Sunday, March 16, 2008

Fire Flies and Empty Skies...


And all is Violent

And all is Bright...


Reflicto sobre palavras.
Palavras como invólucros vazios de balas que uma vez disparadas apenas testemunham o tiro e nunca o alvo.
E no entanto, não seriam essas carcaças vazias, ainda fumegantes e quentes da pólvora que explodiu no seu interior, aquilo que mais interessaria a quem as recolhe do chão para não deixar prova do crime.
Seria talvez o corpo morto, estendido no chão e o seu sangue, também este quente, que vai formando um pequeno charco debaixo dele.
Mas nunca o podemos ver, vemos as palavras, como invólucros de balas, e desenhamos o alvo, ou o corpo estendido no chão, com a limitação cega e alguma imaginação.

São como estas teclas que bato, pensando no corpo.
Por cada letra impressa aqui é mais um invólucro que cai... e vou-me entretendo com o som do aço ressaltando no chão enquanto o meu olhar se desvia para as faíscas que espalha pelo ar o percutor batendo naquele ponto minúsculo que libertará a bala.
E o meu olhar perde-se do alvo e já não o reconhece (estará tão distante assim?...), prefere concentrar-se nos desenhos que traçam no ar aquelas faíscas brilhantes desenhadas contra o negro do céu, prefere escutar o som metálico-vazio que enche o ar e abafa o grito, prefere olhar para os invólucros por serem o único testemunho que sobra da sua arma vazia.

Transcendentemente ainda pensaria nas razões que me levaram a disparar a arma, se estas não fossem tão casuais e arbitárias como o trajecto visível das faíscas no ar...
Impreterivelmente marco hora e ocasião para traçar o projecto das suas motivações secretas, da alquimia imperfeita da mistura explosiva, da impetuosidade com que rasga o espaço...

O mais importante escapa-nos pelo canto do olho apesar de pressentido, olhamos o ar.
Apanhamos palavras como invólucros de balas, aspergidos no chão.

E são tão insignificantes que as recolhemos às mãos cheias, sem destino que lhes dar...

Se ao menos as balas comunicassem connosco, não por palavras, mas por todos os sentidos, inventados ou não, que se tem para se conhecer alguém, como uma força invisível que nos levasse a fundir com a vítima e fazer entender com o nosso próprio corpo o que é sentir uma bala a entrar.

Se ao menos não fossem as palavras, mas sim a sua ausência, que de algum modo dessem sentido às coisas, que de algum modo permitissem encher o céu com mais qualquer coisa do que faíscas breves de algo a explodir...

Imaginamos tudo, para preencher as vagas incompletas daquilo que não sabemos ou queremos ver, e a cada coisa atribuimos o sentido, um sentido muito próprio que não passa de um reflexo distorcido de cada um de nós...

E de certa forma inventamos igualmente um sentido...
Que nada poderá ter de real, desenhando-o a metal e a fogo, desenhando-o apenas, contra o céu que continua vazio...

E eu não sei ver, porque não penso nessas coisas...

Entretenho-me a ver as faíscas a cruzar o ar como fogo de artíficio incompleto celebrando algo, que dificilmente poderei entender...


/me on intervalo pulsante (...)

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