Sunday, February 06, 2011

the man who sold the world...

...mas esta noite, como nenhuma outra, faz-me falta escrever-te
escrever-te como uma catarse de todo o espaço impossível que existe entre nós
escrever-te com toda esta distância de bytes e caracteres, uma fonte contínua que tomara não acabasse, e lhe restasse apenas preencher os poucos centimetros que nos separam.
e ainda assim, porque nada mais podemos ser do que espectadores, mergulhados numa plateia escura e assoberbados por sons, distanciados por metros de um ecrã demasiado grande, seremos nada mais que espectadores, desejando, ou não, mergulhar numa tela e ser eternos assim...
e ainda se num sonho o pudessemos ser, se porventura o nosso maior desejo se realizasse e a invadissemos  através da luz que rasga uma atmosfera densa e carregada de pó, será que comigo poderia trazer o que mais quero, aquilo que mais desejo daqui?
será que para além das luzes e das sombras, uma tela conserva cheiros? será que cada movimento que capto com o canto do olho se transforma nas minhas memórias em notas olfativas, para que de certa forma te possa lembrar à noite, depois de todas as luzes apagadas?
entre sorrisos, a minha vitória aguardará no fundo de um copo de um vinho maduro, entornado à pressa por uma mão que procura o telemóvel ou que simplesmente se agarra a umas quantas teclas para poder viver um pouco de novo, entre sorrisos e fórmulas indeléveis, como indelevelmente o tempo se escapa por entre os meus dedos querendo eu agarrálo bem nunca o deixando partir para a terra das memórias, para a terra das promessas, para a terra, enfim, das vontades, aquelas mesmas que se partem em qualquer aresta real...
e entre sorrisos prometo, ou procuro promessas, que a distância que realmente nos separa é a desta noite e pode ser transposta por vontade, basta-lhe que os dedos se estendam à procura do que sempre quiseram e te procurem no meio daquela noite, basta-lhe que os sonhos sejam tão palpáveis quanto nós e tão vívidos como o vermelho das tuas unhas...
e ainda assim só conseguem ser tão discretos como os momentos em que me esqueço do que estou a fazer ali e me perco, por breves instantes, na única verdade que torna tudo o resto opaco e insosso
são discretos porque são como esta noite... quando o filme termina e a luz ilumina de novo, sabemos ambos que os nossos caminhos divergem, rumo a mundos distantes, cujas pontes sobrevivem apenas apoiadas na poeira que o raio de luz do projector consegue iluminar...

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