Thursday, August 09, 2007

Expansível

Saio à rua à noitinha, hoje tenho o céu por minha conta.
De repente a minha alma cresce para fora de mim, tanto que estas quatro paredes não bastam, tanto que a sinto escapar por uma janela aberta perante a tranquilidade da noite...
Hoje uma parede em branco não é suficiente, hoje escolho uma tela em negro ponteada de luz.
Parece tão alta, tão longe daqui, tão ofuscada pela luz amarelada da grande cidade, e no entanto, parece que lhe posso tocar se me der ao trabalho de levantar um dedo.
Não o faço, hoje não quero tocar no céu, quero vivê-lo.
Quero que todo este manto negro seja iluminado por mim, quero ser o director dos meus sonhos.
Já não me chega uma parede em branco, not anymore.
Hoje o corpo pede-me descanso, e insiste em dormir. O corpo queixa-se do esforço dispendido e ameaça doer.
- Tem paciência, diz ele, só tens este barco que te vai levar a lugar algum, quando embarcaste foste dos poucos que comprou bilhete inteiro e pagaste o extra para viajares na coberta. Querias ver o mar, o céu e o horizonte, não te chegava o beliche apertado contra a parede do porão, tu querias mais, querias o sal a bater-te na cara quando as pernas se queixam de estares demasiado tempo em cima delas.
Tenho paciência, mas não obedeço, contrario as minhas pálpebras que se querem fechar e abro bem os olhos, os sentidos, hoje eu quero viver.
Hoje custa-me a adormecer os sentidos, para acordar algum tempo depois e pensar que já se foram 6 horas de vida.
-Tens os sonhos.-Insiste.
Pois sim, tenho os meus sonhos nocturnos que se vão esbatendo com os primeiros raios de sol.
E tenho os meus sonhos diurnos, que vou pintando devagarinho a pincel, com uma tinta mágica que não imprime nada mas que desenha os contornos de um mundo que abarca grande parte de mim.
Hoje saí à rua, e era de noite.
E está calor lá fora e eu não o sinto.
Há quem olhe ostensivamente para o meu sorriso e se pergunte, será este homem normal?
Não, não o sou. Eu sou doente. Padeço de vários males e todos eles são complexos.
Como uma ligação directa entre mundos.
Tanto que o medo vem e vai, como ondas que se desfazem na praia e nunca ficam.
Tanto que me pergunto se o que existe cá dentro, e que continuamente tenta rasgar caminho até cá fora, encontra por certo um mundo onde possa existir.
E não se pergunta se a atmosfera é correcta, ou se o solo é estável ou lhe permite voar, não o assusta a gravidade, muito menos a resistência do ar.
Ele não se pergunta.
E o instinto prevalece de mão dada com os sentidos.
Tem todas as ferramentas que precisa para entender.
E não o faz.
Inclina-se para a frente e rasga caminho.
E eu ofereci-lhe um céu para voar, e uma tela negra para imaginar.
Esta noite.
Não dorme.
É livre.

5 Crossroads:

Anonymous Anonymous said...

Também quero.

9:59 PM  
Blogger Ana said...

às vezes é precisa uma noite assim. há noites em que nem os sonhos nos convencem, em que não nos sacia tocar no céu. é preciso vivê-lo.
viver o céu... que bonito!

5:35 PM  
Blogger Daniel C. said...

Marta,

Em oz, as noites não são todas assim ;)?

**


Annie

sinto a cabeça a cair...
em frente
para cima
:)
**

3:27 PM  
Blogger Eme said...

Ainda não fui Daniel.. vou na quinta. Estou a emaluquecer e se não fosse acho que já não vivia mais uma semana :(

4:18 PM  
Blogger Daniel C. said...

Marta,


É já amanhã!
Oferece-te a ti mesmo essa "fuga", e diverte-te, leva pouca bagagem, mas muito de ti... como para qualquer viagem que importe ;)

Bjinho **

2:33 PM  

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