Equalité
Eu não sei ser igual.
Falam de igualdade, igualdade no acesso a oportunidades, a condições, a projectos, à saúde, à justiça, a tantas outras coisas... No fundo falam sempre no mesmo, igualdade para ter e ser como o nosso semelhante.
Falam de igualdade e produzem a mesma amálgama de corpos, de mentes formatadas, de um cinzentismo social que cada vez mais se centraliza em ideias e convicções, numa zona parda de "encolhimento de ombros". O tempo das convicções extremadas, aquela por quais se matava e morria facilmente, ficou atrás, no século passado, num século que não deixa boas memórias. O seu legado é esta igualdade perversa, publicitada e absorvida com um enorme e ensaiado projecto de marketing.
As pessoas banais, com projectos banais, com anseios banais, com ideias banais, iguais entre si. Iguais na pronunciação da palavra querer, da palavra possuir, da palavra ter e conseguir, neste positivismo de coisas, de possessão, de consumismo selvagem.
Somos iguais, iguais nas ideias e anseios, nunca nas oportunidades. Iguais no que queremos, mas desiguais no caminho para lá chegar. Iguais no que pensamos, mas desiguais na nossa capacidade para as impormos na nossa vida.
Queres ser igual, igual quando olhas para o teu lado e vês exemplos de sucesso espalhados em tudo o que é cartaz publicitário ou outdoor, queres ter uma família igual à que aparece na tv a anunciar uma nova marca de detergentes, queres ser igual ao executivo de sucesso que casa com aquela supermulher fantástica que se desdobra entre um emprego de sucesso e 2 filhos perfeitinhos, queres ser igual porque se tiveres sorte um desses filhos vai contracenar com a floribela na SIC.
Não queres ser igual ao mendigo que te pede esmola, não queres que os teus filhos tenham a barriga enorme da fome que vês em África, não queres ter um emprego de merda 12h por dia, uma mulher ranhosa, 1 filho histérico e outro na droga.
Queres ser igual nas festas, queres ser igual nos copos, queres ser igual nos charros que partilhas, queres ser igual no sucesso, queres ser igual e gostar do que toda a gente gosta, fazer o que toda a gente faz, ter o que toda a gente tem (ou quer ter).
O homem igual é casado, tem 2 filhos e é executivo numa multinacional, em alternativa pode ser um empresário de sucesso. O homem igual tem um carro e um telemóvel de alta gama, um plasma na sala com 256 canais, uns sofás de pele, e uns cortinados estilizados, concerteza que terá um biblioteca e um escritório, uma garagem e 5 assoalhadas, as paredes pintadas com outra cor que não o branco e vai passar férias a Cuba e ao Brazil, em hotéis de 5 estrelas ou resorts privados.
A mulher igual é casada, tem 2 filhos e um emprego de sucesso com algum impacto social. A mulher igual tem uma empregada doméstica e tem filhos emocionalmente saudáveis apesar de se empenhar a fundo no trabalho graças ao trabalho de psicólogos e dos muitos livros de auto ajuda e psicanálise que leu. Tem um carro familiar com um design desportivo e decora a casa com a mestria de um decorador de interiores gay, tem as medidas perfeitas e roupas de marcas caras, 20 pares de sapatos e um estojo de maquilhagem.
Os filhos iguais são de ambos os sexos e independentes. Têm sucesso na escola, e são muito sociais, tem telemóveis melhores que os dos pais, e um carro aos 18. Vêem as séries conhecidas, e copiam os looks, saem à noite mas não bebem ou fumam cacetes, são mais cool do que isso. Participam e ganham castings, não estudam, não precisam, têm chave de casa, uma playstation de preferência portátil e um iPod, são tolerantes e progressistas, interventores sociais e ficam bem na capa de uma qualquer revista.
Igualdade de oportunidades? Não fica bem na caminhada para o sucesso.
Não me falem em interioridade, em pretos e brancos, na damaia, no bairro do cerco, em drogas, em prostitutas e casas de alterne. Não me incomodem com esforço, luta e sacrifício. Não me preocupem com emigrantes ilegais, brasileiros e ucranianos. Não mostrem os mendigos, os indigentes e os marginalizados, os gangues, os góticos nem os geeks.
Quem eu conheço, quem me conhece, onde estou ou o que faço, a minha conta bancária e os fundos europeus que compram BM's a agricultores de nova geração, quero ser locutor de rádio ou figurante na TV, quero os meus 15 minutos de fama bem pagos.
Eu não sei ser igual.
Por favor, deixam-me ser diferente?
Falam de igualdade, igualdade no acesso a oportunidades, a condições, a projectos, à saúde, à justiça, a tantas outras coisas... No fundo falam sempre no mesmo, igualdade para ter e ser como o nosso semelhante.
Falam de igualdade e produzem a mesma amálgama de corpos, de mentes formatadas, de um cinzentismo social que cada vez mais se centraliza em ideias e convicções, numa zona parda de "encolhimento de ombros". O tempo das convicções extremadas, aquela por quais se matava e morria facilmente, ficou atrás, no século passado, num século que não deixa boas memórias. O seu legado é esta igualdade perversa, publicitada e absorvida com um enorme e ensaiado projecto de marketing.
As pessoas banais, com projectos banais, com anseios banais, com ideias banais, iguais entre si. Iguais na pronunciação da palavra querer, da palavra possuir, da palavra ter e conseguir, neste positivismo de coisas, de possessão, de consumismo selvagem.
Somos iguais, iguais nas ideias e anseios, nunca nas oportunidades. Iguais no que queremos, mas desiguais no caminho para lá chegar. Iguais no que pensamos, mas desiguais na nossa capacidade para as impormos na nossa vida.
Queres ser igual, igual quando olhas para o teu lado e vês exemplos de sucesso espalhados em tudo o que é cartaz publicitário ou outdoor, queres ter uma família igual à que aparece na tv a anunciar uma nova marca de detergentes, queres ser igual ao executivo de sucesso que casa com aquela supermulher fantástica que se desdobra entre um emprego de sucesso e 2 filhos perfeitinhos, queres ser igual porque se tiveres sorte um desses filhos vai contracenar com a floribela na SIC.
Não queres ser igual ao mendigo que te pede esmola, não queres que os teus filhos tenham a barriga enorme da fome que vês em África, não queres ter um emprego de merda 12h por dia, uma mulher ranhosa, 1 filho histérico e outro na droga.
Queres ser igual nas festas, queres ser igual nos copos, queres ser igual nos charros que partilhas, queres ser igual no sucesso, queres ser igual e gostar do que toda a gente gosta, fazer o que toda a gente faz, ter o que toda a gente tem (ou quer ter).
O homem igual é casado, tem 2 filhos e é executivo numa multinacional, em alternativa pode ser um empresário de sucesso. O homem igual tem um carro e um telemóvel de alta gama, um plasma na sala com 256 canais, uns sofás de pele, e uns cortinados estilizados, concerteza que terá um biblioteca e um escritório, uma garagem e 5 assoalhadas, as paredes pintadas com outra cor que não o branco e vai passar férias a Cuba e ao Brazil, em hotéis de 5 estrelas ou resorts privados.
A mulher igual é casada, tem 2 filhos e um emprego de sucesso com algum impacto social. A mulher igual tem uma empregada doméstica e tem filhos emocionalmente saudáveis apesar de se empenhar a fundo no trabalho graças ao trabalho de psicólogos e dos muitos livros de auto ajuda e psicanálise que leu. Tem um carro familiar com um design desportivo e decora a casa com a mestria de um decorador de interiores gay, tem as medidas perfeitas e roupas de marcas caras, 20 pares de sapatos e um estojo de maquilhagem.
Os filhos iguais são de ambos os sexos e independentes. Têm sucesso na escola, e são muito sociais, tem telemóveis melhores que os dos pais, e um carro aos 18. Vêem as séries conhecidas, e copiam os looks, saem à noite mas não bebem ou fumam cacetes, são mais cool do que isso. Participam e ganham castings, não estudam, não precisam, têm chave de casa, uma playstation de preferência portátil e um iPod, são tolerantes e progressistas, interventores sociais e ficam bem na capa de uma qualquer revista.
Igualdade de oportunidades? Não fica bem na caminhada para o sucesso.
Não me falem em interioridade, em pretos e brancos, na damaia, no bairro do cerco, em drogas, em prostitutas e casas de alterne. Não me incomodem com esforço, luta e sacrifício. Não me preocupem com emigrantes ilegais, brasileiros e ucranianos. Não mostrem os mendigos, os indigentes e os marginalizados, os gangues, os góticos nem os geeks.
Quem eu conheço, quem me conhece, onde estou ou o que faço, a minha conta bancária e os fundos europeus que compram BM's a agricultores de nova geração, quero ser locutor de rádio ou figurante na TV, quero os meus 15 minutos de fama bem pagos.
Eu não sei ser igual.
Por favor, deixam-me ser diferente?