Letra Morta
és como uma estrela encerrada num quadro
não se sabe porque estás ali, mas basta olhar para ti de relance para perceber que não é aquele o teu lugar
também não pertences ao espaço que fica entre o quadro e o seu olhar.
para isso reservas toda uma coreografia de gestos destinados a proteger o teu espaço daquela a quem querias convidar a entrar
e ainda assim ela entra, por entre frestas, como água derramada em 2 mãos formando uma concha
tenho saudades tuas, tão real como as duas forças contrárias que lutam dentro de mim contrariando a aposta, só me empenho em perder enquanto aposto todo o meu coração no lado oposto da batalha, e tu, não sei se por pressentir a luta que em mim decorre, deixas cair o teu olhar mesmo no meio da batalha, no ponto onde ela se torna mais grave, permitindo que o pêndulo que mede o meu estado de alma balance sem se inclinar definitivamente sobre as palavras que mais do que quaisquer outras teimam em sair em silêncio
não és tu que fazes as horas curtas, ou as sextas pontos de exclamação a mais outra semana perdida, sei apenas que se arrasto os pés à beira do rio quando te deixo é apenas porque grande parte de mim fica ali contigo e a essa parte não lhe digas para se ir embora, nem para desaparecer como um recurso, nem sequer lhe digas para desviar o olhar, diz-lhe apenas que o seu lugar não é ali, mas noutro espaço, num outro tempo ou até noutro corpo qualquer, mas não ali...
e enquanto chove e as palavras se misturam com a água descendo sobre o meu peito, interligadas e quentes, se quando passam na minha boca elas me sabem a sal e a terra, se elas ainda desprendem o teu perfume porque o guardaram daquele outro momento impossível em que atravessaste o meu mundo, se elas ainda existem e porque provam que ainda há esperança...
não esperança para mim, e muito menos para nós, esperança para poder sonhar e tornar a espera mais curta, ou a tua ausência possível, ou então outra coisa qualquer, mais não seja a prenda que embrulho com os pequenos pedaços que ainda sobraram de uma sensibilidade perdida, existe a esperança que em mim existam pequenos pedaços, e com eles a possibilidade de fazer qualquer coisa, mais não seja... mais não seja... mais não seja eu, por uma vez livre.
AP
não se sabe porque estás ali, mas basta olhar para ti de relance para perceber que não é aquele o teu lugar
também não pertences ao espaço que fica entre o quadro e o seu olhar.
para isso reservas toda uma coreografia de gestos destinados a proteger o teu espaço daquela a quem querias convidar a entrar
e ainda assim ela entra, por entre frestas, como água derramada em 2 mãos formando uma concha
tenho saudades tuas, tão real como as duas forças contrárias que lutam dentro de mim contrariando a aposta, só me empenho em perder enquanto aposto todo o meu coração no lado oposto da batalha, e tu, não sei se por pressentir a luta que em mim decorre, deixas cair o teu olhar mesmo no meio da batalha, no ponto onde ela se torna mais grave, permitindo que o pêndulo que mede o meu estado de alma balance sem se inclinar definitivamente sobre as palavras que mais do que quaisquer outras teimam em sair em silêncio
não és tu que fazes as horas curtas, ou as sextas pontos de exclamação a mais outra semana perdida, sei apenas que se arrasto os pés à beira do rio quando te deixo é apenas porque grande parte de mim fica ali contigo e a essa parte não lhe digas para se ir embora, nem para desaparecer como um recurso, nem sequer lhe digas para desviar o olhar, diz-lhe apenas que o seu lugar não é ali, mas noutro espaço, num outro tempo ou até noutro corpo qualquer, mas não ali...
e enquanto chove e as palavras se misturam com a água descendo sobre o meu peito, interligadas e quentes, se quando passam na minha boca elas me sabem a sal e a terra, se elas ainda desprendem o teu perfume porque o guardaram daquele outro momento impossível em que atravessaste o meu mundo, se elas ainda existem e porque provam que ainda há esperança...
não esperança para mim, e muito menos para nós, esperança para poder sonhar e tornar a espera mais curta, ou a tua ausência possível, ou então outra coisa qualquer, mais não seja a prenda que embrulho com os pequenos pedaços que ainda sobraram de uma sensibilidade perdida, existe a esperança que em mim existam pequenos pedaços, e com eles a possibilidade de fazer qualquer coisa, mais não seja... mais não seja... mais não seja eu, por uma vez livre.
AP