque ninguém aprende a viver com medo, sobrevive-se a ele, como animais encurralados que somos, prontos a morder a mão que se aproxima, prontos a saltar sobre a presa, mas sempre, sempre incapazes de viver sobre palavras andando sobre elas, com os nossos pés descalços e as nossas mãos estendidas procurando uma nesga de sol.

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