do me a favour
tenho frio
os momentos ficam mais escassos, como pessoas que se cruzam no mesmo vão de escadas porque habitam no mesmo prédio.
trocam um olhar rápido e um bom dia afável sem convidar a uma intimidade feita num qualquer banco de café, deixam aquele ponto a caminho doutro qualquer, traçando linhas num mapa sem verdadeiramente descobrir o x que assinala o tesouro
são as linhas que se sobrepõem a esta cidade, cruzando-se ocasionalmente nas suas ruas e detendo-se nos parapeitos a admirar o rio que passa mesmo no seu coração, são outras tantas linhas que inventam outras tantas fugas para longe daqui e em qualquer ponto da vida, opta-se por um mais do que por outro caminho de fuga sem perceber que é no emaranhado de linhas, e nos pontos de intersecção, que se desenha a complicada teia que nos aprisiona aos costumes e às memórias
hoje em dia, escolho, como já antes escolhi porventura outros, aquele caminho de fuga em detrimento de outro qualquer, sei para que lado vai e onde termina, apenas me falta a coragem para lhe apanhar o ponto de início com o qual desenrolaria o novelo...
sei para onde vai e o destino parece-me tão breve como um encontro no fim de umas escadas, numa antecâmara de uma saída (ou será de uma fuga?), num ponto que me afasta, e se não as desço antes é porque não quero apressar o momento do fim e disfarço a inevitabilidade atirando uma palavra repetida contra uma parede que apenas me sabe devolver um tremendo desconforto
estou rodeado de verde, de plástico, de canetas, cercado com estantes de papel, envidraçado em montra, estou preso e pronto a desfazer a pontapés o contraplacado que me separa da rua, e resisto à raiva repetindo incessantemente que o destino está tão perto e ainda assim tão longe como se estivesse do outro lado do mundo
e com raiva poderia desenhar outros caminhos, desenhá-los com o sangue que escaparia pelos cortes que faria ao deslizar nos intervalos entre sonho e realidade, desenhá-los com ou sobre a minha pele, substituir esta cidade pelo meu corpo e as suas artérias pelas minhas, mas persisto lentamente como se estas linhas não fossem cabos de aço mas sim teias e eu com demasiado medo para rasgar o véu que nos separa, e é com calma que pretendo estender os segundos para além dos seus limites, esticá-los de encontro às cordas para que me permitam fazer o que sonhei no dia anterior... mas o ponteiro devolve-me com um tremor a rápida transladação do ponteiro sobre o seu eixo, devorando uns instantes como os meus passos devoram escadas, rápidos para te encontrar quando acabarem os desníveis e com eles os obstáculos e com eles o tempo e com eles as linhas...
as mesmas linhas que os teus olhos derramam mostrando-me uma fuga, provando que existe um destino fora daqui, como um pormenor trágico de última hora que descubro mesmo antes de perder...
AP
os momentos ficam mais escassos, como pessoas que se cruzam no mesmo vão de escadas porque habitam no mesmo prédio.
trocam um olhar rápido e um bom dia afável sem convidar a uma intimidade feita num qualquer banco de café, deixam aquele ponto a caminho doutro qualquer, traçando linhas num mapa sem verdadeiramente descobrir o x que assinala o tesouro
são as linhas que se sobrepõem a esta cidade, cruzando-se ocasionalmente nas suas ruas e detendo-se nos parapeitos a admirar o rio que passa mesmo no seu coração, são outras tantas linhas que inventam outras tantas fugas para longe daqui e em qualquer ponto da vida, opta-se por um mais do que por outro caminho de fuga sem perceber que é no emaranhado de linhas, e nos pontos de intersecção, que se desenha a complicada teia que nos aprisiona aos costumes e às memórias
hoje em dia, escolho, como já antes escolhi porventura outros, aquele caminho de fuga em detrimento de outro qualquer, sei para que lado vai e onde termina, apenas me falta a coragem para lhe apanhar o ponto de início com o qual desenrolaria o novelo...
sei para onde vai e o destino parece-me tão breve como um encontro no fim de umas escadas, numa antecâmara de uma saída (ou será de uma fuga?), num ponto que me afasta, e se não as desço antes é porque não quero apressar o momento do fim e disfarço a inevitabilidade atirando uma palavra repetida contra uma parede que apenas me sabe devolver um tremendo desconforto
estou rodeado de verde, de plástico, de canetas, cercado com estantes de papel, envidraçado em montra, estou preso e pronto a desfazer a pontapés o contraplacado que me separa da rua, e resisto à raiva repetindo incessantemente que o destino está tão perto e ainda assim tão longe como se estivesse do outro lado do mundo
e com raiva poderia desenhar outros caminhos, desenhá-los com o sangue que escaparia pelos cortes que faria ao deslizar nos intervalos entre sonho e realidade, desenhá-los com ou sobre a minha pele, substituir esta cidade pelo meu corpo e as suas artérias pelas minhas, mas persisto lentamente como se estas linhas não fossem cabos de aço mas sim teias e eu com demasiado medo para rasgar o véu que nos separa, e é com calma que pretendo estender os segundos para além dos seus limites, esticá-los de encontro às cordas para que me permitam fazer o que sonhei no dia anterior... mas o ponteiro devolve-me com um tremor a rápida transladação do ponteiro sobre o seu eixo, devorando uns instantes como os meus passos devoram escadas, rápidos para te encontrar quando acabarem os desníveis e com eles os obstáculos e com eles o tempo e com eles as linhas...
as mesmas linhas que os teus olhos derramam mostrando-me uma fuga, provando que existe um destino fora daqui, como um pormenor trágico de última hora que descubro mesmo antes de perder...
AP