Tuesday, October 18, 2011

tarde

nunca parto inteiramente,...
vivo de 2 vontades
1 que vai na corrente
a outra presa à nascente...


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Saturday, October 08, 2011

big fish

há algo de frio na palma da minha mão
e não é (de todo) a tua pele
é só algo de vidro, transparente, algo como uma janela que podia estar aberta sobre nós e não está

algo que poderia ser alguma coisa, e não é
não sai daquele pequeno reino de coisas, que só existem em nós pela saudade que temos em ser alguma coisa

se o que temos entre nós é só vidro, diz-me porquê resisto à tentação de o quebrar?
porque tu e eu descobrimos que o mal está entre 2 coisas boas, e nós no meio, sem saber para que lado pender

não nos pertencemos, pertencemos ao nosso desejo

pertencemos ao nosso amor

pertencemos a esse reino de fumo, ou a esse outro reino de prata
pertencemos a 2 mundos separados por uma camada de vidro


e não chegamos a lado nenhum, excepto aos próprios dias que se seguem um ao outro

noutro tempo, noutro mundo
estaremos juntos
quando esquecer como é difícil ter saudades tuas, sem saber, verdadeiramente, onde é que estás...

Tuesday, August 23, 2011

Marta

não é no meu colo
não é de onde vim
não é do que trago na mão
não é nada de mim em nada do que faço

no fundo não te trago nada, apenas descrença
descrença a mãos cheias a envenenar-me a alma
por isso são apenas mãos que te tocam, não tem nada de mágico nelas, não tem qualquer tipo de salvação, perdem-se no ar, entre o espaço que nos separa, ficam paradas ou desenham figuras, fazem um pouco de tudo, mas não fazem nada daquilo que lhes peço
destinam-se apenas a calcorrear caminhos, destinam-se apenas a sujar-se de poeira, não se destinam a nada
destinam-se a encontrar o próximo segundo de existência, a colaborar nesta farsa
destinam-se apenas ao instante seguinte e nada mais
não lhe importam consequências
tens menos vida do que elas, e já sabes um pouco mais da vida, fazes algo mais com elas
se pudesse dar-te energia, se pudesse arrancar-te do chão, se pudesse fazer dos teus dias algo mais do que um combate perdido, encontrarias a meio caminho as minhas, será que me devolverias ao chão?

será que se pudesses me amarrarias ao chão?

será que na verdade o desejarias se por milagre, as pudesses levantar, se na verdade o pudesses saber, se na verdade as encontrarias
ou na verdade apenas tens um peso em cada uma delas e te encontras amarrada ao chão
amarrada ao ruído constante que trazes contigo, aos fios que de ti pendem amarrados com fitas cor de rosa
dizem-te que és menina mas não viverás tempo suficiente para saber o que é ser mulher
e desconfia se te disserem que precisas de tempo
se servir de alguma coisa, estou aqui eu para provar que é mentira
não são os anos que fazem de ti pessoa
é esse abraço que trocas com a tua mãe, esse vinculo indissociável que te prende a ela, mais forte que qualquer abraço
é nessa saliva que vertes sem te poder conter sobre o ombro da tua mãe
o que estamos ambos, tu e eu a fazer aqui?

passamos há muito o nosso tempo limite, a nossa data de validade expirou e apenas queremos voltar ao tempo que conhecemos, ou que imaginamos feliz
queremos terminar por aqui
como terminam os 15 minutos de fama com que engano o presente, a troco de algo
queremos terminar por aqui
e ligam-nos aos 2 à vida, por um cordão umbilical difícil de discernir
queremos cortá-lo sem ter ferramentas para tal
queremos desligar da corrente, queremos parar

e ambos temos a certeza
que o nosso coração parará, porque simplesmente
ele já bateu demais.

Sunday, July 31, 2011

kings of medicine

Don't leave me here to pass through time
'cause I, 'cause I..



desta vez não há grande desculpa
apenas uma arma apontada à cabeça e uma necessidade de resposta rápida a pressionar forte contra o céu da boca
bebemos mais um trago de um copo vazio e vamos terminando beatas em cinzeiros já de si demasiado cheios, pode ser por tudo aquilo que fazemos, mas se os nossos olhos insistem em fechar, não há término possível para uma ansiedade muito própria
um pouco como o cão que ouvimos latir à distância sem nos conformarmos com a explicação simples de que tem apenas fome, e que algo, tão grande como o que temos dentro, pode terminar com meia dúzia de ossos e alguma carne agarrada, espalhado de encontro a uma terrina de inox que passou todo o dia vazia
somos nós que continuamos vazios
tão vazios como sempre estivemos sem alimento que chegue para preencher esta fome
sem água pura que chegue para matar esta sede
estamos um pouco fartos de desertos, mais ainda fartos de noites
queremos algo dos dias, queremos algo mais do que pratos vazios

está tudo inacabado como a palavra porquê, estamos fartos de terminar as frases com pontos de interrogação e de passar rápido a mão por teclados, arrancando palavras como quem arranja notas
por deus, estamos fartos
estamos cansados
estamos terminados, tu e eu e mais alguém que se detenha por 2 segundos e se pergunte, como nós perguntamos, se há algum sentido para além da bala mágica que nos espera à idade certa para a colher
somos ou seremos uma flecha em andamento, até que o momento cesse e ela termine no chão
perdoem-me se não me contento com planos incompletos
de tão vazias as coisas, nem lhes conseguimos medir o sentido, nem responder porque estão erradas
somos crianças olhando apenas para um brinquedo partido sem qualquer ideia de como o arranjar
ou para que propósito estava criado
entre o tudo e o nada há-de haver qualquer coisa que nos escapa
qualquer coisa com 21 gramas
qualquer coisa ou qualquer eu, que pertença a outro espaço, que pertença a outro tempo
mas outro eu a que não lhe falte nenhuma peça
nem a outro eu que por falta de eternidade lhe possam chamar de falso
não me digam que a verdade tem de vir hoje, escrita a relevo em latim
ela tarda, chega no segundo anterior ou espera pelo dia a seguir
termina como um cigarro, enrolado e consumido, apagado numa beata, varrido de um chão
mas nunca tarda sobre nós, elevando-nos para além do lixo
e o que deixa para trás, para além de punhos fechados
é tudo o que é mau, tudo o que construimos

somos apenas um sinal menos e na ausência da multiplicação
o que há em nós tem de crescer
sem sonhar sequer numa ascenção em vertical

Thursday, June 23, 2011

D is for Dangerous

everyone needs standards

Os dias são de facas longas.
Como outrora, há um ajuste de contas a fazer, sem que de um ou de outro lado da barricada haja algo semelhante a um inocente.
Há em todos os olhares algo de culpado que persiste. Há algo de ácido nas palavras que trocamos e em todas as medidas de segurança que salvaguardarmos.
Cada vez mais o nosso amor por nós próprios cresce a expensas dos outros.
E o que sobra é uma indiferença insana, algo que nos empurra pelos dias fora como uma bola de neve a rolar por uma encosta, não é possível alterar a nossa trajectória por nada, ou o mesmo é dizer, não há nada porque valha a pena mudar a nossa trajectória. Terminamos sozinhos, esmagados contra alguma pedra ou contra alguma árvore, mas orgulhosos, profundamente orgulhosos, perfeitamente sozinhos...

Falam-me como antigamente de algo parecido a um irmão, ensinam-me erradamente algo que ressoa a solidariedade, mas a ética que prevalece termina nos limites do nosso próprio umbigo.

Não quero que se detenham para me levantarem do chão se o não conseguem. Quero simplesmente que se fodam, eles e mais as putas que os pariram, não me venham com conversas, estou rodeado de enfeites de natal, bolas de cores coloridas presas a um cordel, que para nada mais servem do que para serem pendurados na árvore do destino.

Termino sozinho e numa nota breve. Nasci para ser mau, não para pertencer a um jogo, há 2011 anos atrás diziam que isso garantia o céu, meu deus, desde quando inventaste agulhas suficientemente largas para camelos, e demasiado pequenas para linhas?

Saturday, March 26, 2011

sindrome da Alice

If you’re free you’ll never see the walls
If you’re head is clear you’ll never freefall
If you’re out right you never fear the wrong
If you’re head is high you never fear at all

não estavas ao meu lado naquele quarto de hotel quando partiram
e seguramente não acordaste ao meu lado na manhã seguinte para me apertar o nó da gravata e prometer que tudo ia correr bem
não
estavas do outro lado
num aquário de vidro a distribuir sorrisos como lubrificante social
afinal tu és o centro do mundo, perdoa-me se não gravito à tua volta
não tenho muros que me cerquem e posso com a mesma naturalidade colocar a cabeça sob uma lâmina por amor a uma palavra que desconheces
ou simplesmente mudar o mundo por quem está ao meu lado
eu não sou bom
apenas tento ser decente

passar incólume sem conhecer o destino apenas por achar que o caminho que me leva lá é tão importante quanto o ponto de chegada

já o disse atrás, eu não sou bom
nem o quero ser
tenho tanto de herói como de ódio a circular em mim
apenas procuro o equilibrio que torne as minhas noites sãs e as minhas manhãs tranquilas
e não é por conheceres o destino que queres para ti que partilho o teu caminho
apenas te olho com estranheza por ver que por pormenores pessoas tão próximas divergem... mas afinal não é por culpa minha, se ainda te estendo a mão porque acredito, não tenho culpa que a deixes vazia e a troques por promessas vãs...

a traição é tão fácil de perdoar... se ao menos pudesses ver o pouco porque te trocas, por um punhado de nada e outra mão cheia de coisa nenhuma, ganhaste o que eu perdi... sorris... e com isso estilhaças o vidro e perdes o reflexo... não passas de um boneco de trapos trapaceado na mão de gigantes, não tens mais recheio que palha, não tens mais fibra que chita, sorris, sorris sempre na tua hora em cena... e terás toda a eternidade para que todos se esqueçam de ti...

Monday, March 14, 2011

drowning by numbers

don't you think you're in this song?

não... não são os teus braços que me vão devolver a dignidade
por muito que me apertes contra o teu peito e me prometas que tudo vai ficar bem...
as tuas lágrimas continuam a bater contra o meu peito, sem conseguir quebrar o meu selo
nunca estivemos tão longe meu amor
nunca como agora que me seguras sobre a chuva e me impedes de cair...
nunca como agora que me pedes para continuar
nunca como quando o meu coração se detém entre batidas e fica suspenso entre os nossos corpos unidos, nem nesse momento tudo fica bem, porque no fundo
não me apertas contra ti
apertas-me contra um pedaço frio de metal
e não consigo deixar de sentir que o meu corpo se funde com ele, e não com os teus braços
vamos separar-nos aqui
e não há nada que possamos dizer para evitar este destino
por muito que não me deixes partir da tua beira
eu já estou lá, do outro lado da estrada

e portanto podes abraçar-me
dizer-me que tudo vai ficar bem
afinal a mentira que repetimos não se transforma em verdade por apenas acreditarmos que sim...

afinal nem eu nem tu, valemos algo mais do que isto
entre a minha solidão galopante e a tua falta de escrúpulos há um ano luz de distância e é essa a nossa verdadeira distância mesmo que a nossa pele se toque
recriminar-te-ia se fosse melhor
preferiria um momento de raiva a esta impotência total
não é por te culpar que não durmo de noite
é por esta sensação de vazio que senti quando me apertaste contra ti
partimos em caminhos diferentes, sem nenhum de nós querer
restava-nos destilar a nossa própria culpa e esperar por um dia melhor
agora quando te vejo, nem o nosso olhar é capaz de cruzar, nem o nosso corpo é capaz de dar o passo necessário para abrir um caminho

amanhã, tento de novo
não porque acredite, mas porque me fazes falta
só tenho amor por ti na partida, na chegada há apenas distância
com uma estrada coberta de triângulos vermelhos, sinalizando o perigo.

Friday, March 11, 2011

frances farmer will have her revenge on Seattle

Havemos de chegar a algum lado não é?
Mais não seja quando o telemóvel tocar discretamente a um canto da sala e nos desperte a ambos para a realidade dura que nos espera lá fora
a troca terminou, é tempo de dizer adeus
de fazer a conta ao que ganhamos e ao que perdemos com isto
de levar connosco um cheiro entranhado na roupa e nas mãos, e a alma suja por tão baixo cairmos
havemos de fazer um balanço, e claro, chegaremos a qualquer sítio...
mesmo que nos surpreendamos com o destino
mesmo que acreditemos que na verdade merecíamos estar noutro lado qualquer, o que sobra ao fim do dia é o local onde estamos e não aquele onde desejaríamos estar
à margem anotaremos promessas, e sonhos, e coisas
uma data de tralha inútil que cai como aparas de madeira da mesa polida dos dias
não nos servirá de nada, ou alterará o balanço
e é todavia, na margem das páginas que encontramos um sentido oculto qualquer que nos permite aguentar os dias
chamamos-lhe cada dia um nome diferente, é feito da mesma matéria dos sonhos e é tão intangível como eles
é aquilo que nos cansa e nos permite passar a noite sem pensar em mais nada que não em dormir
é aquilo que nos conduz à loucura, ao impulso, à vela ardendo sobre um móvel barato
e nós deitados sob a sua chama tremeluzente perguntando insistentemente sobre de que maneira chegamos ali
não há resposta, só uma acção indiferente e mais uma coisa impossível, ardendo ao lado da vela, velando por nós, esperando que mais uma coisa apareça e nos canse, e nos remeta de novo para a cama sem outro sonho ligado que não memórias distantes, disformes, distópicas de um futuro que apenas arriscamos a sonhar, faltando em nós coragem, ou um balanço positivo que seja, para o deixarmos tomar conta dos dias, sem este cheiro entranhado nas mãos que nos dá a volta ao estômago e não nos deixa dormir...
amanhã é sexta mas podia ser outro dia qualquer, as pálpebras pesadas insistem em lembrar-me da noite cerrada que ainda me espera quando me obrigo a acordar
vou trocar piadas a troco de nada
receber uma medalha, por outro trabalho bem feito
e à minha volta, como uma nuvem, persiste um miasma
o teu cheiro colado ao meu corpo
a memória da tua pele sobre a minha
e tudo isto me cansa se não passasse sobre os dias contabilizando, como contas de vidro, algo porque trocar mais um pouco de ar, mais um pouco de espaço, mais  um pouco de mim
algo que se escapa como areia por entre os dedos, como nevoeiro perante o sol
como uma história que contamos
sem poder terminar, como desejaríamos, como o mais reles e pobre conto de fadas.

Thursday, March 03, 2011

interflora

she stole the keys to my house...
and then she locked herself out...

irónico, não é?
que nos encontremos sentados numa sala, a jantar
estou cansado, consegues ver isso em mim?
será da semana passada, o certo é que vou mastigando sem grande prazer e empurrando com um pouco de vinho a conversa que fazes questão de manter ligada a noite toda, como um rádio ligado à corrente
a seguir dizes-me que vamos a um bar que conheces, um que fica por cima do mondego
expões o programa em frente ao espelho enquanto te maquilhas e colocas um vestido curto
desta vez fizeste questão de convidar um amigo teu
um daqueles que habitualmente detesto, um arrogante com o ar de quem leu um ou dois livros a mais e me enerva com as citações inoportunas de kafka ou baudelaire
suspiro
as nossas noites fazem-se sempre deste caminho e não de outro
como uma linha que me divide em dois
depois destas noites raramente durmo
fico acordado ao teu lado a olhar o tecto branco sobre nós
cada falha enche-se lentamente como um lago, e deixo cair sobre ele, a conta-gotas, pequenos pedaços de mim
fico a imaginar que do outro lado não se encontra mais água... mas todo um caminho até ao céu...
de certa forma não me gasto, apenas me reúno com as estrelas
sou um pó que se incendeia numa fracção de segundo, que se volatiliza, que se transforma em luz
e que após uma viagem longa vai banhar o teu corpo nú
portanto não sonho verdadeiramente em regressar, o regresso está-me tão vedado como todo o espaço infinito que se abre entre nós
verdadeiramente sonho em terminar em luz, como uma vela, terminar em ti
e conforta-me pensar assim...
muito mais do que me conforta aquele apartamento frio em que me acolhes por uma noite com a mesma indiferença que dedicarias a uma partícula de pó
muito mais do que esta cama que partilhas comigo, ou aquele copo que me pagas-te no bar sobre o mondego
estamos todos um pouco sozinhos, fazes questão de notar, quando me despedes na manhã seguinte
e procuramos sempre algo de nós... terminando num beijo

julgamos que nos aquecemos assim, nesta paixão
mas só de noite, sozinhos, quando rodamos na cama e à nossa frente não estás tu, mas uma parede em branco é que julgamos saber
que o que verdadeiramente ilumina os nossos dias
são os nossos sonhos lançados à corrente do infinito...

Thursday, February 24, 2011

la chispa adequada

esquirlas de aire
arcano indescifrable
en el jardín de mis delicias
pertenezco a la brisa
inhalo la niebla
que flota en el ganges
el aceite de incienso
nos servirá de consuelo
dizes "há uma resposta em algum sítio"
e eu tento encontra-la em qualquer sítio, em qualquer tempo que seja
seja nestas paredes núas, seja nas noites que passo sentado numa tijoleira fria
seja agarrado a um cigarro
ou em todos os dias que maldigo as qualidades todas que me apontam, mas que nunca chegam para me aproximar do que quero
haverá uma resposta
enquanto tremo de frio
há sempre uma resposta
mas não aprendemos a substituir "resposta" por "verdade"
sonhamos apenas que significam a mesma coisa, quando na realidade estão tão distantes como um arquipélago de ilhas
dizes ainda que as "respostas" têm esta forma, e eu não disputo
são feitas de palavras, de imagens claras
são aquilo que sucede a um igual após a soma das partes, uma função soberana
as respostas são redondas, ou quadradas
cabem em prateleiras ou pertencem a boiões de vidro
podemos até colocar-lhes etiquetas, e porque não? recicla-las depois do seu uso estar concluido
nas respostas colocamos pontos finais
será que me pedes o mesmo neste espaço entre nós?
se nele só vejo reticências e alguns centímetros até à tua pele?
serão respostas que se encontram entre nós, ou apenas um espaço vazio
será que o preenchemos com coisas
ou será que não nos importa assim tanto o silêncio
será que queremos respostas?
eu estou farto de respostas
são demais as noites perdidas que gastei na sua procura
agora
resta-me apenas encontrar a verdade
e não me importa de a sustentar apenas nos átomos que separam os nossos olhos brilhantes
pode ser tão irreal quanto eu, pode ser feita da mesma matéria que os meus sonhos
mas se à coisa que eu descobri contigo
sendo a mais valiosa lição
é que atravessar este espaço na tua direcção, não me trará respostas, apenas mais dúvidas
mas por cada centímetro que passa
é mais uma milha que queimo das pontes que deixo para trás...

porquê?