Fireflies & Empty Skies
... se nem naquela vez que te atravessaste no meu caminho a meio do corredor se repetiu o olhar...
ele, com a unha, vai raspando os cantos amarelecidos de um pedaço de fita cola que segurava um poster na parede do seu quarto, poderia, como sempre, traçar um caminho mais curto para o seu destino e de uma vez rasgar aquilo da parede, mas de certa forma apesar dos múltiplos caminhos para chegar ao mesmo resultado era aquela coreografia de gestos encenada como um ritual, o único que ele conhecia para por fim àquela ideia.
os pedaços rasgados poderiam sem desprimor nenhum forrar a parte do fundo do caixote de lixo daquela semana, e no entanto restava-lhe apenas nas mãos a paciência infinita de enrolar aquele pedaço de cartão num cilindro perfeito rematado com mais um pedaço de fita cola não muito adesiva
e não seria seguramente porque ainda tinha na sua mente uma secreta esperança de o voltar a desenrolar um dia para o fixar de novo a uma parede, ou melhor, a outra parede que não aquela, sabia que inevitavelmente para aquele pedaço de papel não existia mais nenhuma parede em nenhum lugar no mundo onde o pendurar.
são, como tal, rituais que perduram, como velas acesas num corredor escuro para iluminar o caminho sem revelar o destino final, são, portanto, cinzas que se esgotam enquanto a cera não acabar, são, no fundo, locais fora do sol.
e nessas trocas voluntárias, de coisas por promessas e de promessas por coisas, restam imagens, ou uma simples criança transida de medo na parte de trás de uma casa que sempre foi sua sem na sua memória haver espaço para recordar que naqueles corredores que agora lhe parecem tão escuros outrora existiu o seu sorriso tão cristalino como a luz do sol derramada através das vidraças polidas pelo tempo e por um pano velho mas impecavelmente limpo, existiam brincadeiras, existia espaço para imaginar que as paredes se estendiam para além do jardim e desenhavam um deserto, ou uma floresta escura, consoante a sua imaginação alternava entre um cowboy apostado em exterminar índios ou, por outro lado, um intrépido explorador que irá descobrir pela certa, no meio de umas ruínas há muito esquecidas pelo homem, um tesouro escondido.
vens, e como sempre dás a mão à criança e acalmas com o teu sorriso as sombras bruxuleantes que as velas projectam no chão, já não são os monstros que se escondem nas sombras mas mesmo que fossem, confiava na tua força para os derrotar, ou pelo menos, confiava que me darias a força para os vencer...de certa forma, agora que penso nisso, acho que a segunda hipótese é mais plausível, o maior presente que me davas não era a força por mim, mas a força para mim.
e de certa forma percebo ainda através do teu sorriso nervoso ou da tua planificação serena que era mesmo aquilo que procuravas... não te faziam falta os conselhos que eu poderia ter em abundância para te dar, nem um consentimento tácito para que avançasses, nesse aspecto eras como eu, recusavas-te a que outros passos percorressem o trilho que tinhas escolhido para ti, apenas querias, como eu, a certeza que avançava atrás de ti carregando a confiança que te faltava ou apenas aquele sorriso de orgulho que de vez em quando olhavas de relance sobre o ombro sem parar de caminhar, querias, como eu, que eu estivesse ali para te segurar se tu caísses, para te ajudar a levantar ou simplesmente te mimar enquanto mostravas o teu lado mais frágil, tu não querias, tu merecias simplesmente, e não estou sequer a dizer que sou eu, alguém para acreditar quando não conseguisses, alguém para aplaudir quando chegasses.
Não serei a peça que fica no canto e que dá origem ao ordenamento das outras, nem sequer posso ser (não me apetece!!!) a imagem que fica na caixa para te guiar, és tu que vais recortando as peças nos teus dias e que as vais dispondo da maneira a que faça sentido, e o jogo continuará comigo ou sem mim, sou apenas uma tesoura velha pousada no tampo da escrivaninha da casa da nossa infância, da qual nunca gastarás o fio a fazer dos teus dias destino.
...partes do encontro para parte incerta..levas-me contigo?
AP
ele, com a unha, vai raspando os cantos amarelecidos de um pedaço de fita cola que segurava um poster na parede do seu quarto, poderia, como sempre, traçar um caminho mais curto para o seu destino e de uma vez rasgar aquilo da parede, mas de certa forma apesar dos múltiplos caminhos para chegar ao mesmo resultado era aquela coreografia de gestos encenada como um ritual, o único que ele conhecia para por fim àquela ideia.
os pedaços rasgados poderiam sem desprimor nenhum forrar a parte do fundo do caixote de lixo daquela semana, e no entanto restava-lhe apenas nas mãos a paciência infinita de enrolar aquele pedaço de cartão num cilindro perfeito rematado com mais um pedaço de fita cola não muito adesiva
e não seria seguramente porque ainda tinha na sua mente uma secreta esperança de o voltar a desenrolar um dia para o fixar de novo a uma parede, ou melhor, a outra parede que não aquela, sabia que inevitavelmente para aquele pedaço de papel não existia mais nenhuma parede em nenhum lugar no mundo onde o pendurar.
são, como tal, rituais que perduram, como velas acesas num corredor escuro para iluminar o caminho sem revelar o destino final, são, portanto, cinzas que se esgotam enquanto a cera não acabar, são, no fundo, locais fora do sol.
e nessas trocas voluntárias, de coisas por promessas e de promessas por coisas, restam imagens, ou uma simples criança transida de medo na parte de trás de uma casa que sempre foi sua sem na sua memória haver espaço para recordar que naqueles corredores que agora lhe parecem tão escuros outrora existiu o seu sorriso tão cristalino como a luz do sol derramada através das vidraças polidas pelo tempo e por um pano velho mas impecavelmente limpo, existiam brincadeiras, existia espaço para imaginar que as paredes se estendiam para além do jardim e desenhavam um deserto, ou uma floresta escura, consoante a sua imaginação alternava entre um cowboy apostado em exterminar índios ou, por outro lado, um intrépido explorador que irá descobrir pela certa, no meio de umas ruínas há muito esquecidas pelo homem, um tesouro escondido.
vens, e como sempre dás a mão à criança e acalmas com o teu sorriso as sombras bruxuleantes que as velas projectam no chão, já não são os monstros que se escondem nas sombras mas mesmo que fossem, confiava na tua força para os derrotar, ou pelo menos, confiava que me darias a força para os vencer...de certa forma, agora que penso nisso, acho que a segunda hipótese é mais plausível, o maior presente que me davas não era a força por mim, mas a força para mim.
e de certa forma percebo ainda através do teu sorriso nervoso ou da tua planificação serena que era mesmo aquilo que procuravas... não te faziam falta os conselhos que eu poderia ter em abundância para te dar, nem um consentimento tácito para que avançasses, nesse aspecto eras como eu, recusavas-te a que outros passos percorressem o trilho que tinhas escolhido para ti, apenas querias, como eu, a certeza que avançava atrás de ti carregando a confiança que te faltava ou apenas aquele sorriso de orgulho que de vez em quando olhavas de relance sobre o ombro sem parar de caminhar, querias, como eu, que eu estivesse ali para te segurar se tu caísses, para te ajudar a levantar ou simplesmente te mimar enquanto mostravas o teu lado mais frágil, tu não querias, tu merecias simplesmente, e não estou sequer a dizer que sou eu, alguém para acreditar quando não conseguisses, alguém para aplaudir quando chegasses.
Não serei a peça que fica no canto e que dá origem ao ordenamento das outras, nem sequer posso ser (não me apetece!!!) a imagem que fica na caixa para te guiar, és tu que vais recortando as peças nos teus dias e que as vais dispondo da maneira a que faça sentido, e o jogo continuará comigo ou sem mim, sou apenas uma tesoura velha pousada no tampo da escrivaninha da casa da nossa infância, da qual nunca gastarás o fio a fazer dos teus dias destino.
...partes do encontro para parte incerta..levas-me contigo?
AP