Efemeridades.
É fodido mudar o curso das coisas.
Que me desculpem os intervenientes, mas é fodido.
Que se mude a orientação do sol, o tempo das coisas, ou que se descubra uma razão para o inexplicável ainda vá que não vá, é coisa de milagreiro, agora mudar a ordem das coisas é completamente fodido.
Sobretudo quando me dizem para esperar para cumprir qualquer coisa.
Eu só respondo:
- Amanhã a UCI vai continuar cheia, e eu com muito para fazer.
Pedem-me para ter paciência, ou alcançar coisas em tempos razoáveis, ou protelar as decisões que eu acho inoportunas para tempos mais favoráveis. Lixam-me com as conveniências é o que é.
Como os meus colegas que discutem as taxas de juro por uma casita que vão pagar em 30 anos, ou o melhor sítio para comprar a marca X pelo melhor preço.
Que me desculpem a antipatia mas não sei fazer assunto de trivialidades.
É que me atrai mais o Sr. M. quando me conta a melhor maneira de fazer uma canja com uma galinha caseira, ou o saliva que produz quando aguça o apetite para um bacalhau cozido com bróculos que já encomendou pelo seu regresso ao fim de 3 meses.
Não sei falar do sudoeste quando eu estive há bem pouco tempo em Paredes de Coura, mas consigo ter grandes conversas com o Sr. J que para além de me odiar e de não dizer uma palavra, tem as 2 horas mais animadas do dia quando está comigo.
Não percebo quem se preocupa mais com aquilo que aparece no meu crachá ou com as designações mesquinhas e progressões de carreira, do que em perceber que a ao seu lado está uma pessoa de carne e osso.
Chamam-lhe a leveza do ser.
Sou o tipo mais pesado do serviço, porque não sei viver entre horários e entre vidas, não sei funcionar com esquemas e dinâmicas, com casas e contas para pagar, com roupa, fodas e noitadas. Mas não espero pelo elevador para subir ao 8º piso nem regateio minutos entre pacientes para sair 20 minutos mais cedo.
De resto tenho fracas mãos, sei pouco e sou homem de poucos sorrisos, não trabalho para ter amigos e não paro para uma conversa de circunstância com a médica do serviço.
Ah e já agora, que compreendam todos que para mim tanto vale um doutor como um senhor aplicado no momento certo, não tenho pretensão de ser um vibrador para masturbar mentalmente aqueles que andam por aí a montar circos de vaidade.
E detesto estagiários assertivos que vomitam sebentas e são os melhores amigos dos pacientes desde o momento que eles entram pelo serviço dentro.
Mas eu sou pesado e não sei viver nos intervalos.
E tenho tanto de pesado como de inconformado.
Quando me sentir leve e realizado, desconfio que a minha morte está próxima.
O mesmo quando pensar que vou comprar qualidade de vida com o salário que recebo ao fim do mês.
Porque de hoje para amanhã a UCI não vai esvaziar e nunca vi lá ninguém que não suasse e tremesse para ficar melhor pelas coisas que esperam por ele lá fora.
Dizem que faz bem.
Mas pelo que vi... a ansiedade ainda mata.
Seja lá, ou no metro às 6h da manhã, onde as pessoas leves se ensardinham para chegar ao trabalho.
Que me desculpem os intervenientes, mas é fodido.
Que se mude a orientação do sol, o tempo das coisas, ou que se descubra uma razão para o inexplicável ainda vá que não vá, é coisa de milagreiro, agora mudar a ordem das coisas é completamente fodido.
Sobretudo quando me dizem para esperar para cumprir qualquer coisa.
Eu só respondo:
- Amanhã a UCI vai continuar cheia, e eu com muito para fazer.
Pedem-me para ter paciência, ou alcançar coisas em tempos razoáveis, ou protelar as decisões que eu acho inoportunas para tempos mais favoráveis. Lixam-me com as conveniências é o que é.
Como os meus colegas que discutem as taxas de juro por uma casita que vão pagar em 30 anos, ou o melhor sítio para comprar a marca X pelo melhor preço.
Que me desculpem a antipatia mas não sei fazer assunto de trivialidades.
É que me atrai mais o Sr. M. quando me conta a melhor maneira de fazer uma canja com uma galinha caseira, ou o saliva que produz quando aguça o apetite para um bacalhau cozido com bróculos que já encomendou pelo seu regresso ao fim de 3 meses.
Não sei falar do sudoeste quando eu estive há bem pouco tempo em Paredes de Coura, mas consigo ter grandes conversas com o Sr. J que para além de me odiar e de não dizer uma palavra, tem as 2 horas mais animadas do dia quando está comigo.
Não percebo quem se preocupa mais com aquilo que aparece no meu crachá ou com as designações mesquinhas e progressões de carreira, do que em perceber que a ao seu lado está uma pessoa de carne e osso.
Chamam-lhe a leveza do ser.
Sou o tipo mais pesado do serviço, porque não sei viver entre horários e entre vidas, não sei funcionar com esquemas e dinâmicas, com casas e contas para pagar, com roupa, fodas e noitadas. Mas não espero pelo elevador para subir ao 8º piso nem regateio minutos entre pacientes para sair 20 minutos mais cedo.
De resto tenho fracas mãos, sei pouco e sou homem de poucos sorrisos, não trabalho para ter amigos e não paro para uma conversa de circunstância com a médica do serviço.
Ah e já agora, que compreendam todos que para mim tanto vale um doutor como um senhor aplicado no momento certo, não tenho pretensão de ser um vibrador para masturbar mentalmente aqueles que andam por aí a montar circos de vaidade.
E detesto estagiários assertivos que vomitam sebentas e são os melhores amigos dos pacientes desde o momento que eles entram pelo serviço dentro.
Mas eu sou pesado e não sei viver nos intervalos.
E tenho tanto de pesado como de inconformado.
Quando me sentir leve e realizado, desconfio que a minha morte está próxima.
O mesmo quando pensar que vou comprar qualidade de vida com o salário que recebo ao fim do mês.
Porque de hoje para amanhã a UCI não vai esvaziar e nunca vi lá ninguém que não suasse e tremesse para ficar melhor pelas coisas que esperam por ele lá fora.
Dizem que faz bem.
Mas pelo que vi... a ansiedade ainda mata.
Seja lá, ou no metro às 6h da manhã, onde as pessoas leves se ensardinham para chegar ao trabalho.
Querido Daniel. Recomendo "A insustentável leveza do ser". O protagonista também se chama Daniel e é médico, se bem que o seu dia-a-dia seja bem diferente do teu (acho eu). Digamos que a sua relação com os clientes é mais carnal:) E depois tem toda uma discussão quase metefísica sobre a leveza e o peso das coisas. Boas leituras.
aiii óoo páaaáaáaa!! caaada vezzzzz goootuuuu maiiii de tiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!
óbistiiiiiiiiiiiiii?
beijussss gaaandessssssssssssssss!
PS: sê tu. Apenas tu. O resto é treta. Eles não sabem.
Milan Kundera.. ali o different tem toda a razão. Tenho ali esse livro em lista de espera enquanto acabo os que estão à frente. Leveza.. leveza precisa-se. Qual caminho para a morte, é mais uma sensação de liberdade.
gostei tanto, tanto.
a curiosidade de saber o que fazias levou-me a ler outros posts e comentários.. e qual a surpresa quando descubro que és fisioterapeuta! coincidência das coincidências, estou agora a acabar o meu primeiro ano! estive em estágio nas três semanas que passaram, numa das enfermarias do são josé, e... aquilo é tudo. cada dia que passava chegava a casa com o coração mais cheio, e mais cheio.
e agora até de me sentir ensardinhada sinto falta.
e sabes que mais? nunca deixes de ser assim.. pesado.
acredita em ti, só isso.
e os outros.. os outros que se fodam!
beijinhos, e obrigada. *
eu colocaria o Milan Kundera em primeiro. A partir daí os outros livros, e mesmo as perspectivas da vida, serão diferentes. E um livro sobre amor, desilusões, inocência, luxúria e relativismo.
Depois conta-me como foi!
mas és feliz? essa negatividade não é boa! há dias de m****, sem dúvida, mas pensar mal dos outros não ajuda... eu também chego a portugal e não curto os portugueses (estás em portugal, não estás?), são um povo no geral provinciano, atrasado, tímido, inconsciente, mas por outro lado são pessoas boas, o governo é que é uma m****, as pessoas não têm culpa de ser ignorantes, pois não têm grandes hipóteses de desenvolver quando o governo as castra com a necessidade de sobreviver por vezes por artes mágicas, e toda a gente anda mal disposta, é um ciclo...
Different,
Começo a ficar transparente...
Já li esse fantástico livro do Milan Kundera quando tinha uns 19 anos, curti imenso e quando escrevi este post estava a pensar precisamente nesse livro. É um daqueles livros que ganham um significado completamente diferente quando lidos sob a luz que a experiência de vida nos dá.
Chegaste mesmo lá, entendeste muito bem o que eu queria dizer, e deixaste uma sugestão óptima :)
Adorei o comentário!
Bjinhos
Marta,
;) desconfiava que ias gostar, pelo menos do post! Lê o livro, é uma grande leitura, mas duvido que gente como nós aprenda a ser leve...
Bjinho **
A.,
Coooollleeeeeggaaaaaaa!!!
:)
Entendo perfeitamente o que queres dizer, que sincronismo...
Sabe bem não sabe? ;)
Vais ser uma excelente profissional se já desde o primeiro ano te deixas encher pelo que vives, boa sorte colega, encontramo-nos por um destes hospitais um dia, combinado?
Obrigado pela força!
Bjinho
Aquela Bruxa,
Não sei o que é ser feliz, mas sinto-me bem...
Não queria passar essa ideia de negatividade ou criticismo, bem pelo contrário... Eu adoro o que faço, mas não me excito com titulos, diplomas e fait divers, aquilo que verdadeiramente me dá gozo é aqueles minutos que passo com os doentes.
Confesso que é estranho, e é isso que queria dizer, quando sinto mais prazer e significado quando convers o com um paciente que sofreu um traumatismo craniano e está completamente desconectado da realidade do que quando falo com um colega de trabalho sobre coisas mundanas. Daí o sentir-me pesado.
Os portugueses conseguem ser muito bons na proximidade, mas no sentido lato são completamente alucinados, não é só o governo mas um conjunto de pessoas neste jardim que é completamente bipolar ;)
Bjinho
até ia dizer para lhes f***es a leveza durante o jogo de futebol mas acho q nem vale a pena.
yourself. that's enough.
gd abxo
Different, combinado.. Mais meia dúzia de páginas para acabar este (O riso de Deus de António Alçada Batista) e passo Milan Kundera para a frente. A verdade é que já tinha lido "a imortalidade" e a "identidade" e tenho a "valsa do adeus" e o que recomendas em espera. Não queria devorar o Kundera todo seguido hehe.. Mas depois conto-te sim ;)
Dani, gente como nós não precisa de ser leve para ser feliz.Mas somos.. só que não nos apercebemos, e o simples facto de teres escrito o post e de estarmos a comentar isto torna-nos privilegiados porque.. pronto.. sabemos!!
Beijos
já li este post três vezes e não sei bem que comentar. fazes uma boa análise da vacuidade das conversetas do dia a dia, mas a verdade é que elas têm um papel importante no estabelecimento de uma equipa de trabalho. e no teu caso, a equipa é extremamente importante. não quero dizer com isto que deves alinhar na parvoeira geral, mas encontrar meios termos não faz mal a ninguém. quanto às doutorices, títulos, graus e etcetera, 100% de acordo.
1 abraço
Danie, já paraste para pensar que és capaz de não ser o único?
beijinhos
Marta,
1 ponto para a cultura ;)
Sabemos!
Bjinho
Nelio,
Entendo o teu ponto de vista. Não sou completamente antisocial, entendo que é importante ter um bom ambiente de trabalho e que este passa muito por estas conversetas. No geral até consigo ser um bom colega e tal e sei falar de umas coisas, geralmente engraçam comigo, mas aquilo que me dá mesmo prazer é tudo aquilo que é acessório.
Às vezes tenho que tratar pessoas que estão completamente out e isso não me impede de ter grandes conversas ;) mas isto sou eu que sou meio tolo.
Abraço
Alien,
Não sou o único, de certeza. Mas consolo-me com o facto de ser raro eheheh
Bjinho
Não resisto a fazer uma observação, como fã incondicional de Kundera e prestando o devido assombro à sua obra(em questão a que tem vindo a ser debatida). Não obstante as semelhanças psicológicas que poderão apontar-se entre o escritor(Daniel)e o médico do romance, os seus nomes não coincidem como referiu o primeiro interveniente, pois o deste último é Tomas e não Daniel. É uma efemeridade eu sei, mas não é isso que explora esta dissertação?!
Daniel, confesso que gostei imenso de te "ler", as tuas palavras levaram-me por "caminhos" através dos quais surge aquela vontade enorme de indagar em longas "viagens" e conversas metafísicas e surreais.
O nome do blog é perfeito para o conteúdo dos teus textos.
Da Bárbara.:)*
Bárbara,
Obrigado pela visita :)
Este comentário foi o último empurrão que me faltava para tirar a "insustentável leveza do ser" da minha estante e reler agora, um pouco mais crescido, este grande livro.
Acho que vou ter outra perspectiva.
E tens razão, chama-se Tomas, e não sei quanto a semelhanças, mas é um romance que me é caro, enquanto me debato por estar demasiado próximo do chão e não compreender a leveza que se consegue numa mediocridade de sentidos.
Bjinho *
grande erro. daniel é o nome do actor da adaptação para o cinema, onde contracena com juliette binoche.