Wednesday, September 08, 2010

1 rosa vermelha

Faziam um casal bonito.
Assim parados à porta do prédio, ela segurando uma flor vermelha por entre os dedos artríticos, ele amarfanhando o chapéu nas suas mãos nodosas que já conheceram muitos cabos de enxada.
Fazia-lhes bem aquela tentativa de se reencontrarem com o futuro, com as promessas de coisas boas que se entalam com carinho em lençóis e aquários de plástico rígido.
E logo à partida assustavam-na os sons e os cheiros, a superficialidade cientifica de quem adejava à volta dela, as vozes que a censurariam cansadas nos seus preconceitos. Mas ela não voltaria atrás.
Tinha um destino, como a rosa vermelha que segurava nas mãos, agora que a sua pele murchava e perdia a cor, havia um testemunho de vitalidade a passar a quem lhe herdaria as esperanças.

Chamem-na de velha e suspendam-na por fios, convençam-se que lhe dão um destino melhor do que a morte na vossa militância activa, descubram-lhe um outro fim, acusem-na de tudo, insultem os seus dias com lugares comuns, a vossa experiência é apenas lama onde não tem lugar um reflexo.

E descubram-na todos os dias no lugar que consideram vosso, quando por ela passarem, e no seu rosto reconhecerem algo vosso, algo que perderam, desejem para depois esquecer a mesma vida que ela tem.

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