Monday, April 17, 2006

para a minha avó!...

...e então chegou o dia em que me ri...

E conheci por inteiro como é vã esta ânsia por ser, por ter, por querer, por erguer palácios de vaidades e orgulhos...
"be a simple kind of man/be something you can understand..." diz a minha música preferida (simpleman, Blind Zero)
É só isso que importa...
Quando a minha avó morreu vi como sorria quando me disse: "meu filho, já não vou melhorar" sorri por saber que não era pela vaidade que chorava, mas sim por todos os momentos partilhados, pelo sentido de humor do meu avô que a minha avó via em mim, pelos bifinhos que ela grelhava com amor quando havia peixe cozido, pelas palavras que ela me disse quando me despedi para ir para o Porto...
E agora que ela partiu vejo como as lágrimas que choro me sabem a sal porque sorrio, sorrio porque ela me ensinou a dar algo, que nenhuma morte apaga...
E sinto que lhe falho, a cada instante em que preferi o orgulho, o sucesso, o dinheiro, aquelas coisas tão simples, mas que dizem tanto de nós...
Odeio desiludir e se for verdadeiro...
Desiludi tanto a tanta gente, mas o pior foi quando me desiludi a mim mesmo e no processo desiludi o meu amor...
E essas são lágrimas que se choram sem sorrisos...
São lágrimas que sabem que se erra, para além do admissível... não está errado errar, está errado é não tentar... e perder a força como quem perde os dias em rotinas e processos...
Como quem levanta castelos e se esquece que são feitos no ar, porque em nada assentam excepto coisas vãs, como a vaidade, o orgulho, coisas que dependem do exterior, um exterior que é feio, imperfeito quando não o obrigamos a fazer sentido através daquilo que somos...
E no final de tudo, as ruinas que lá estavam eram as minhas para aproveitar as pedras para o que não importava e o que restava era uma pálida imagem de mim...
E o monstro que era...
E mais uma vez aparece a minah avó, materna, com um coração que explode de amor e tudo perdoa, tudo sabe, porque ama para além das razões...e quero voltar a esconder-me no seu avental como quando era puto, deixar que ela me enxugue as lágrimas e me diga como só ela dizia, estás perdoado!
Dir-lhe-ia eu sou um monstro avó, vê o que eu fiz, vê como errei, vê como neguei a justiça, o sentido, vê como sofri e fiz sofrer por ser assim, tenho vergonha, tanta vergonha...
E um coração que se abre como uma nascente, sei que não lava mas perdoa, e acredita, mais do que eu...
E me mostra de novo o sentido...
Como pude esquecer e deixar de ser eu?


P.S. - hoje comprei bilhetes para o superbock superock, obrigado avó!

2 Crossroads:

Anonymous Anonymous said...

és uma pessoa linda, linda como poucas q vi... tenho muitas saudades tuas.

é difícil tocarem-me tanto como tu fazes, com o q escreves. por isso dou-te graças. mais.

1:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

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»

11:27 AM  

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