Sunday, April 30, 2006

Re- Stament on retour

O meu regresso ao meu espaço tinha de ser em grande…

Re-Statement: the way é um espaço, o meu espaço, o meu mundo, o meu reflexo distorcido (talvez disforme) mas intimamente e exclusivamente meu, quem aqui entrar fá-lo por sua conta e risco, livre para pensar o que quiser, como livre é o the way…

Este post marca o fim de um ciclo curto (+/- 1 semana) simultaneamente é o início de outro ciclo mais prolongado que não sei quando terminará, provavelmente quando o último grão de areia cair desta ampulheta…

São 3 da manhã do dia 23 de Abril de 2006, entre outras trivialidades (o Porto ganhou hoje o campeonato 2005/2006) ao regressar da Póvoa de mais um jantar tive um flash quando passei em frente ao Hit (ok, não começa bem, mas quem é que disse que as grandes coisas têm de começar com eventos muito especiais?), esse flash continuou enquanto regressei ao porto e consumou-se quando dei por mim deitado no meu templo…
Acreditam naqueles momentos em que o véu que separa este mundo real e o etéreo se torna tão fino que quase podiamos rasgá-lo com a força da nossa imaginação?
Isso aconteceu neste dia… deitado na areia, o som do mar, e um céu tão límpido e sereno que parecia uma tela negra pontuada de luz… de repente esses pontos uniram-se lentamente, fundiram-se em imagens claras como o dia que pressagiavam, e eu vi pedaços de futuro a passarem lentamente como nuvens empurradas por um vento suave… vi com clareza momentos, mas talvez mais importante intuí sentimentos, descobri razões, passei em claro a banalidade das coisas para ver o sentido que cada gesto tinha, como se as ténues linhas que se formavam fossem caminhos suaves até conclusões irrefutáveis… Não sei se temos o destino traçado, e continuamos a iludir-nos com as escolhas que inevitavelmente nos conduzem ao lugar onde devemos estar, àquele lugar e não outro, onde tudo faz sentido, mesmo que não consigamos ver para além das razões que não entendemos, mas sei que é nestes momentos que se intui que de facto nous sommes les jouets du destin…
De repente todas as imagens desapareceram como um nevoeiro que se levanta, sob um luar azulado demasiado forte, procurei-as durante uns minutos, apenas para reter em mim aquelas linhas, que pareciam também impressas em mim… quantas vezes negamos o óbvio por não saber enfrentar o que intimamente sabemos e tememos? E as linhas que outrora se traçavam no plano do céu sobre mim, lentamente verticalizaram e cravaram-se em mim como pensamentos, palavras, acções…
A primeira lição que se aprende com a humildade, é que algures haverá sempre alguém melhor do que nós… a segunda lição, é que por muito válidas e fortes que sejam as tuas acções, nenhuma delas escapa ao que está impresso em ti, e se as achas especiais, como especiais eram os sentimentos que as motivavam, não te esqueças que como tu são banais, inconcretas, e sobretudo seriam reproduzidas, ou feitas em maior e melhor escala por qualquer um que as tentasse… a terceira lição, os sentimentos que possuis, são limitados a ti, primeiro porque por muito que voem não descolarão do teu mundo, agrilhoadas à tacanhez, pequenez e fealdade do teu ser, segundo porque nada mais são motivações pessoais e nunca tributos a alguém…a quarta lição, nada do que fazes importa, nada do que fazes é mais ou menos especial do que tu, e se especiais são as coisas que viveste não te esqueças apenas o foram para ti, pela intensidade, grandeza e mediocridade que em ti existe…a quinta lição, és tão só e simplesmente mais um ser humano, que passa, afecta e se esquece… a sexta lição, não existe cumprimento mútuo de sonhos pessoais, todos eles se destinam a desaparecer enterrados na areia do concreto, das provas que pretendemos evitar… a sétima lição, toda a gente merece ser feliz, com a felicidade equivalente aos seus méritos pessoais, aos seus erros, às suas omissões e considerações…a oitava lição, cada um traça o seu caminho e tende a considerar o real como adaptado aos sonhos que pretende ver cumpridos, mas na verdade o real é incerto, caprichoso, e tende a reunir em si os sonhos e as verdades de inúmeras pessoas, o resultado é um campo de combate, onde apenas os fortes sobrevivem, aqueles que mais acreditam, e eu não faço parte desse grupo, excepto pelo facto de ter possuído em tempos a ambição de lutar e convencer-me dos sonhos e caminhos que percorria para mais uma vez o real me provar que em mim (e no real) não existe ou existirá a força para os ver cumpridos… nona lição, vampirizo o mundo do que tem de melhor e aproprio-me dele para uso próprio como se fossem de facto meus os feitos que proclamo, quando na verdade reconheço que sou pessoa menor, que se resume a um acto estúpido e egoísta mas que mais não faz pela ataxia a que me acho votado, isto constitui um duplo golpe, primeiro porque essa estupidez e egoísmo afasta de mim o melhor do mundo e segundo porque o mundo percebe e elimina aqueles que nada dão e apenas retiram… décima lição, a humildade não é por si só um sucesso, mas apenas um caminho de interpretação que muitas vezes conduz à morte das vaidades, das falsas ilusões, e à sinceridade que destrói aquelas lentes distorcidas que o orgulho, a vaidade e as motivações erradas colocam à nossa frente e que caleidoscopizam o que é, na verdade, real.

Qualquer pessoa é insubstituível. Não tenho na minha curta experiência memória de duas pessoas tão idênticas que se pudessem mutuamente substituir de modo a cada um na sua vida não notar que um ou outro a viveria de igual modo. Por isso é que é tão difícil perder alguém, sobretudo quando esse alguém é tão especial para nós, nos compreende tão bem… Não encontro, ou encontrarei terapias de substituição para as pessoas querem passar na minha vida, não existem…

Não está na minha natureza desistir, não está na minha natureza conformar-me, não está na minha natureza vender os sonhos, a força o sentido, pela magia fácil e ilusória da evolução… Não quero crescer, ser maduro, ser muito à frente se quando olho os meus olhos perdidos no espelho e não consigo ver a verdade em mim, não quero perder esta chama, esta força, eu não vou ser metade de mim!
C’est le destin… programado desde a mais tenra idade, desde o mais precoce sentido, conheci-te e encontrei-te para além do tempo e dos lugares comuns, estar contigo era sempre um reencontro, e cada partida era sempre um até já… nada no mundo nega o que penso, nada em ti me desengana de ser… a minha programação é esta e está lá, eu não me venço, não me vendo, não me troco, não me esqueço, não me conformo, não cresço, não choro, não me perco… e não posso deixar de te amar.

“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exlui
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
Ricardo Reis

A minha natureza é ser sincero, ser integro, ser inteiro… este é o caminho, este é o verdadeiro The Way… por muito que o mundo contrarie as nossas escolhas e opções, por muito que isso seja mau, nada é pior do que deixar de sonhar, perder a chama, e sobretudo perder a integridade de saber que colocamos em cada acção e em cada palavra a força, a história e o sentido que nos definem… já lá estive sei como é mesmo mau…
Vou olhar no espelho e saber que me reconheço, sei que não vai ser o mundo lá fora a ditar o que sou, o que penso e o que sinto, não estou à venda ou me troco por realizações fátuas e confortos da alma, vivo para a verdade em mim e mais importante sei o que sou, sei qual é essa verdade em mim.


O meu sonho: os meus avós viveram casados 52 anos. Quando comecei a conhecê-los no ocaso da sua vida encontrei neles lições que perduram por toda a vida. Da minha avó aprendi a amar incondicionalmente, a ter um coração maior do que a alma, a ter um coração que todos podiam reclamar como inteiramente seu sem no entanto nenhum o possuir, aprendi a sorrir de dentro, aprendi a dar, aprendi a desculpar, aprendi que o amor é assim um grande avental onde podemos encostar a cabeça e chorar, onde cabem todas as culpas, todas as tristezas, sem nunca diminuir de intensidade, sem nunca vacilar. Do meu avô aprendi a sorrir com prazer, aprendi a força, aprendi a teimosia, aprendi a lutar, aprendi o sentido de humor, aprendi a sabedoria aquela que não se encontra nos livros mas que nasce aqui de dentro e explica o mundo. De ambos aprendi o que era o amor, ok ok, a minha avó dizia que o meu avô era um rezingão, o meu avô dizia que a minha avó era uma fresquiteira, mas eu vi o brilho nos olhos de ambos quando regressado de um dos seus passeios o meu avô desencantou um raminho de flores que foi colhendo para lhe oferecer, eles ensinaram-me que o amor é um sítio onde nem sempre é primavera, onde as pessoas têm defeitos, onde os erros acontecem, mas que também é um sítio, ou melhor um mundo, composto de força e sentido, onde o conhecimento se usa para intuir, compreender, onde lutar cada dia é o mais importante, onde sonhar é ser livre, onde a rotina não tem lugar, onde as desculpas acontecem naturalmente sem o peso da culpa toldar a visão e desviar o olhar, onde a felicidade acontece através da felicidade do outro, onde dar é aumentar o que se tem, onde se gosta dos defeitos das coisas estranhas e bizarras e que são essas coisas estranhamente que em cada dia nos motivam para amar ainda mais, lutar, persistir. Eu aprendi, não me quero esquecer, e sobretudo quero viver, viver para sentir que um bocadinho deles vive em mim e superou a sua morte, quero amar assim. E cada beijo meu vai ter o sentido que encontrei naquele beijo ternurento que o meu avô deu à minha avó quando a foi visitar ao hospital, o meu olhar vai ter aquele brilho, a minha luta diária vai ser como a deles, os meus sonhos não vão soçobrar ao medo, só assim serei eu…


O ciclo está quase a terminar… numa explosão de força e energia, fogos de artificio da alma, sei lá… quando o estrilho passa uma ideia permanece… parece que tudo o que vivi nesta semana me aponta o sentido e a verdade, é engraçado como o mundo nos prova que mesmo caprichoso há algo de extremamente linear na sua acção… e se talvez reduzíssemos à simplicidade inicial tudo o que existe em nós, se conseguíssemos por uma vez ser simples e directos, perder o medo de arriscar, perder o orgulho, o artificio, a vaidade o caminho abre-se naturalmente, e de novo faz sentido…
Preferimos antes as rotinas que nos amparam os receios e a ataxia, preferimos ser grandes e maduros, muito à frente nos nossos desígnios… onde está o sorriso que alimenta o sonho? Perdido numa noite de Verão? Nada se ensina, tudo se aprende…

…deixa que a palavra amadureça
e se desprenda
ao passar o vento que a mereça!

Um novo ciclo inicia-se formalmente amanhã pegando em resquícios de actos passados, na verdade nada se inicia, antes parece prolongar-se em mim, marcas indeléveis do meu carácter que me definem e enquadram o real…
Um ciclo que só fará sentido através de um modo que talvez nunca chegará, a minha coragem chega apenas à acção nunca à intenção concreta de deixar concluir um projecto que apenas fará sentido se for de facto concluído.
Ciclo/projecto/momentos: simpleman, casa (vem fazer de conta), quero…, Mondego, preto e branco, cor, formiga flor, sucesso, partilha, praia, caixa, noite, rede de pesca, liberdade.

1 Crossroads:

Blogger astolfo said...

agora q as minis ja estão longe de fazer efeito, uma só palavra: fantástico...abxo

8:41 PM  

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