Karma
"Nem sempre temos aquilo que queremos, mas por vezes conseguimos ter aquilo que precisamos"
Não esperaria, não esperaria que me atraísse a calma pela manhã embalada pelo sol.
Não esperaria que encontrasse paz num caminho ladeado de árvores e com as minhas mãos fazendo as margens de um rio.
Não esperaria que a minha voz fosse mais doce num sussurro, nunca esperei comover-me.
Não, nunca eu. Do alto do meu reino gelado, do alto do meu trono de indiferença, na minha metafísica, na minha bipolaridade, na minha separação entre mundos.
Não nunca eu, não a pessoa que aqui está, não me conheço.
Nunca esperei ter de ser lento, envolvente, delicado, mas como sempre, por um sorriso consigo sê-lo.
E pensaria um dia em mim contrariado, assustado, encurralado a um canto, desperto para uma agressividade latente, como um bicho selvagem encurralado numa armadilha profunda.
Não esperaria que do outro lado do ódio existisse um amor.
A minha mão não tremeu quando avançava, é estranho, sempre pensei que tremeria.
A minha alma não duvidou quando tocou na tua, o que é estranho, sempre pensei que duvidasse.
E enquanto sorrias, ainda de olhos fechados (era tão de manhã...) não conseguias ver como eu estava sozinho ali naquela divisão a rir também, para ti.
E eu não te soube dar o melhor de mim, eu dei-te o que não tinha, o que não existia em mim.
Eu não te podia dar o que não tenho, mas por um sorriso teu, eu soube ir lá buscá-lo, a partes de mim que não existem.
E tu não sabias (como poderias?) mas voltei a olhar para uma parede em branco e ver lá o teu sorriso (como saberias?) e lá estavas tu, a sorrir para mim... e eu de novo a descobrir que aquilo que não tenho ainda é a melhor parte de mim.
Como a chama onde ainda arde a minha culpa, essa eterna chama que apenas existe para produzir sombra, não me desarmas, não me tiras as sombras, não apagas essa linha indelével com que se fazem os meus fantasmas, mas por aqueles instantes, mesmo rodeados por gente, nunca estive tão sozinho... e desconfio que o teu mundo terminava onde as minhas mãos começavam, e que, mesmo frias, geladas pelos anos de indiferença, aquilo que as aquecia era muito maior do que eu.
E não me recordas de ninguém, o nosso maior segredo é que eu já consigo ver o que um dia serás, ler-te como um livro aberto o qual nunca ninguém ousou ler é a minha capacidade escondida que resistiu, sabe-se lá como, aos tempos em que me afundava lentamente nesse líquido espesso de mentira.
Mas não te falo disso porque o nosso diálogo jamais se fará de palavras, porque na forma como comunicamos se desconhecem os recipientes para transportar tão maus presságios.
E podemos sorrir no silêncio, ou ouvir sussurrar-te ao ouvido uma canção de embalar, escutarás talvez um dia, porque eu sei que o fazes, através das paredes, dos pisos e dos kilómetros o único som das minhas lágrimas a baterem no solo, e não são por ti, são por todas as coisas que não tenho, nem nunca poderei ter, são por todas as coisas que existem ali muito, mas mesmo muito longe de mim, e que eu, não sabendo como, as soube ir lá buscar, por um único sorriso teu.
ah, o amor... como é belo e como nos revira do avesso!
Se o texto fosse um pouco mais comprido eu teria entrado em colapso respiratório e tu terias a oportunidade de me demonstrar as tuas capacidades... na reanimação. Estive a suster a respiração enquanto lia e não consigo explicar porquê. Porque tinha receio do que irias dizer a seguir? Ou por curiosidade pela palavra seguinte? Tudo, por causa de um sorriso.. Um sorriso, meu Deus...
:)
mais um pequeno pedaço de talento...
e o poder do sorriso a despertar o melhor de nós...
abxo
surreal....!
eu acho que as tens, sim.
acho que as tens, e que não estão tão longe como pensas.
cá para mim estão bem guardadas num cantinho escondido do teu coração. e como são tão preciosas, só saem cá para fora quando sentem que não vão ser desperdiçadas.
e sentiram muito bem, sim. por um sorriso vale tudo!