Friday, July 02, 2010

Lithium

A mão dele deslizava sobre as fotos com o mesmo desvelo com que folheava o álbum que a sua amiga lhe emprestara de véspera.

Either side is sacred......

Nas imagens que se sucediam apareciam sorrisos e apontamentos de festas, como decorações primaveris sobre buganvílias num solstício de Verão.
Os dias sucediam-se e o que deles ficava era aquela película colorida que ponteava o percurso, desdobrando as margens e abraçando o rio, éramos jovens então, e como agora, sobravam-nos as razões para fazer o que fazíamos mesmo que o resultado entre o hoje e o ontem seja tão diferente.
Éramos peixes, na margem do rio. E sonhávamos deter a corrente num cotovelo do curso. Éramos tão jovens então.
Éramos tão jovens como cadernos de poesia apontados na margem, éramos tão jovens quanto os lápis de carvão que metíamos à boca e mordiscávamos nos intervalos das aulas. Fazíamos poesia, e discutíamos filmes à saída do shopping e quando nos cansávamos simplesmente recolhiamo-nos aos nossos quartos adjacentes para discutir rapazes em sussurros e sorrisos nervosos.

As tuas sardas faziam-te parecer mais velha, e por isso ficava ao centro.
Em todas as fotos te encontro aí.
E nós à tua volta, gravitando, no centro do nosso universo, ou de mil universos, um para cada gesto, ou um para cada instante, um para cada primavera e um para cada caso.

No Natal trocávamos prendas antes de recolher a casa. Tudo nos parecia perfeito e de certa forma imutável. As pessoas de quem gostávamos permaneciam ali, ou sobreviviam dentro de nós por os querermos tanto.

E os nossos dias não se faziam de esperança mas de vontade.

cut off...

"a sorte de qualquer homem, já que não pode escolher onde nasce, é decidir onde morre"
verso em foto J

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