Friday, February 09, 2007

Geração Rasca

Pertenço, já aqui o disse, com orgulho, à geração rasca.
Mas onde estamos hoje?
Olho para esta geração, conto os seus dias, aprendo as suas dúvidas e assalta-me este medo de não sermos um passo para a frente, mas o assumir de um egocentrismo cada vez mais autista que mais do que sentido é imposto.
Em geral, vejo esta geração como perdida, entre os dilemas de um curso superior que a melhoria económica fez obrigatório e um país de amadorismo em que mais do que ser inteligente, conta ser desenrascado.
Não nos libertamos do jugo fascista de salazar, a geração dos nossos pais, maioritariamente saída de um Portugal profundo, via Coimbra e os seus doutores, como garantia de sucesso, emprego fácil e remuneração satisfatória. Por isso trabalhava e enviou os seus filhos para as capitais de distrito, não se importando com o curso tirado mas com a certeza de um canudo final.
Pensava-se que a comunidade europeia que entrava a rodos neste país, maioritariamente sob a forma de subsídios, nos abriria as mentes, se o não conseguiria com os nossos pais, seguramente o faria com os seus filhos. Mentira. Entrados nesse mundo académico, e armados de um espírito retro, resgataram os trajes e preceitos de outros séculos, de capa e batina, distinguindo-se ou querendo distinguir-se da turba por ordem sociais intrincadas, que fizeram das faculdades um sistema de castas regido por festas, álcool, drogas, sexo e facilidades.
Estudantes que cresceram num país governado por incompetentes, que prescindiram da qualidade para estabelecer um sistema de ensino que produzisse aprovados em sintonia com médias europeias, e que no final descobriram que anos e anos de "passar para não dar muita papelada a preencher" era um mundo de Oz que nada tinha a ver com o que se passaria depois.
As faculdades encheram-se destes filhos dos nossos pais, aos milhares, entrando como os melhores da europa em medicina e os piores da europa em geografia.
Agora que já saíram, ou começam a sair, descobrem um país que vai pagando o desgoverno de sucessivos governos, que se vai degenerando e endividando, sem um qualquer propósito final. O melhor, está guardado para o fim, descobrem que este país dispensa canudos por falta de trabalhadores ou pelo seu excesso, descobrem que as empresas preferem produzir sapatos a computadores, descobrem que o mérito vale menos que os amigos do teu pai.
Descobrem no fundo, que este país continua a ser de faz de conta, onde o que deveria ser feito não o é, antes se remedeia com um genérico de má fama, antes se remedeia com um jeitoso, que faz as coisas em cima do joelho mas que até leva mais barato.´
A Geração Rasca trabalha numa caixa de supermercado, quando não o acham demasiado qualificado para esse trabalho, e então fica desempregado. Ou então, descobre que a responsabilidade e o saber fazer que lhe provém de 4 ou 5 anos perdidos é paga com o ordenado mínimo ou pouco mais, olhando para os seus colegas "em profissões menos qualificadas" ganhando o dobro ou o triplo pelo menos desde os 16 anos, quando deixaram o 7º ano por adivinharem que alí não havia futuro.
A Geração Rasca, desespera, quem tem cabeça sai daqui mesmo que o engenheiro lhes prometa que está em curso uma maravilha económica da qual ninguém se apercebe. A Geração Rasca, é gente desalinhada, que já não acredita no futuro, porque lho roubaram. A Geração Rasca, são as vitimas de um amanhã, que não previram ou prepararam, deslumbrados por um mundo que se mostra impiedoso com o facilitismo social.

Depois de mais uma apreensão de material contrafeito, numa dessas feiras de Portugal, gracejava com um colega, por este ser um país de contrafacção. Dizia-me ele, que o futuro de Portugal estaría aí, a nossa codificação genética que nos torna ases do desenrancanço, faria com que nós fossemos pioneiros na introdução de uma contrafacção geral. Contrafacção de roupa, ténis, perfumes, comida... e porquê parar por aí? Portugal vai conseguir que os seus habitantes, bebam água contrafeita, uma espécie de água que não é bem água mas outra coisa qualquer, tipo retiraram-lhe um átomo de hidrogénio ou assim...

Boas novidades a todos, já chegamos aí, vivemos sim, num país contrafeito.

2 Crossroads:

Anonymous Anonymous said...

Pois é caro amigo o futuro será mesmo lá fora... Se calhar vai começar uma nova era de emigração como aconteceu com os nossos pais, quem sabe... O mais certo é mesmo acontecer.

6:17 PM  
Blogger astolfo said...

oh quem me dera que nao estivesses certo...

abxo

11:37 PM  

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