Liberté
Não sei ser livre.
Procurei ser livre toda a minha vida, impus essa obrigação por acreditar que esse seria um dos valores fundamentais da nossa humanidade. Livre para poder decidir, escolher e agir.
E o que é ser livre? Será apenas ter a capacidade de escolher, entre todas as opções possíveis, aquela que a nossa consciência ditar. Parece simples.
Mas saindo desse plano ideal que usamos para formatar a nossa mente e as nossas acções, o que a realidade nos ensina é inteiramente diferente. Em primeiro lugar muito raramente temos acesso a "todas as opções possíveis" quando muito temos acesso a uma ou duas, apenas porque não conseguimos ver para além das escolhas que não compreendemos (como é dito no "Matrix", uma reflexão futurista sobre a realidade e a liberdade) ou porque o mundo exterior se encarrega de subtilmente ocultar algumas das opções pelas quais podemos optar. Em segundo lugar o que é essa coisa de "consciência"? Não é uma coisa palpável, e como tal não pode ser pesada ou medida por um qualquer instrumento que aprove a sua eficácia ou pelo menos a sua utilidade como resolutória de problemas mais ou menos complexos. Carece de forma e no entanto é muitas vezes contida pelos limites mais ou menos definidos da nossa experiência pessoal, dos nossos valores e dos nossos medos.
O que associamos a essa ideia de liberdade, de livre arbítrio, é tão só uma ilusão, é tão só a desresponsabilização completa da nossa história, do nosso percurso.
Ninguém escolhe como se essa escolha fosse a primeira da sua vida, como se não carregasse em cada acto um conjunto de condições prévias, de condicionalismos mais ou menos percebidos.
Escrever seria um acto completamente livre, desprovido de qualquer limitação visto que agora vivemos numa sociedade teoricamente (?) democrática que consagra o direito à livre expressão. Mas quantas vezes sinto que cada linha que escrevo reflecte como um espelho muitas outras, muitas vezes contrárias, muitas vezes estranhas entre si, muitas vezes carregadas de um significado e significância que escapa à sua simples leitura. Quantas vezes escrevo a divagar, e sinto que é uma vida própria que anima este teclado ou uma qualquer caneta, que me afasta de um pensamento inicial livre (?) para outros que limitam, eliminam ou subvertem esse pensamento e o amarram a uma subserviência à minha própria experiência, às minhas histórias e emoções. Como se eu fosse múltiplo, e cada eu escravizasse o seu próprio, como uma pessoa escraviza a sua imagem no espelho.
A outra face desta realidade é segundo a minha perspectiva uma das principais doenças deste novo século. Não concebo a liberdade sem lhe associar um outro conceito: responsabilidade.
Escolher entre várias hipóteses supõe (???) que se conheçam (????) e aceitem as consequências dessa escolha. Não interessam "danos colaterais", o mero acto pessoal e intransmissível de escolher entre alternativas, mesmo que estas sejam todas elas más, exige sem qualquer dúvida que se aceite a responsabilidade por essa escolha, assim como de todas as consequências que possam estar associadas de uma forma mais ou menos explícita.
Quantas vezes vejo ao meu lado pessoas que utilizam a liberdade como uma moeda de troca que é valorizada e desvalorizada conforme o conforto pessoal. Uma liberdade com valor alto quando se trata de escolhas agradáveis, ou cujas consequências são previsivelmente favoráveis, e com valor baixo quando essa liberdade significa consequências ou trabalhos pouco agradáveis. Uma liberdade transaccionada num mercado de valor das consequências, que pode ser comprada e vendida barata conforme as conveniências de quem vende e compra.
Hoje em dia a liberdade é barata, custa pouco, é-se livre para ser feliz, para se optar por um caramelo ou por uma barra de chocolate, não se é livre para decidir entre partir e ficar, entre desistir ou lutar.
Tudo isso depende de "condicionalismos" exteriores.
Eu não sei ser livre.
Mas tento ser, ao máximo, responsável.
Procurei ser livre toda a minha vida, impus essa obrigação por acreditar que esse seria um dos valores fundamentais da nossa humanidade. Livre para poder decidir, escolher e agir.
E o que é ser livre? Será apenas ter a capacidade de escolher, entre todas as opções possíveis, aquela que a nossa consciência ditar. Parece simples.
Mas saindo desse plano ideal que usamos para formatar a nossa mente e as nossas acções, o que a realidade nos ensina é inteiramente diferente. Em primeiro lugar muito raramente temos acesso a "todas as opções possíveis" quando muito temos acesso a uma ou duas, apenas porque não conseguimos ver para além das escolhas que não compreendemos (como é dito no "Matrix", uma reflexão futurista sobre a realidade e a liberdade) ou porque o mundo exterior se encarrega de subtilmente ocultar algumas das opções pelas quais podemos optar. Em segundo lugar o que é essa coisa de "consciência"? Não é uma coisa palpável, e como tal não pode ser pesada ou medida por um qualquer instrumento que aprove a sua eficácia ou pelo menos a sua utilidade como resolutória de problemas mais ou menos complexos. Carece de forma e no entanto é muitas vezes contida pelos limites mais ou menos definidos da nossa experiência pessoal, dos nossos valores e dos nossos medos.
O que associamos a essa ideia de liberdade, de livre arbítrio, é tão só uma ilusão, é tão só a desresponsabilização completa da nossa história, do nosso percurso.
Ninguém escolhe como se essa escolha fosse a primeira da sua vida, como se não carregasse em cada acto um conjunto de condições prévias, de condicionalismos mais ou menos percebidos.
Escrever seria um acto completamente livre, desprovido de qualquer limitação visto que agora vivemos numa sociedade teoricamente (?) democrática que consagra o direito à livre expressão. Mas quantas vezes sinto que cada linha que escrevo reflecte como um espelho muitas outras, muitas vezes contrárias, muitas vezes estranhas entre si, muitas vezes carregadas de um significado e significância que escapa à sua simples leitura. Quantas vezes escrevo a divagar, e sinto que é uma vida própria que anima este teclado ou uma qualquer caneta, que me afasta de um pensamento inicial livre (?) para outros que limitam, eliminam ou subvertem esse pensamento e o amarram a uma subserviência à minha própria experiência, às minhas histórias e emoções. Como se eu fosse múltiplo, e cada eu escravizasse o seu próprio, como uma pessoa escraviza a sua imagem no espelho.
A outra face desta realidade é segundo a minha perspectiva uma das principais doenças deste novo século. Não concebo a liberdade sem lhe associar um outro conceito: responsabilidade.
Escolher entre várias hipóteses supõe (???) que se conheçam (????) e aceitem as consequências dessa escolha. Não interessam "danos colaterais", o mero acto pessoal e intransmissível de escolher entre alternativas, mesmo que estas sejam todas elas más, exige sem qualquer dúvida que se aceite a responsabilidade por essa escolha, assim como de todas as consequências que possam estar associadas de uma forma mais ou menos explícita.
Quantas vezes vejo ao meu lado pessoas que utilizam a liberdade como uma moeda de troca que é valorizada e desvalorizada conforme o conforto pessoal. Uma liberdade com valor alto quando se trata de escolhas agradáveis, ou cujas consequências são previsivelmente favoráveis, e com valor baixo quando essa liberdade significa consequências ou trabalhos pouco agradáveis. Uma liberdade transaccionada num mercado de valor das consequências, que pode ser comprada e vendida barata conforme as conveniências de quem vende e compra.
Hoje em dia a liberdade é barata, custa pouco, é-se livre para ser feliz, para se optar por um caramelo ou por uma barra de chocolate, não se é livre para decidir entre partir e ficar, entre desistir ou lutar.
Tudo isso depende de "condicionalismos" exteriores.
Eu não sei ser livre.
Mas tento ser, ao máximo, responsável.
Liberdade é podermos escolher. E é nessa escolha que reside o nosso egoísmo ou altruísmo. De nada nos vale a liberdade se as escolhas que fazemos com elas nos isolam.