Monday, May 15, 2006

Eutanásia

O meu trabalho tem-me proporcionado o contacto próximo e directo com pessoas próximas de um nível de vida muito, muito baixo tendo em conta aquilo que consideramos a "normalidade" daqueles que geralmente povoam uma qualquer rua movimentada.
Exemplo de uma dessas pessoas conheci um indíviduo tetraplégico, "traped-in" devido a uma doença neurodegenerativa que acontece digamos 1 em cada 100000000000 de pessoas. Esta condição tem-no amarrado a uma cama, dependente para tudo inclusivamente respirar à cerca de 20 anos, num desses ambientes tétricos como pode ser um Hospital Público em Portugal.
Naturalmente pensamos e se fosse eu a estar ali? Como poderia agarrar-me a uma vida, se essa vida significasse 24h/365 num quarto de um hospital, sem me poder mover, totalmente dependente para tudo, agarrado a uma máquina para me manter vivo? Sinceramente a minha resposta seria não, não quereria viver assim.
Uma sociedade justa e evoluída entendería esta minha decisão, consciente e informada, sobre algo tão pessoal e intímo como decidir sobre o momento da nossa morte. Afinal qual é o sentido de prolongar uma vida que não deseja ser prolongada apenas por causa de uma moral social hiper-hipócrita? Qual o direito dessa massa informe e inconsciente de determinar o momento da morte de um individuo, se esta apenas a cada um pertence, mediada através da experiência e vivências de cada um?
Por outro lado, esta é uma sociedade imperfeita, e o impacto real é que muitas vezes aquilo que poderia levar à decisão de por termo à vida poderia ser não esse desejo intimo e pessoal que cada um pode ter acerca do fim da sua vida, mas sim por outros motivos externos. Esses motivos prendem-se muitas vezes a questões económicas, sociais (o impacto nos care givers, família, etc) ou religiosas.
E apenas uma sociedade que providencia todas as condições para proporcionar os cuidados paliativos adequados a quem deles precisa é que pode naturalmente admitir que essa decisão é de facto pessoal e não social.
Por isso eu, enquanto pessoa desta sociedade, antes de lutar pelo direito à eutanásia, vou começar a lutar pelo direito aos direitos paliativos, ao apoio social e económico a pacientes terminais ou dependentes. Tenho a certeza que mal estes existam vão-se acabar os argumentos a quem supostamente defende a "vida".
E já agora, na merda d país que temos aquele senhor que mencionei há bocado agarra-se mais à vida do que eu! Agora digam lá se isso n é uma lição?

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